*Enviado especial a Turim.
Agora sim: o Benfica perdeu mais uma oportunidade de voltar a ser grande na Europa. Em Turim, no vale dos Alpes, a equipa percebeu que havia uma ligação direta ao céu e tratou de trepar a montanha até lhe tocar. Mas nunca o fez.
Deixou enfim escapar a oportunidade por entre hesitações, receios e tremores.
Nenhuma glória é suficiente heróica se não tiver um pouco, por muito pouco que seja, de sofrimento: e a noite Benfica, meus caros, teve muito sofrimento. Faltou-lhe a glória.
A glória que fugiu nas grandes penalidades, depois de duas horas completas de jogo durante as quais o Benfica até foi melhor, mas não conseguiu ter o discernimento necessário para dar aquele passo no fim de tanto sofrimento: o passo para chegar ao céu.
A formação de Jorge Jesus, é preciso dizê-lo desde já, não entrou bem no jogo.
Pelo contrário.
O favoritismo não é uma leveza, é um peso: ou então, se for uma leveza, é uma daquelas que tem um peso insustentável. Por isso, lá está, o Benfica acusou o peso do favoritismo. Tremeu, hesitou, duvidou até de si.
Teve mais bola desde o início, é verdade, teve quase sempre mais bola, mas não conseguia com isso ser mais perigoso. Era um bem supérfulo, no fundo. Até porque o Sevilha, esse sim, era expedito.
Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores
O problema do Sevilha é que é uma equipa com demasiada consciência das limitações. Por isso, e embora saísse com rapidez e profundidade, saía com poucos jogadores. Criava mais sobressaltos ao adversário, mas pouco.
A primeira parte foi por isso um longo e monótono bocejo.
Animou nos minutos finais, quando Maxi Pereira apareceu na cara de Beto e desviou para grande defesa, ou quando Rodrigo atirou forte para outra bela intervenção do português do Sevilha, mas mesmo assim foi pouco. Por isso, e de primeira parte, estamos conversados.
A segunda metade, essa sim, valeu a pena. Valeu a pena sobretudo pelo Benfica.
Costuma dizer-se que não há segundas oportunidades para criar uma boa primeira impressão. A equipa sentiu que esse problema já tinha passado, a primeira impressão não tinha sido boa e ponto final, pelo que libertou-se dos temores e surgiu bem mais solto na segunda parte.
Continuou a falhar passes, a perder bolas algo infantilmente e a atrapalhar-se nas saídas. Mas pelo menos teve mais nervo, teve mais vigor, teve mais entusiasmo, teve enfim mais substância.
Cresceu muito à medida que Ruben Amorim cresceu também, e sobretudo à medida que teve mais espaço. Maxi Pereira, logo de início, serviu Lima e Rodrigo para boas oportunidades. Mais tarde o mesmo Maxi Pereira serviu Lima para um remate falhado. Depois houve outra vez Lima para grande defesa de Beto e houve duas vezes Garay por cima da barra.
Destaques: Maxi a jogar e Beto a decidir
Jorge Jesus já tinha trocado na primeira parte o lesionado Sulejmani por André Almeida, fazendo avançar Maxi Pereira para extremo, num daqueles acidentes felizes: durante muito tempo o uruguaio foi o melhor do Benfica.
Infelizmente para o Benfica a equipa mostrava que era superior, mas falhava na finalização.
Demasiado.
Por isso, e perante um Sevilha que só criou uma oportunidade, o jogo foi para prolongamento.
No prolongamento, é verdade, a única verdadeira oportunidade de golo foi do Sevilha, e de Bacca num remate ao lado. Jesus tirou Siqueira para meter Cardozo, recuando Maxi Pereira e o Benfica curiosamente perdeu outra vez capacidade de desequilibrar pelas alas.
Há coisas difíceis de explicar, mas são factos: esta final foi muito de Maxi Pereira.
O Benfica teve sempre a bola e o domínio, sim, apoiado por um público incansável, carregou, carregou e carregou sobre a defesa do Sevilha: mas não criou ocasiões de golo.
Por isso teve tudo de se decidir nas grandes penalidades: no fim de um 0-0 que penalizava sobretudo na formação encarnada. Afinal de contas a que mais fez para ganhar este jogo.
As grandes penalidades, já se sabe, são um jogo da sorte e o Sevilha tinha um trunfo: Beto. O guarda-redes português costuma ser decisivo nestas ocasiões. Voltou a sê-lo, para mal do Benfica.
Defendeu os remates de Cardozo e Rodrigo, enquanto no Sevilha todos marcaram.
O Benfica voltou assim a perder a oportunidade de conquistar uma prova internacional e recuperar um um apelido que só lhe fica bem. Grande na Europa. Numa época marcada por uma dinâmica de vitória, deve realmente custar muito.
Se calhar o melhor é ir à bruxa: o que lhe acontece nas finais europeias é impressionante.
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