Uma jornada louca de Liga dos Campeões a servir de inspiração ao Sporting, assume Jorge Jesus, que volta a procurar colocar o foco em campo depois da semana turbulenta que se seguiu à derrota na primeira mão com o At. Madrid. É um 0-2 que pesa mas não impede o «leão» de se agarrar à esperança, motivado pela volta que a Roma deu ao Barcelona, um dia antes de a Juventus ter estado muito perto de virar um 0-3 em casa do Real Madrid. O «leão» também pode ir à sua história procurar exemplos que alimentem o sonho, ainda que as probabilidades estejam contra si, numa Liga Europa que é de ano para ano mais forte.

A retirada formal dos processos disciplinares aos jogadores anunciados por Bruno de Carvalho no meio do conflito aberto na ressaca do jogo de Madrid, desanuvia o cenário em Alvalade e recentra o foco, para uma reta final de época ainda com muito em jogo para o Sporting.

Para já o At. Madrid, do alto de uma vantagem que os espanhóis nunca desperdiçaram – passaram todas as eliminatórias em que venceram a primeira mão em casa por 2-0. Os «leões» apenas por uma vez anularam uma desvantagem de 2-0, há mais de 50 anos - na campanha até à vitória na Taça das Taças de 1964, que traz aliás a outra grande recordação de «remontada» europeia do Sporting.

Esse 0-2 foi em casa da Atalanta e na segunda mão o Sporting venceu por 3-1. Ainda não valia a regra do golo fora - se valesse teriam passado os italianos - e foi a terceiro jogo, com nova vitória dos «leões» por 3-1. Depois de passar o APOEL na segunda ronda com a goleada recorde de 16-1, o Sporting conseguiu a reviravolta que ficou para a história frente ao Manchester United, nos quartos de final: perdeu por 4-1 em Inglaterra e venceu por 5-0 em Alvalade. Outros tempos, de que nem Jorge Jesus tem memória.

Sem poder contar com Bas Dost ou Coentrão, castigados, com William indisponível e Piccini em dúvidas, o Sporting tem pela frente em Alvalade, nesta quinta-feira, um desafio tremendo, para alcançar a presença nas meias-finais de uma competição que está a tornar-se cada vez mais exclusiva.

Na primeira metade da década, nos primeiros anos de Liga Europa, os clubes portugueses conseguiram marcar a competição. Houve a vitória do FC Porto em 2010/11 na final portuguesa com o Sp. Braga e depois de uma meia-final com três equipas lusas – os arsenalistas eliminaram o Benfica, houve o Sporting nas meias-finais em 2011/12 e o Benfica em duas finais consecutivas, 2013 e 2014, perdidas para Chelsea e Sevilha.

Da Champions para a Liga Europa, o clube de elite que se acentua

Não voltou a acontecer. Seguindo o exemplo da Liga dos Campeões, a Liga Europa está também a fechar horizontes para clubes de fora dos grandes campeonatos. Não tem a mesma exclusividade da prova-raínha, é certo, onde desde 2005 as meias-finais têm sido reservadas exclusivamente a clubes das chamadas Big-5. O último foi o PSV Eindhoven, um ano depois da vitória do FC Porto numa final com o Mónaco que hoje já parece irrepetível. Uma tendência que só terá tendência para sair reforçada com o novo formato da Liga dos Campeões, a partir da próxima época, com os quatro classificados de cada uma das quatro primeiras ligas do «ranking» a garantirem entrada direta na fase de grupos.

Na Liga Europa o FC Porto foi também a última equipa fora das grandes Ligas a vencer. Seguiram-se At. Madrid, Chelsea, o tri do Sevilha e na última época o Manchester United. Em cada uma das últimas quatro edições da Liga Europa só chegou às meias-finais uma equipa exterior às grandes Ligas: o Benfica em 2014, o Dnipro em 2015, o Shakhtar Donetsk em 2016 e o Ajax na época passada, o único a chegar neste período à final, perdida para o Manchester United.

Os «red devils» são o exemplo perfeito de como a Liga Europa ganhou outra capacidade de atração para os grandes. Sobretudo a partir de 2015/16, quando passou a garantir entrada na Liga dos Campeões ao vencedor. O Sevilha beneficiou disso em duas épocas seguidas e José Mourinho também assumiu claramente essa aposta para encontrar o caminho para os milhões da Champions, depois de terminar em sexto lugar na Premier League.

Com os quartos de final a meio, esta época de Liga Europa está encaminhada para reforçar a tendência. At. Madrid, Arsenal e Lazio estão em vantagem na eliminatória, frente a Sporting (2-0 na primeira mão), CSKA Moscovo (4-1) e Salzburgo (4-2), respetivamente. Mais equilibrado o quarto duelo, entre RB Leipzig e Marselha, depois de os alemães terem vencido a primeira mão por 2-0. Mas, como a Roma se encarregou de recordar esta semana, isto ainda é futebol.