O Sp. Braga fez da vitória um hábito na Luz e pela segunda época consecutiva venceu em casa do Benfica, desta vez num jogo com duas histórias. A de Francisco Moura e a da defesa das águias, que Jorge Jesus ainda não conseguiu mudar.

Elas, é verdade, cruzaram-se nesta noite sobre o relvado e tiveram duas consequências. Deixaram o Sp. Braga com os mesmos pontos que o Benfica e o Sporting com mais quatro que ambos na liderança.

Mas vamos contá-las, porque o esforço final que o Benfica meteu na partida merecem que elas sejam mesmo realçadas.

Samaris no onze

Jorge Jesus não o esconde. A linha defensiva, dir-se-ia que o processo todo até, está com problemas. O Bessa e o jogo com o Rangers colocaram seis golos em dois jogos na baliza de Vlachodimos. O Sp. Braga não era propriamente o visitante mais cómodo para esta noite, mas era o que estava na agenda. Por isso, Jesus mudou três peças e lançou Samaris na frente da defesa. Uma surpresa pelos 12 minutos que o grego tinha até aqui.

O primeiro ato do encontro, pode dizer-se, até pertenceu ao Benfica. Bem na pressão, bem na recuperação à perda de bola, mas sem conseguir infiltrações no bloco defensivo contrário. Por outras palavras, as águias tinham bola, mas não causavam perigo. A exceção foi um remate de Vertonghen, acrobático, que Matheus segurou.

A explicação para isso era esta: o Benfica insistia pelo corredor central e explorava muito pouco a largura de jogo. Everton era um equívoco na esquerda e só Rafa, fosse em que corredor fosse, causava sarilhos. Aliás, a parte final do encontro, foi a prova maior de que o Benfica insistiu demasiado neste tipo de jogo, durante muito tempo.

A partir dos 20 minutos, o Sp. Braga começou a soltar-se. este era um jogo de pouco espaços, mas a velocidade de Galeno lá conseguia arranjar alguns. Aos poucos e poucos começou a incomodar a tal linha defensiva. Percebia-se, com o passar dos minutos e com as incursões de Medeiros, Moura e Galeno, com apoio a Paulinho, que ela estava a ficar bastante desconfortável. Quando Galeno atirou para a bancada uma jogada que el próprio iniciou, o Sp. Braga já deixava a nu todas as preocupações que Jesus tem com esta defesa.

Mas vinha lá pior. Muito pior. Na saída para o ataque, o Benfica perdeu a bola, Castro deu para Medeiros e o talento do 45 fez o resto. Um erro de um defesa num passe ofensivo, uma equipa de mãos na cabeça e a outra a pensar que a estratégia estava a resultar em pleno.

Erros coletivos, mais erros individuais, e o esforço final

Era preciso fazer algo e Jesus fez. Tirou Samaris, tirou um invisível Everton, meteu Gabriel e Seferovic. Mas a história da defesa do Benfica continuava. Gilberto não percebeu a linha dos colegas, deixou Moura em jogo e aí começava a história do 74 bracarense. A passe de Al Musrati, o menino de 21 anos estreou-se a marcar na Liga.

O 2-0 castigava e bem as falhas de uma defesa que ainda, incrivelmente, cometeu mais! Um desentendimento de Vlachodimos com Otamendi permitiu a Moura ganhar ao grego de cabeça e rematar para uma baliza deserta.

E aqui é preciso fazer uma pausa. Não há público na Luz, mas quem ocupou lugares aqui nesta noite, olhou para o início da corrida de Francisco Moura, para o comportamento corporal de Odysseas e Otamendi e percebeu que um desastre encarnado ia acontecer. Já do lado minhoto, Francisco Moura ganhou uma noite de sonho.

O Benfica sempre foi uma equipa de uma capacidade ofensiva grande. Já o era na época passada com Bruno Lage. A grande questão sempre se prendeu com a defesa, com as muitas oportunidades que a equipa concedia e, consequentemente, os golos que sofria. Maus vícios que nem caras novas, no plantel e no banco, mudaram.

Pois bem, o Benfica sofreu nove golos em três jogos. A expectativa era de que Jorge Jesus viesse resolver esse problema, agora com outros centrais e laterais até. Até ver, não o conseguiu e isso é urgentíssimo. Porque na frente, com a entrada de um criativo Taarabt e com Grimaldo – que diferença para Nuno Tavares – a dar largura, as águias atiraram-se ao rival com tudo o que tinham. Fizeram dois golos e até podiam ter feito mais. O que seria uma tremenda injustiça para o Sp. Braga, para Francisco Moura e, sobretudo, um prémio que uma defesa assim não merece.