O Benfica tem apenas dez por cento de possibilidades de passar a eliminatória da Liga Europa frente ao Arsenal, na próxima quinta-feira, mas «tudo pode acontecer», contou à agência Lusa o antigo jogador dos encarnados Isaías.

Herói na histórica vitória frente aos ingleses, com três golos na segunda eliminatória da Liga dos Campeões de 1991/92 (1-1 em Lisboa e 3-1 em Londres), o brasileiro lembrou que «futebol é muito imprevisível» e considerou que, face à prestação dos encarnados nesta época, os jogadores terão de «encontrar motivação» para «transformar esses dez por cento em realidade».

«Infelizmente, tenho de ser sincero. Seria bom para o Benfica conseguir passar a eliminatória, mas vejo aí dez por cento de possibilidades. Pode vir a acontecer, mas acho muito improvável, muito difícil, até porque se no campeonato nacional está a 11 pontos do primeiro, imagine numa competição a nível de Europa», disparou o antigo avançado.

A classificação abaixo das expectativas no campeonato, de resto, «pode e tem de dar» uma motivação extra aos jogadores no encontro europeu. «Eles têm de buscar argumentos para dignificar a camisola, porque esta época tem sido só vexames, como os quatro anos desta direção têm sido, e o clube não pode continuar assim. Têm de encontrar essa motivação, porque só eles é que podem resolver essa questão do Benfica e é uma oportunidade muito boa», assinalou o apoiante do candidato João Noronha Lopes nas últimas eleições presidenciais do clube.

Desafiado a «viajar» até 1991 e a recordar os dois jogos que valeram ao Benfica o apuramento para uma fase de grupos com apenas oito equipas, naquele que foi o primeiro esboço do atual formato da Liga dos Campeões, Isaías descreve os lances dos golos na ponta da língua.

«Na Luz, foi uma bola em que eu me posicionei no centro do campo, fiz a movimentação, o [Stefan] Schwarz passou para mim, depois entrei na área e fiz o golo de pé esquerdo», começou por relatar.

Depois, o primeiro golo em Londres «foi uma bola que o Neno rolou para o Veloso, este deu um chuto para a frente e o Yuran ganhou de cabeça, assim em diagonal, pelo lado esquerdo». «Eu estava a entrar na área e consegui acertar um belo chuto, também de esquerda, e fiz o golo», prosseguiu.

Isaías também se recorda bem do 3-1 final: «O segundo golo, que foi o nosso terceiro [em Londres], foi uma bola que o César Brito recebeu pela direita, atrasou ao Jonas Thern, ele tocou para mim no meio e, depois, eu fiz a criatividade, passei pelo adversário e fiz o golo de pé direito», concluiu Isaías.

Confrontado pela Lusa com a excelente memória, o brasileiro naturalizado português confessou que recorda «porque hoje está tudo no Youtube», o que é bom «para os mais novos», que «ouvem os avós e os pais falar», terem a possibilidade de «confirmar isso na TV», mas recordou também um outro episódio, que não está naquela rede social de vídeos na Internet.

«Quando estávamos a regressar, no aeroporto [de Londres], a guarda da rainha não queria deixar-me vir embora. Disseram: Não, você vai ficar aqui, porque você destruiu o Arsenal, na brincadeira. Depois, houve a receção dos adeptos, no aeroporto [de Lisboa], quando chegámos, às 04:00, estavam bastantes adeptos», descreveu.

Episódios que não se devem repetir, até porque nenhum dos clubes irá disputar a eliminatória na sua cidade e nem tão pouco no seu estádio habitual, devido às restrições de viagens resultantes das medidas de combate à covid-19.

O Benfica recebe o Arsenal na quinta-feira, no Estádio Olímpico de Roma, em partida da primeira mão dos 16 avos de final, com início marcado para as 20h00 (em Lisboa). Uma semana depois, em 25 de fevereiro, o Arsenal recebe o Benfica no Estádio Georgios Karaiskakis, em Atenas, na partida da segunda mão, agendada para as 17:55.

«Nesse critério, vão ficar 50/50, porque, se não há público, não há torcedores nem de um nem de outro, então nenhum é favorecido. Vão entrar todos com 11 dentro de campo e vai ficar 50/50. Mas só digo que vai ser diferente porque o Arsenal está num patamar completamente diferente do Benfica a nível nacional», frisou ainda o «profeta».