Francisco das Chagas Soares dos Santos. Estreia absoluta de dragão ao peito, dois golos num Clássico de superlativa relevância, noite mais do que perfeita. Soares, muito Soares, neste FC Porto que reforça a candidatura ao título e sobe provisoriamente ao topo da Liga.

O Sporting cai e despede-se – aparentemente em definitivo – do combate maior. Os leões passam a estar a nove pontos dos homens de Nuno Espírito Santo e saem da Invicta feridos de morte pelos erros defensivos primários, auto-infligidos até ao intervalo.

FICHA DE JOGO DO FC PORTO-SPORTING: 2-1

Onde estava a marcação a Soares no 1-0, logo aos sete minutos? Cruzamento perfeito de Jesús Corona na direita, após trocar os olhos ao pobre Zeegelaar, e o ponta de lança completamente sozinho ao segundo poste, a encostar a testa e a celebrar.

E onde estava a cobertura dos centrais Semedo/Coates no instante em que Danilo recupera e lança Soares, antes do ex-V. Guimarães arrancar, correr uns bons 25 metros e ainda ter lucidez para contornar Rui Patrício e sentenciar logo ali o Clássico?

Nuvens negras perseguem a defesa leonina. Por onde passa as flores murcham, as árvores caem e Soares aproveita. Permitam-nos voltar a ele, porque o menino Tiquinho merece. Vamos lá então.

Um Clássico agressivo, medieval, alérgico a instantes belos

Não foram só os dois golos. Foi a capacidade de segurar a bola, a inteligência na hora do passe, a sabedoria a decidir. Verdadeiramente impressionante, surpreendente até, para um atacante que só agora chega a estes palcos de maior mediatismo.

O Clássico, é importante destacar, não foi bonito. Nada bonito. Foi batalhado, siderúrgico, por vezes medieval nos níveis de combate e agressividade.

Não teve nem profetas da beleza, nem poemas de futebol. Teve um FC Porto adepto do cinismo, venenoso e sádico a matar o jogo na primeira parte; e teve um Sporting com mais posse de bola e debilidades pouco condizentes com um candidato à Liga no processo defensivo.

A ausência de William Carvalho atenua a crítica, mas não exime a equipa dela.

O golo de Alan Ruiz – boa aposta de Jesus ao intervalo – recolocou a dúvida em cima do jogo, e alguma justiça, mas os leões nunca pareceram realmente capazes de bloquear as saídas rápidas dos dragões nas transições ofensivas.

A chave do jogo esteve um pouco aí. Muito aí, aliás. O FC Porto teve a capacidade de roubar bolas atrás de bolas – Danilo essencial neste aspeto – e de explorar as costas da defesa do Sporting com facilidade.

Nuno optou por essa abordagem ao jogo, em detrimento de um maior controlo da bola e dos tempos de construção. Mas podia ter corrido mal.

Dragão recua, Sporting acredita, Casillas salva

O recuo das linhas azuis e brancas durante a segunda metade cheirou a suicídio. De loucos.

A regra está na página 1, capítulo A do manual do futebol: ‘não devolvas o entusiasmo a um oponente caído’. O FC Porto fê-lo, ao entregar por opção a bola e o espaço.

A jogar em casa, a atravessar uma fase boa e a ter pela frente uma equipa massacrada pelos resultados recentes e os dois golos sofridos no primeiro tempo, o FC Porto não teve a qualidade e a capacidade para matar o jogo. Não pareceu, em largos minutos, uma equipa grande, em todos os sentidos da palavra. Teve, quiçá, a felicidade que lhe faltou na receção ao Benfica.

O Sporting cresceu, assustou Iker Casillas num par de lances – Adrien Silva acertou em cheio na barra – e marcou por Alan Ruiz a meia hora do fim. Coração, emoção, bolas bombeadas para o coração da área azul e branca e… San Iker.

Sim, San Iker está vivo e de saúde invejável. Ele, que até podia ter feito mais no golo de Ruiz, salvou o FC Porto com duas defesas de excelência nos derradeiros suspiros. A segunda verdadeiramente heroica.

Perdão, Soares, afinal o Clássico não foi só teu.

Francisco das Chagas Soares dos Santos e Iker Casillas Fernández: este FC Porto-Sporting foi sobretudo deles.