3, 2, 1… uma aeronave não tribulada, disparada por Sérgio Oliveira, partiu de um pé direito impiedoso e explodiu na baliza de Cássio. O voo, de escassas frações de segundos, não terá o impacto da Apollo 11 no trajeto da humanidade, mas reconciliou o mundo azul e branco com o futebol. Pelo menos durante uma tarde.

Nos tempos modernos, atribulados para o FC Porto, momentos destes não podem ser menorizados. O dragão tem a urgente necessidade de se agarrar a eles, de reencontrar o sabor da felicidade, do festejo.

No peito da bota amarelo-fluorescente de Sérgio – uma heresia imposta pelas tendências contemporâneas – pode estar, de resto, o caminho das estrelas. É no médio vice-campeão da Europa Sub21 que se identificam luzes de criatividade, anéis de inteligência, pedaços de futebol estelar.

O restante, se não é um buraco negro, também está longe de ser um planeta de existência resplandecente.

FICHA DE JOGO E A PARTIDA VISTA AO MINUTO

O FC Porto volta às vitórias, complica a ambição europeia do Rio Ave e sai de consciência tranquila dos Arcos. Um luxo, pois, neste atribulado trajeto que acabará por ser finalizado no Jamor.

O extraordinário golo de Hélder Postiga, quarto do avançado desde a chegada ao Rio Ave, ainda ergueu sobrancelhas desconfiadas e reavivou o melodrama de capítulos recentes dos dragões.

A perder, e embrulhado num futebol tsé tsé, lento e previsível, o FC Porto equilibrou-se com uma grande penalidade bem assinalada por Bruno Paixão – agarrão de Edimar a André Silva – e devidamente transformada pelo regressado Layún.

Empate conciliador, equipa estabilizada e bola nos pés de Rúben Neves e, principalmente, de Sérgio Oliveira. A dupla de médios assumiu a condução do jogo, aplicou uma interessante dose de qualidade à organização da equipa e daí o dragão levantou para paragens mais atraentes.

Atrás, Ivan Marcano deu solidez a um setor atormentado por dúvidas e Miguel Layún consertou a ferida que latejava na asa esquerda; com Danilo Pereira e Herrera no banco, André André completou um meio campo português, competente.

OS DESTAQUES DO JOGO: Sérgio Oliveira, o maestro

Faltou, ao FC Porto, mais atração fatal pelo golo, mais repentismo nas alas da frente e mais entendimento na aproximação ao ponta de lança André Silva. Apesar de tudo, a melhoria foi evidente, monitorizada por Sérgio Oliveira, o tripulante desta equipa.

O golo de Varela tornou o cenário mais agradável, do ponto de vista dos azuis e brancos. O extremo salvou a sua exibição com esse remate bem colocado, já perto do apito final.

A tudo isto a que chamamos evolução do FC Porto, não pode ser estranho o abaixamento do Rio Ave, mormente após o golo do empate, de Layún.

Linhas mais baixas, meio campo órfão da serenidade de Tarantini – Wakaso teve sorte em não ser expulso – e um ataque onde só Hélder Postiga teve capacidade para incomodar.

O sonho europeu do Rio Ave fica mais longe, o programa de José Peseiro pensado para acoplar com o Jamor ganha um novo impulso. O técnico mudou sete peças e o resultado confere-lhe razão, por uma vez. A equipa sofreu menos, teve momentos muito interessantes e venceu com inteira justiça.

Há sinais de vida no planeta azul e branco?