No espaço de três semanas, o português José Boto, «chief scout» do Shakhtar Donetsk, vai ser espectador atento de dois jogos especiais: primeiro o duelo entre as seleções de Portugal e da Ucrânia, país onde agora vive, e depois o confronto entre o Benfica, clube onde trabalhou onze anos, e o Eintracht Frankfurt, clube que eliminou precisamente o Shakhtar na Liga Europa, mas onde tem também muitos amigos.

«Tenho uma relação de amizade muito forte com o Fredi [Bobic, antigo internacional alemão e diretor desportivo do Eintracht], e em especial com o diretor de scouting, o Ben Manga. Para terem uma noção da amizade que nos une, quando vem a Portugal fica em minha casa, mesmo quando vem em trabalho, e o oposto também», explica Boto, em conversa com o Maisfutebol, antes de recordar a eliminatória entre o Shakhtar e a formação alemã (2-2 na Ucrânia e 4-1 na Alemanha).

Abraço entre José Boto e Ben Manga antes do duelo da Liga Europa

«Foi uma eliminatória muito dura para nós. Para além da valia do Eintracht, ainda jogámos a primeira mão em inferioridade numérica durante 80 minutos [expulsão de Stepanenko]. E preparámos essa eliminatória após dois meses de interregno do campeonato, o que nos condicionou muito. O campeonato só voltou depois», lamenta.

José Boto diz que Benfica e Eintracht têm «duas das massas adeptas mais espetaculares da Europa», e classifica a equipa orientada por Adi Hütter como «muito forte». «Não é por acaso que tem um trajeto na Liga Europa sem derrotas, e está em quinto lugar na Bundesliga, a um ponto da Liga dos Campeões», começa por assinalar.

«É uma equipa muito forte nas transições. Muito física, que muitas vezes se sente confortável sem bola, mas que é letal. Quando chega ao último terço os avançados não precisam de muitas oportunidades», especifica.

Uma das “armas” do Eintracht Frankfurt é Luka Jovic, avançado sérvio emprestado precisamente pelo Benfica, que o contratou ainda com José Boto a liderar a prospeção.

«Fico feliz, pois o Benfica vai ter retorno financeiro e porque o Luka está a mostrar todo o potencial que vimos nele», afirma.

José Boto ainda não sabe se consegue assistir a algum dos jogos entre Benfica e Eintracht, por causa dos compromissos do Shakhtar, mas já nesta sexta-feira vai voltar ao Estádio da Luz para ver o Portugal-Ucrânia da fase de apuramento para o Euro2020.

«Vai ser um jogo duro para Portugal, porque a Ucrânia tem uma boa equipa, com jogadores de muita qualidade e com experiência internacional. E agora tem o Júnior Moraes, um excelente avançado, uma posição em que tinham carências», resume.

O irmão do ex-portista Bruno Moraes recebeu o passaporte ucraniano na passada segunda-feira, e foi logo convocado por Andriy Shevchenko.

«É um excelente jogador e uma pessoa espetacular, sempre disponível para tudo e com uma vontade enorme de vencer. É muito inteligente na movimentação, e com uma capacidade enorme de adaptação às diferentes formas de jogar», analisa.

Fernando Santos diz que a Ucrânia «está muito consolidada nos processos do Shakhtar», e José Boto considera «normal que existam coisas em comum», uma vez que há oito jogadores da equipa orientada por Paulo Fonseca na convocatória, mas garante que «Shevchenko tem a sua identidade».

«Vai ser uma equipa muito forte a defender, com boa organização defensiva, muito determinada neste momento do jogo. Mas depois pode sair em ataque rápido ou optar por um jogo mais posicional, pois tem jogadores que se adaptam às duas formas», analisa.

Boto avisa que Portugal «deve ter muito cuidado com a criatividade de Marlos», jogador do Shakhtar, mas também com Ruslan Malinovskyi, jogador do Genk.

Na Ucrânia desde o início da presente temporada, José Boto faz um balanço positivo dos primeiros meses como «chief scout» do Shakhtar Donetsk e deixa um elogio ao compatriota Paulo Fonseca.

«A adaptação a uma nova realidade tem sido boa. Trabalhar com uma pessoa como Sergey Palkin facilita tudo. A equipa está muito bem na Liga e joga um futebol atrativo, uma imagem de marca do Paulo, que na Ucrânia já é denominada ‘Fonseca style’, e que é muito melhor do que pensava há seis meses e que eu já julgava que era dos melhores treinadores», resume.