Numa noite em que a águia Vitória fugiu do Estádio da Luz, João Félix voou mais alto do que toda a gente para uma noite mágica, com um hat-trick e uma assistência, a ditarem a primeira derrota do ano do Eintracht Frankfurt por números pouco expectáveis. A equipa alemã, reduzida muito cedo a dez, ainda marcou dois golos, primeiro por Jovic, depois por Gonçalo Paciência, ganhou alguma esperança, mas a verdade é que a equipa de Bruno Lage parte com uma vantagem confortável para Frankfurt.

Confira a FICHA DO JOGO

As opções iniciais dos dois treinadores apontavam para duas formações mais conservadoras do que é habitual nas respetivas ligas. Puro engano. As águias de Lisboa e de Frankfurt entraram no jogo a voar, com um futebol vertical, com o objetivo de chegar o mais rápido possível à baliza contrária. Um jogo rico, com seis golos e até podiam ser mais. Um jogo também com muitos erros defensivos, que permitiram aos alemães marcar dois golos já depois de estarem reduzidos a dez. Mas vamos por partes.

Bruno Lage deixou Pizzi e Seferovic no banco para montar um ataque com Rafa, João Félix, Cervi e, talvez a maior surpresa da noite, com um Gedson muito disponível para aparecer muitas vezes à frente deste trio, como jogador mais adiantado. Mais atrás, Fejsa e Samaris procuravam impor-se no miolo, mas com o grego, em noite inspirada, a subir muitas vezes também no apoio ao ataque.

Adolf Hüttler também prescindiu de Haller [nem no banco] e do criativo Gacinovic, para apostar num meio-campo mais preenchido e musculado, com Hasebe, Sebastian Rode e Gelson Fernandes. Com uma defesa com três elementos, Da Costa e Kostic ocuparam-se das alas para o apoio direto a Rebic e Jovic.

Os olhos estavam postos precisamente no jovem avançado do Benfica que está cedido, sem bilhete de volta, à equipa alemã. E a verdade é que o avançado sérvio apresentou, desde logo, o seu cartão de visita. Logo a abrir viu um cartão amarelo por travar Rafa e, logo a seguir, surpreendeu Jardel, roubou-lhe a bola e encarou Vlachodimos pela primeira vez. Valeu ao Benfica a recuperação de Grimaldo que desarmou o avançado no momento do remate. Na sequência do mesmo lance, canto para o Eintracht e cabeçada do capitão Abraham a rasar o poste.

Confira os destaques do jogo

Estava dado o aviso. Faltava o Benfica apresentar-se em campo. A equipa de Bruno Lage tinha demonstrado, nos minutos iniciais, alguma dificuldade em libertar-se da pressão alta dos alemães, mas da primeira vez que se soltou, chegou ao golo. Grande trabalho de Samaris, a encontrar João Félix que, por sua vez, lançou Gedson para o interior da área. Apenas com Trapp pela frente, o médio foi ostensivamente derrubado por N’Dicka. Nesta competição ainda não há VAR, mas também não era preciso. Não houve dúvidas quanto à grande penalidade, nem quanto ao cartão vermelho mostrado ao central do Eintracht. Seria um jogo diferente a partir daqui. Na maca dos onze metros, João Félix atirou colocado, Trapp ainda acertou no lado, mas não conseguiu impedir o primeiro golo.

Estava aberto o caminho para uma noite em cheio do Benfica em vantagem no marcador diante de um adversário que se viu subitamente privado de um elemento essencial. Na prática, Hütter perdeu um um jogador no meio-campo, uma vez que Hasebe recuou para compor a defesa. Os alemães não demoraram a adaptar-se ao novo cenário e Grimaldo voltou a revelar-se providencial num desarme a Rebic. O Eintracht, apesar de tudo, conseguia manter a mesma pressão alta e, num erro clamoroso de Fejsa, Rebic arrancou pela esquerda e serviu Jovic de bandeja para o empate. Estava dado o mote para uma grande noite de futebol.

Silêncio no estádio. Bola a meio-campo e golo do Benfica. Um golaço, diga-se! Cervi serve João Félix que, na zona frontal, fora da área, ajeitou a bola e disparou com toda a convicção, com a bola a entrar bem junto ao poste. Voltava a festa ao Estádio da Luz para um final de primeira parte frenético. Cervi esteve perto de fazer o 3-1 e o Eintracht chegou a festejar o empate, na sequência de um livre, antes do auxiliar interromper a festa, com a bandeirola levantada, a assinalar a alegada posição irregular de Da Costa.

Mais dois de rajada logo a abrir

Se a primeira parte acabou com intensidade, a segunda começou ainda mais forte, com o Benfica a carregar no acelerador e a reforçar a vantagem na eliminatória com dois golos de rajada. O primeiro na sequência de um canto da direita de Grimaldo. João Félix, outra vez ele, desviou de cabeça junto ao primeiro poste e Rúben Dias, à vontade, emendou para golo. Logo a seguir novo golo com os mesmos protagonistas. Grimaldo cruza da esquerda e João Félix remata, fazendo a bola passar por entre as pernas de um defesa e do guarda-redes. Estava completo o hat-trick e João Félix ajoelhou-se a conter as lágrimas.

Era definitivamente a noite do jovem médio, com marca forte nos quatro golos do Benfica. A eliminatória estava bem encaminhada e Bruno Lage começou a gerir prescindindo de Rafa para lançar Seferovic. Adolf Hütter também refrescava o ataque prescindindo sucessivamente dos sérvios Jovic e Rebic para lançar Guzman e, mais tarde, Gonçalo Paciência. Neste momento de reorganização, Lage foi forçado ainda a mais uma alteração, com Corchia a sair lesionado e a dar a vez a Pizzi, com Gedson, que já tinha jogado lá na frente, a recuar agora para a defesa do flanco direito.

O Benfica teve depois uma oportunidade soberana para matar definitivamente a eliminatória,  com mais um grande passe de João Félix a lançar Seferovic que, destacado, rematou tenso, mas Trapp defendeu, no limite, com a ponta da bota. Na resposta, o Eintracht, na sequência de um canto, reduziu a diferença, com Gonçalo Paciência a elevar-se bem entre Grimaldo e Jardel, para cabecear, em arco, fazendo a bola sobrevoar Vlachodimos.

Já se tinham ouvido assobios para a saída de Jovic, mas os decibéis aumentaram para abafar a festa do antigo avançado do FC Porto. Ainda houve espaço para as entradas de Zivkovic e de Gacinovic, mas as rotações do jogo já estavam, nesta altura, a cair a olhos vistos.

O Benfica vence de forma incontestável e parte, dentro de uma semana, para Frankfurt, com uma vantagem confortável que obriga os alemães a marcarem, pelo menos, dois golos, sem sofrer nenhum, para inverter a eliminatória.

Para a história, fica uma noite que João Félix não vai esquecer tão cedo, com o primeiro hat-trick em competições europeias, por sinal, o hat-trick mais jovem da história da Liga Europa. Um feito raro para um jovem com apenas 19 anos. Basta olhar para o historial de hat-tricks do Benfica na Europa. O último registo já tinha 27 anos, concretizado por Pacheco, em 1992. João Félix entra, assim, para uma galeria de notáveis benfiquistas como Eusébio, José Augusto, Torres, Nené e Jordão. Com apenas 19 anos, repetimos.