O Benfica entra em campo nesta quinta-feira frente ao Dínamo Zagreb a precisar de dar a volta à eliminatória de Liga Europa e vindo de dois jogos seguidos sem ganhar pela primeira vez desde a chegada de Bruno Lage. Portanto, a precisar de uma dupla reação para evitar cair pela primeira vez nesta fase da Liga Europa. E a ter de dar a volta a um resultado que inverteu em menos de metade das ocasiões. Vai enfrentar um Dínamo muito motivado, diz quem conhece a equipa croata e também conhece bem muitos dos jogadores que estão a afirmar-se no Benfica.

João Escoval fez toda a formação no Seixal, chegou à equipa B e saiu em 2017 para representar o NK Istra, no âmbito da transferência de Mato Milos para a Luz. Logo em janeiro de 2018 mudou-se para o Rijeka, atual segundo classificado do campeonato. O único português a jogar na Liga croata tem 21 anos, é da geração de Rúben Dias e Ferro e, também ele defesa-central, cresceu ao lado de ambos.

É a partir da Croácia que fala com o Maisfutebol e dá conta do ambiente em torno do Dínamo Zagreb depois da vitória sobre o Benfica na primeira mão, por 1-0. «Antes do jogo já estava um ambiente de grande euforia com a campanha europeia do Dínamo», conta. «Depois as pessoas ainda ficaram mais eufóricas, os fãs do Dínamo estão muito entusiasmados e muito confiantes. No Dínamo estão otimistas e acham-se capazes de passar a eliminatória.»

Não é caso para menos, para um clube que recuperou na época passada o histórico domínio doméstico mas está nesta época a ir mais longe na Europa do que a maioria dos adeptos consegue recordar: em 1967 venceu a Taça das Feiras, em 1970 chegou aos quartos de final da Taça das Taças mas esta foi a primeira vez que passou uma fase de grupos e já conseguiu um resultado notável nos 16 avos de final, ao virar a eliminatória com o Viktoria Plzen de 1-2 para 3-0. Seguir em frente seria, como diz o treinador Nenad Bjelica, «um grande feito para o futebol croata».

O Dínamo defrontou precisamente o Rijeka no fim de semana passado. Começou a perder mas venceu por 3-1, num jogo em que João Escoval esteve de fora por lesão. «Nós também temos alguns jogadores lesionados. Entrámos a ganhar, mas o Dínamo acabou por dar a volta», observa o defesa português, notando que o Dínamo fez rotação quase absoluta da equipa, o que não é novo. Com 17 pontos de avanço no campeonato, a equipa de Nenad Bjelica tem margem de manobra para o fazer, reforçando a aposta na Liga Europa: «Eles trocaram a equipa totalmente. Têm gerido assim, começaram muito bem o campeonato e têm uma grande vantagem, portanto têm podido fazer isso.»

Para a decisão da Luz, Escoval diz que o Benfica continua a ter argumentos para levar a melhor, mas lembra que o Dínamo está numa posição que lhe é confortável: «Já tinha dito antes da primeira mão que o Dínamo a defender está confortável, não é uma equipa com uma ideia de estar sempre a atacar e vem para a Luz com essa mentalidade. Vão tentar defender como equipa. Vão tentar aproveitar quando puderem para sair para o contra-ataque e têm extremos muito rápidos, que vão tentar aparecer nessa altura. Acho que o Benfica continua a ter hipóteses, continuo a achar que pode passar. Mas nunca será um jogo fácil», prossegue.

O Benfica, que está de volta à Liga Europa ao fim de cinco anos, pela primeira vez depois da final perdida em 2014, passou esta fase nas quatro edições da competição em que participou. Chega aqui a ter de vencer na Luz, algo que conseguiu em apenas dois dos seis jogos europeus que fez em casa nesta temporada.

O histórico cinzento de reviravoltas e o peso que terão os últimos resultados

O histórico «encarnado» em eliminatórias europeias que começou em desvantagem não é positivo: conseguiu levar a melhor num terço das ocasiões, um registo que melhora um pouco partindo de uma derrota por 1-0: aí deu a volta por cinco vezes em 12 ocasiões. A última reviravolta bem sucedida aconteceu em 2012/13, frente ao Fenerbahçe na caminhada até à final da Liga Europa, depois disso caiu nos quartos de final da Liga dos Campeões frente ao Bayern Munique em 2015/16, com um empate a dois golos na Luz.

Agora chega à decisão vindo de dois resultados menos positivos, a derrota em Zagreb e o empate na Luz com o Belenenses. Bruno Lage diz que a equipa está preparada para dar a volta, num jogo em que recupera Fejsa após longa ausência por lesão e também Gabriel, que cumpriu castigo frente ao Belenenses.

João Escoval também não acredita que os resultados dos dois últimos jogos afetem a equipa nesta quinta-feira. O momento até pode servir de motivação adicional, acredita: «Acho que pelo contrário, pode ser uma motivação maior para voltar às vitórias. Acho que isso não irá afetar a equipa de uma forma negativa.»

«O Rúben Dias não se vai deixar afetar»

O defesa português confia na maturidade de jogadores que conhece bem. «Joguei com todos eles. Com o Rúben e o Ferro muitos anos, com o João Félix e o Florentino só no ano em que estivemos na equipa B», recorda. E acredita que essa juventude não será um fator condicionante na decisão de uma eliminatória europeia como a desta quinta-feira: «O Benfica tem uma equipa com um misto de experiência e juventude, os jogadores mais velhos passam sempre essa experiência. Acaba por não ter assim tanto peso a idade dos jogadores.»

Também é com conhecimento de causa que fala sobre o caso particular de Rúben Dias, que vem de dois momentos comprometedores nos últimos dois jogos: o penálti sobre Dani Olmo que resultou no golo do Dínamo Zagreb e o atraso falhado na origem do empate do Belenenses na Luz. Também ele defesa-central, João Escoval diz que é uma posição de risco e acredita que o ex-companheiro não vai deixar-se afetar pelos erros: «É uma posição, tal como a do guarda-redes, em que se se comete um pequeno erro, pode dar golo. O Rúben tem uma mentalidade muito forte, não se vai deixar afetar por isso. Estou confiante nisso, pela forma como o conheço.»

A aposta do Benfica nos jogadores da formação, reforçada desde a chegada de Bruno Lage, é de resto um orgulho para quem por lá passou, diz o defesa português. «Estou muito contente, muito feliz por eles. É o sonho de qualquer jogador na formação do Benfica, chegar onde eles chegaram.»

É sem mágoa que fala disso, ele que não chegou a ter uma oportunidade na equipa principal do Benfica. «Não penso nisso. Estou bem aqui», diz: «Acho que cada um tem o seu lugar no futebol, estou muito feliz aqui. Daqui para a frente o meu objetivo é continuar a evoluir. Depois logo se vê.»