O pé esquerdo de Carlos Vinícius é o melhor aluno da turma de Bruno Lage. Senta-se sempre na primeira fila, não falha um apontamento e é exemplar nos trabalhos de casa. Para além disso, faz golos como nenhum outro (já são 13 em 18 jogos) e ainda é capaz de ajudar um coleguinha da escola, Franco Cervi que o diga.

É isto: dois golos e uma assistência do avançado do Benfica no Bessa, vitória justíssima na casa de um adversário cujo currículo mostrava uma coisa e que no campo mostrou outra.

Carlos Vinícius, dizíamos, atravessa um momento de sonho. Tudo o que faz, faz bem. No Bessa o primeiro golo nasce numa receção perfeita – bom passe de Pizzi também – e acaba numa bomba que Bracali não foi capaz de parar. Tudo de pé esquerdo.

FICHA DE JOGO E A PARTIDA AO MINUTO

Na segunda parte, e quando o Benfica já voltara para a frente do marcador, um golão! À entrada da área, naturalmente de pé esquerdo, bola ao ângulo superior esquerdo da baliza do Boavista.

Tudo parece simples, tudo parece fácil para o avançado que parecia caro, mas que se está a revelar um negócio da China.

O Boavista chegava a este clássico no quinto lugar, a respirar saúde e com várias provas já de qualidade. Contra o Benfica falhou rotundamente. Em tudo. A começar pelas ideias do seu treinador.

É difícil perceber e defender a estratégia de Lito Vidigal. Até ao golo de Vinícius aos 35 minutos, o Boavista aceitou jogar num bloco baixíssimo, em cima da sua área, muitas vezes a defender numa linha de sete homens.

DESTAQUES DO JOGO: Carlos Vinícius em todo o lado

Os axadrezados expuseram-se ao risco, convidaram o Benfica a assaltá-lo na própria casa, abdicaram completamente de ter bola e, não fosse isso suficiente, cometeram erros primários sempre que tentaram sair em construção apoiada. Horrível.

Curiosamente, ou talvez não, com o golo sofrido o Boavista soltou-se, teve dez minutos ótimos e chegou ao empate. Passe de Marlon, após ingenuidade de Pizzi na abordagem à bola, e cabeceamento de Stojiljkovic.

O Bessa, carregado de boavisteiros ansiosos por ver a equipa a voltar aos bons velhos tempos, rugiu. Com esta mudança de atitude a funcionar tão bem para os portuenses, julgar-se-ia que o Boavista manteria esse rumo na segunda parte. Não, bem pelo contrário.

No regresso das cabines, provavelmente por ordem de Lito, o Boavista voltou a ser o que tinha sido até ao 0-1: defensivo, permeável, errático. É verdade que há uma falta de Franco Cervi sobre Marlon no 1-2, mas só o Benfica fez pela vida e só o Benfica quis ganhar.

O Boavista foi incapaz de agarrar o jogo e comandá-lo. Jogou sempre na reação ao erro e à desvantagem. Perdeu por 4-1, perdeu muito bem e perdeu muito por culpa das ideias levadas por Lito Vidigal para este jogo.

Uma coisa é olhar para o Boavista e ver uma equipa que tem pouca bola, mas é organizada, venenosa nas transições e forte nas bolas paradas; esse tem sido o Boavista 2019/20, um Boavista competente.

Outra coisa é ver o Boavista a jogar em casa, num Bessa com um grande ambiente, e aceitar pura e simplesmente que é inferior. Linhas recuadíssimas, falta de ambição com bola e erros primários.

Disso não tem culpa o Benfica. Bom jogo dos homens de Bruno Lage, bastante acima do que fizeram em Vizela e na Covilhã, por exemplo. São outras provas, outros nomes, mas esses dois clubes dos escalões inferiores quiseram muito mais do jogo do que quis o Boavista esta noite.

A responsabilidade de vestir o emblema axadrezado obriga a muito mais. Sobre o Benfica: a melhor exibição fora da Luz nos últimos largos meses. Prova de qualidade.