Promessa de bom futebol, ameaça de nulo e um herói improvável saído do banco. Foi tudo isto o jogo entre o Boavista e o Rio Ave, com um resultado que se aceita, embora o empate também não deslustrasse. As duas equipas prometeram bom futebol na antecâmara e, até ao golo de Traoré, dois minutos depois de entrar em campo, mesmo sem que nenhuma delas tivesse atingido o objetivo máximo do futebol, ninguém poderia dizer que o jogo estava enfadonho ou, sequer abaixo do exigível.

Era um nulo bom de ver, mas transformou-se num triunfo vila-condense um golpe de cabeça após uma bola parada. E, já agora, num golpe do treinador Luís Castro, responsável pela aposta.

O primeiro tempo foi agradável porque vertiginoso. As duas equipas cumpriram o que haviam prometido e o futebol apresentado teve no ataque o foco principal. Libertos de excessivas amarras defensivas e tranquilos pela posição que ambas ocupam na tabela, Boavista e Rio Ave puderam explanar o seu futebol com qualidade.

E o foco, como se disse, esteve sempre na baliza contrária, num ritmo feroz, de parte a parte, a que faltou, apenas, outro acerto na hora de decidir. Por um ou outro motivo, seja mérito defensivo ou más decisões dos avançados, quando chegava a altura de alvejar a baliza, algo corria mal.

Veja-se o caso de Ivan Bulos, por exemplo, que logo aos 9 minutos ficou na cara de Cássio, mas adiantou tanto a bola que o guardião visitante chegou primeiro e evitou estragos maiores. Mais tarde, aos 23, foi Lionn, com nervos de aço, a evitar que Renato Santos empurrasse, ao segundo poste, um centro de Iuri Medeiros, após brilhante jogada individual.

Estas foram as melhores amostras de um Boavista que entrou em campo com o onze esperado e um futebol assente na qualidade dos extremos Renato Santos e Iuri, sobretudo. Já no Rio Ave, Luís Castro só surpreendeu ao escolher Nelson Monte para render o castigado Marcelo, ficando Vilas Boas na bancada. A aposta em Ruben Ribeiro, assobiado a cada toque na bola neste regresso a uma casa que já foi sua, no lugar de Heldon, outro jogador suspenso, já era esperada.

Ora, ao intervalo, o Rio Ave até tinha uma ligeira vantagem na posse de bola e, de facto, esteve mais tempo perto da baliza contrária, embora não tenha sido tão perigoso. Ficou na retina, apenas, uma dupla intervenção de Vagner, primeiro a remate de Krovinovic e, depois, segurando também a recarga de Guedes.

Aliás, já no segundo tempo, foi Guedes a voltar a desperdiçar, primeiro num desvio após centro de Rafa que saiu com pouca força, depois finalizando muito mal um contra-ataque conduzido por Krovinovic.

A verdade, porém, é que o segundo tempo foi diferente do primeiro. Para pior. Voltou a não faltar entrega às duas equipas. O querer estava lá, mas as boas ideias, que já não tinham sido um bem abundante no primeiro tempo, escassearam ainda mais no segundo, quando o cansaço também começa, já se sabe, a tomar conta do discernimento dos jogadores.

Aliás, quando o Rio Ave marcou o golo que desbloqueou o jogo, já no último quarto de hora, começava a pairar no estádio a ideia de que o nulo seria o resultado certo para aquilo que se viu em campo. Corrigindo: o empate seria certo, porque o jogo merecia golos.

Mas as contas que se iam fazendo saíram furadas quando começou o jogo dos bancos. Luís Castro lançou Gonçalo Paciência, primeiro, depois o herói da tarde. Adama Traoré, à terceira aparição com a camisola vila-condense, fez o primeiro golo. E no primeiro toque na bola, no Bessa.

Rafa, o melhor em campo, tinha obrigado Vagner a defesa apertada para canto. Na transformação do mesmo, o maliano surgiu solto ao primeiro poste, encostou a cabeça à bola e decidiu a contenda.

Faltava muito pouco, o Boavista lançou-se para o ataque em busca da igualdade mas só Iuri Medeiros ficou perto, em dois remates que rasaram o poste. A gula axadreazada até podia ter custado o segundo, já que Gonçalo Paciência, por duas vezes, a segunda de forma verdadeiramente inacreditável, deitou ao lixo a oportunidade de respirar melhor até ao apito final.

Sorte para o avançado que não foi preciso, porque, lá atrás, os colegas deram conta do recado e seguraram os três pontos, que lançam pressão sobre o Marítimo na luta pelo sexto lugar que pode, muito bem, dar acesso à Liga Europa.