Raça sem ideias. O FC Porto cai da Liga Europa com toda a lógica depois de dois jogos em que deu sempre a ideia de se contentar com um cenário que não envergonhasse. Mais evidente na Alemanha, é certo, e, de certa forma, compreensível. Mas o espírito de entreajuda que seria chave para um resultado que permitisse a reviravolta em casa não chegou e a montanha revelou-se alta demais. Tão alta que nem a vitória de consolação ficou no Dragão. O Borussia ganhou outra vez (0-1) e os dragões saem de cena sem, sequer, marcar um golo.

O FC Porto despede-se submerso pântano de erros e azares. Aos jogadores, contudo, pouco pode ser apontado. Nem esta noite. Houve raça, houve fé, houve querer. Faltou tudo o resto. Qualidade, acima de tudo. E isso normalmente ajuda a fazer a diferença.

Foram vários os lances ganhos. As divididas que sobraram para os azuis e brancos. Mas de que vale quando não há magia? Quando ninguém tem a sagacidade necessária para furar uma linha defensiva que apenas precisou de ser competente e nada mais. Hummels, por exemplo, perdeu três bolas nos primeiros oito minutos em zona proibida: alguém se lembra de um lance de perigo portista nesse período?

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Num dos duelos mais fortes destes 16 avos de final, Thomas Tuchel acabou a poupar jogadores para outras batalhas. Reus saiu cedo e Gundogan e Hummels já nem voltaram dos balneários para onde os alemães desceram com uma vantagem que chegou num golo irregular. Até isso correu mal ao FC Porto nesta eliminatória.

Aubameyang, na recarga a uma estupenda defesa de Casillas, fez, em fora de jogo (e com ajuda involuntária do guardião), o golo que matou, de vez, o sonho portista. Se já era pedido uma noite perfeita, a partir dali só algo para a história. Mas há equipas que não parecem talhadas para feitos históricos e este FC Porto pode encaixar perfeitamente nesse grupo.

Um onze sem fantasia

O jogo foi aquilo que se lê nas entrelinhas até este ponto. O FC Porto quis, mas não conseguiu. O Borussia controlou sem forçar muito. Na retina ficaram três ou quatro recuperações de Ruben Neves (bem melhor do que no duelo da primeira mão) que fizeram o Dragão passar das palmas ao desespero em segundos. Lá está: não basta recuperar…e depois?

José Peseiro surpreendeu ao mexer no ataque. A ausência de Indi obrigava a nova adaptação no centro da defesa. Havia Danilo mas o técnico insiste (e bem) em tê-lo no meio campo. A experiência de Layún em Dortmund tinha corrido bem e, assim, foi a solução encontrada novamente.

Mas na frente não se esperavam tantas novidades. André André e Herrera deram lugares a Ruben Neves e Evandro. O trio de ataque foi todo novo: Aboubakar, como era previsível, mas com a companhia de Marega e Varela.

Das duas, uma: ou a ambição garantida por Peseiro na antevisão foi bluff e o FC Porto abdicou sem lutar, ou o plano saiu totalmente falhado. Nenhuma das unidades novas trouxe um acréscimo de relevo ao futebol portista e, sem Brahimi ou Corona, mesmo que ambos longe da melhor forma, faltava fantasia ao futebol azul e branco. A tal raça sem ideias que dá mote a esta crónica.

Só a espaços o FC Porto incomodou os alemães. Em cima do intervalo, numa arrancada de Evandro que terminou com remate a rasar o poste e num cabeceamento de Varela que obrigou Burki à defesa mais complicada da noite. Voltou a ficar perto num calcanhar de Aboubakar e, já com Suk em campo, numa investida do sul-coreano de ângulo reduzido.

Pelo meio, o Borussia teve mais dois golos bem anulados por fora de jogo, atirou uma bola ao poste por Mkhitaryan, enquanto no FC Porto foi Brahimi a deixar na trave a última oportunidade para, pelo menos, não perder. O último dos azares numa eliminatória que expôs de forma clara as limitações deste de quem, muitas vezes, se disse ser o melhor plantel em Portugal.

É atribuída a Theodore Roosevelt uma ideia que serve de resumo ao que se viu no Dragão: «Pior do que falhar é nem sequer tentar». O FC Porto tinha, pelo menos, dar a entender que tentou. A amostra vista deixa muitas dúvidas.