Subir a escadaria do Bom Jesus, que se debruça sobre a «Cidade dos Arcebispos»… Atravessar a nado o estreito do Bósforo, cruzando da Europa até à Ásia, onde «mora» o gigante istambulita… Não, não estamos a enumerar missões absolutamente impossíveis, mas que têm o seu quê de tarefa hercúlea. Quase tanto como recuperar de uma desvantagem de um golo contra uma equipa que só nesta época gastou dez vezes mais em reforços…

Na antevisão desta segunda mão dos oitavos-de-final da Liga Europa, Paulo Fonseca avisou (e bem) que a missão do Sp. Braga diante do Fenerbahçe não era impossível. E a verdade é que logo aos 12 minutos a coisa tornou-se bem real.

Vukcevic fez um passe a rasgar e descobriu Hassan, em posição duvidosa, que recebeu, entrou na área e à saída do experiente guarda-redes Demirel colocou a bola junto ao poste. 1-0, eliminatória empatada e tanto para jogar perante um adversário que subitamente ficou nervoso.

Ao ver-se na vertigem da Pedreira com a eliminatória em risco de derrocada, o Fenerbahçe tornou-se vulnerável: faltavam oportunidades claras, mas começavam a suceder-se os cartões amarelos para os jogadores turcos e Vítor Pereira perdeu a paciência com o árbitro a ponto de ser expulso do banco (44 minutos).

FILME DO JOGO

Parecia de feição o jogo para os bracarenses, até que já nos descontos da primeira parte, Nani cruzou na esquerda, Van Persie tentou o desvio de cabeça e, para azar bracarense, a bola ficou à mercê de Potuk rematar para o empate no jogo, que valia uma clara vantagem turca na eliminatória.

45 minutos e o Braga a ter de marcar dois golos sem ter de sofrer nenhum para passar aos quartos-de-final (feito só conseguido em 2010/11, quando foi finalista com o FC Porto).

Missão impossível? Para este Sp. Braga não.

O 4-4-2 dinâmico de Fonseca até pareceu enferrujado nos primeiros minutos do segundo tempo. O jogo era carrilado sobretudo por Rafa e por Baiano, vindo de trás, mas o Fener parecia tranquilo.

Parecia, pois… Até Rafa rematar contra os braços de Topal (aos 68’) e de uma assentada conseguir uma grande penalidade mal assinalada e a consequente expulsão do jogador turco por acumulação de cartões amarelos.

Josué converteu e deixou os quartos ali tão perto… Era preciso um golo em 20 minutos, e com mais um elemento em campo. Missão bem possível, diga-se. Tanto que foram só precisos cinco minutos para o 3-1 que colocava o Sp. Braga em vantagem: Stojiljkovic matou no peito e rematou cruzado para dar início ao arraial minhoto.

Daqui em diante os Fenerbahçe deixou de existir e levou um banho turco na Pedreira.

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Daqui em diante frisou-se ainda mais a classe de Josué, a segurar a bola e a passar, a dinâmica de Baiano pela lateral, a inteligência de Vukcevic ao meio e de Stojiljkovic lá na frente (um caso sério este duo dos Balcãs), o coração e raça de Hassan… E o enorme talento de Rafa, que alia a arte e a velocidade como muito poucos jogadores no futebol europeu…

Foi do jovem prodígio arsenalista a machadada final dos «Guerreiros do Minho» diante do «invasor» otomano, quando a sete minutos do fim arrancou do meio-campo com a bola nos pés, entrou na área, driblou na frente do seu marcador direto e fez o golo que valeu o apuramento diante de um adversário que já estava de cabeça tão perdida que até terminou o jogo com oito jogadores em campo por expulsão de Potuk (86’), que passou de potencial herói à condição de vilão, e Sen (90’+4)

Não obstante algumas razões de queixa, Vítor Pereira, Bruno Alves, Nani e até Raul Meireles (que nem jogou no dia do seu 33.º aniversário), além de uma mão cheia de conhecidos do futebol nacional, saem de Braga vergados ao peso de uma goleada.

Como se a meio da subida ao Bom Jesus estes «canários» luso-turcos tivessem perdido o fôlego.

Este Braga de Paulo Fonseca pode continuar a subir degraus na triunfal escadaria da Liga Europa, sonhar em chegar ao topo, tal como em 2010/11, e lá do alto olhar bem de frente qualquer gigante do Velho Continente.

Quem falou em missões impossíveis?