Depois da ultrapassagem, o motor gripou e o FC Porto falhou a aceleração que lhe permitiria ganhar vantagem na liderança da Liga.

O comandante subiu ao relvado do Dragão já a saber que o Benfica empatou em Setúbal e que em caso de vitória esta noite sobre o Rio Ave alargaria para três pontos a vantagem sobre o rival.

Com apenas a troca de Manafá por Nakajima, em relação à última jornada, Sérgio Conceição puxou Corona, o seu maior criativo, para lateral-direito e apostou num 4-2-3-1 de início, com Marega a surgir sobre a esquerda nas costas de Soares, juntamente com Nakajima e Otávio.

Por seu lado, o Rio Ave alternava entre um 5-4-1 a defender que se desdobrava num 4-4-2 em que Diogo Figueiras se adiantava para o meio-campo e Piazón surgia na frente ao lado de Taremi.

O ascendente portista foi notório de início, mas nunca viria a ser sinal de controlo absoluto. Muito forte nas bolas aéreas, o FC Porto esteve perto do golo pela cabeça de Sérgio Oliveira (aos 6m) e de Danilo (31m), que surgiu aos 18m num canto: cabeça de Danilo, de novo, defesa incompleta de Kieszek e Nakajima a tocar atrasado para Mbemba finalizar.

1-0, mas não estava feito o mais difícil, que era manter o ritmo e controlar o jogo frente a um Rio Ave que descobria espaços nas costas da defesa portista, mas também aproveitava terrenos interiores sempre que possível. O que acaba por render, sobretudo quando se tem lá na frente avançados com a qualidade de Lucas Piazón e sobretudo de Mehdi Taremi.

Aos 33m, o internacional iraniano combinou com Diogo Figueiras, tirou Marcano do lance e na área só com Marchesín pela frente não tremeu. 1-1. E o líder tinha muito que pedalar para se afastar do seu perseguidor mais direto. Havia 45 minutos para isso.

No segundo tempo, o FC Porto Conceição mudou para um 4-4-2, com Marega ao lado de Soares. O maliano mostrou-se mais difícil de travar e aos 56m foi derrubado na área por Aderllan, sem que fosse assinalada qualquer infração. A potência estava lá, mas faltava ao FC Porto a habilidade para fazer as curvas mais apertadas e encontrar o caminho da baliza.

Faltavam ideias. Criatividade, mais certeza de passe para arriscar o jogo interior… Os flancos só funcionavam quando Otávio ou Corona pegavam na bola. Ainda assim, o FC Porto encostava o adversário e criava perigo nas bolas paradas e nos cruzamentos para a área, como habitualmente. Por seu lado, o Rio Ave não precisava de muitos passes para deixar o líder em alerta, chegando com perigo à baliza de Marchesín, em particular pela velocidade de Nuno Santos e pela capacidade de jogar apoiado de Taremi. Os dois quase fizeram um golo de antologia aos 72m.

Logo a seguir, o golo que afinal não o foi. O FC Porto encontrou a baliza o riovista à bomba. Num remate potente de Sérgio Oliveira para uma defesa incompleta de Kieszek. Soares e Marega tentaram a recarga. Mas seria Aderllan a introduzir a bola na baliza.

2-1! Delírio no Dragão. Festa dos cerca de 40 mil portistas nas bancadas. Até que… Espera, espera, volta a esperar.

Na Cidade do Futebol o VAR Vasco Santos viu, reviu, voltou a ver o lance. Puxou imagens para a frente, para trás, colocou em pausa, fez zoom... E depois de seis minutos de espera Soares estava afinal num daqueles foras-de-jogo que motivaram a intervenção recente do presidente da UEFA a pedir linhas mais grossas.

O futebol de laboratório anulou o lance e, não sem antes o Rio Ave provocar mais um par de calafrios, os três pontos escaparam graças a três centímetros.

Aproveitou o Rio Ave, que conseguiu igualar a sua melhor série de sempre com nove jogos seguidos sem perder. 

Depois da ultrapassagem, falhou o acelerador e, apesar da escorregadela em Setúbal, o Benfica continua a ali a surgir pelo retrovisor, a apenas um ponto.

Se ao intervalo o Dragão ouvia «Take on me», no fim do jogo bem podia ter soado nos altifalantes outro clássico dos eighties. Estes 10 jogos que faltam na Liga bem podem disputar-se ao som de «Under pressure».