O que une o Liverpool ao Benfica? Além da cor do equipamento e de serem dois históricos do futebol europeu, conseguiram ser intrusos em anos quase perfeitos do futebol espanhol. O caso do Liverpool, porém, é uma autêntica lança no orgulho de «nuestros hermanos», pois evitou duas finais europeias 100 por cento espanholas. O Benfica também foi, em 2014, o único clube de fora da La Liga a disputar uma final, mas, aí, a meia-final foi disputada pela Juventus.

O sonho espanhol de hastear quatro bandeiras nos decisivos jogos continentais foi, então, desfeito pelo Liverpool de Jurgen Klopp, que conseguiu dar a volta à desvantagem que trazia do El Madrigal e eliminou o Villarreal.

Aliás, ver o «sumarino amarelo» cair nas meias-finais já começa a ser um clássico das provas europeias. É a quarta vez, depois de 2003/04, afastados pelo Valência na Taça UEFA; 2005/06, afastados por Arsenal na Liga dos Campeões; e 2010/11, afastados pelo FC Porto na Liga Europa. Um trauma que ganha forma.

E, assim, termina, como se disse, a ambição espanhola de fazer o que nunca foi feito: pleno de um país nas finais europeias.

Haverá, então, três em quatro. É a segunda vez que acontece desde a extinção da Taça das Taças (1999). A última foi, como se disse, em 2014, com os mesmos protagonistas e, então, o Benfica a «fazer» de Liverpool.

Ter apenas dois países representados, além dessa ocasião, já tinha acontecido na época 2005/06. Também Espanha e Inglaterra, na altura, mas com divisão salomónica: Barcelona-Arsenal na Champions e Sevilha-Middlesbrough na Taça UEFA.

E antes da extinção da Taça das Taças?

Com três finais europeias por temporada e, por conseguinte, mais duas vagas, seria natural que acontecesse mais vezes períodos de hegemonia de um país, certo? Errado.

Afinal, é preciso lembrar que, durante largas décadas, apenas havia um representante por país (mais o campeão europeu) na Taça dos Campeões, algo que também acontecia na Taça das Taças. Só na Taça UEFA as vagas eram maiores e, por isso, davam oportunidades a afunilamentos de equipas dos países mais fortes.

Por isso, apenas por uma vez na história houve mais do que três equipas do mesmo país em finais europeias. Foram quatro, feito que, agora, Espanha ficou às portas de imitar, embora com uma diferença importante: se tivesse conseguido, seriam quatro em quatro, ao passo que o caso citado remonta a 1989/90, quando Itália fez quatro em seis.

O AC Milan disputou e venceu a final da Taça dos Campeões frente ao Benfica (a última presença das águias no jogo decisivo), a Sampdória perdeu a final da Taça das Taças para os belgas do Anderlecht e, numa final 100 por cento italiana, a Juventus levou a melhor sobre a Fiorentina na Liga Europa.

De resto, nunca nenhum país conseguiu mais do que três equipas nas finais. Itália, muito às custas do domínio que exercia no futebol europeu, é o país que mais vezes repetiu o feito. Além do recorde de quatro equipas que citamos, ainda colocou por mais cinco vezes três equipas nas finais.

A saber:

1997/98: Juventus-Real Madrid (LC) e Inter-Lázio (LE)

1994/95: Milan-Ajax (LC) e Parma-Juventus (LE)

1993/94: Milan-Barcelona (LC), Inter-Cazino Salzburgo (LE) e Parma-Arsenal (TT)

1992/93: Milan-Marselha (LC), Juventus-Borussia Dortmund (LE) e Parma-Antuérpia (TT)

1988/89: Milan-Steaua Bucareste (LC), Nápoles-Estugarda (LE) e Sampdória-Barcelona (TT)

Inter-Lázio, final da Taça UEFA de 1998

De resto, Espanha conseguiu colocar três equipas em finais por três vezes. Além das duas referidas, já nesta década, tinha conseguido o mesmo feito nos anos 80, mais precisamente na temporada de 1985/86.

Nesse ano o Barcelona disputou a final da Taça dos Campeões com os romenos do Steaua Bucareste, enquanto o Real Madrid jogou a final da Taça UEFA com o Colónia e a Taça das Taças teve um duelo entre o Atlético Madrid e o Dínamo Kiev.

Antes disso, já a Alemanha também o tinha conseguido, apenas em dois jogos, aliás. Na temporada de 1979/80, ao Hamburgo, que perdeu a final da Taça dos Campeões para o Nottingham Forrest, juntou-se uma final 100 por cento germânica na Taça UEFA.

Mais do que isso, até: nessa época as quatro equipas que chegaram às meias finais eram alemãs! Pela primeira vez, quatro equipas do mesmo país chegaram ao último passo antes da final.

O Borussia Monchengladbach eliminou o Estugarda, mas acabou por perder a final para o Eintracht Frankfurt, que tinha deixado pelo caminho o Bayern Munique. Na primeira mão o Borussia venceu 3-2, mas o Eintracht triunfou por 1-0 em casa e venceu devido à regra dos golos marcados fora.

Recorde o jogo da primeira mão:

Já agora, e o inverso? Ou seja, qual o maior número de países a marcarem presença em finais? Para encontrar a resposta é preciso recuar à temporada 1973/74 quando, pelas normas vigentes na altura, seis países ocuparam as seis vagas. E fazemos esse sublinhado porque duas foram ocupadas, na prática, por equipas alemãs, embora o país estivesse dividido, na altura.

Finalistas Europeus de 1973/74:

Taça dos Campeões: Bayern Munique (RFA)-Atlético Madrid (Espanha)

Taça UEFA: Feyenoord (Holanda)-Tottenham (Inglaterra)

Taça das Taças: Milan (Itália)-Magdeburgo (RDA)