Não deixa de ser notável que tudo tenha começado em Salvio: ele que há três semanas se tornou o atleta com mais jogos na competição, arrancou esta noite uma daquelas fugas imparáveis para entregar nos pés de Rodrigo mais dois recordes europeus.

O Benfica, esse, tornou-se o senhor Liga Europa.

Tornou-se enfim a equipa com mais vitórias (24 exatamente) e com mais golos (precisamente 66) na prova. Mostrou ao mundo que nesta espécie de segunda divisão europeia é mais musculado do que todos os rivais e talvez por isso seja altura de se afirmar na primeira divisão.

Para já, porém, e enquanto essa intenção fica adiada para segundas núpcias, importa regressar a Salvio para sublinhar que foi um simbolismo curioso: o senhor Liga Europa levou o testemunho até ao fim para colocar a equipa no pedestal onde ele já estava.

Importa dizer também que o Benfica segue muito seguro de si para as meias-finais e com expetativas naturais de corporizar os recordes em quinze quilos de prata e mármore: o troféu da Liga Europa.

Mesmo quando não é razoável, e esta noite durante muito tempo não foi razoável, a formação encarnada consegue jogar o suficiente para superar os adversários. O que é lapidar.

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Frente a um AZ Alkmaar demasiado débil, por exemplo, bastaram quinze minutos para garantir a vitória. O Benfica não entrou bem no jogo, durante meia hora não teve dinâmica nem velocidade, mas esqueçam lá essa meia hora inicial.

Depois disso, sim, houve jogo pelas alas, houve rapidez, houve enfim futebol. Cardozo ameaçou por duas vezes, após duas jogadas de Rodrigo, Salvio correu trinta metros para oferecer o primeiro golo a Rodrigo e outra vez Salvio rematou para grande defesa de Esteban.

Quatro oportunidades e um golo: tudo em quinze minutos.

A eliminatória pareceu ficar arrumada nessa altura, até porque o AZ Alkmaar terminou a primeira parte sem rematar por uma vez que fosse à baliza de Artur. A formação holandesa era competente a defender, juntava as linhas e cortava os espaços, mas não tinha profundidade ofensiva.

Saía com poucos jogadores e saía mal.

As coisas mudaram ligeiramente na segunda parte, é verdade, o AZ Alkmaar subiu no terreno, o Benfica não se importou e os holandeses ameaçaram por duas vezes: fizeram o primeiro remate aos 61 minutos e obrigaram Artur a excelente defesa logo a seguir.

Destaques: Salvio magnífico, Rodrigo matador

Jesus inquietou-se no banco, lançou Enzo Perez e Markovic para prevenir qualquer imponderável e o Benfica respondeu com o segundo golo: Salvio, outra vez ele, arrancou outra jogada de craque e serviu Rodrigo, outra vez também ele, para encostar à boca da baliza.

Até ao fim foi só deixar o tempo correr.

Os encarnados garantiram uma vitória algo descolorida mas categórica, num jogo em que insistiram demasiado em jogar pelo centro e nem sempre lhes apeteceu acelerar. A má notícia da noite foi a lesão de Sílvio, uma lesão que parece grave e pode ter significado o fim da época para o lateral.

O Benfica segue assim para as meias-finais da Liga Europa pela terceira vez. O que permitiu a Jorge Jesus ultrapassar Toni e Eriksson, igualando Bella Guttmann na lista de treinadores com mais finais europeias no currículo.

A diferença é que Guttmann o fez na Taça dos Campeões Europeus, e até venceu duas. Este Benfica, para já, é só o senhor Liga Europa, e ainda procura o primeiro troféu.