Figura: Mateus

É como o vinho do Porto: quanto mais velho, melhor. Mantém a velocidade da outrora, conserva o drible desconcertante e o sentido de baliza. E é, porventura, o elemento mais importante do trio de ataque axadrezado. Aos 34 anos, repito, aos 34 anos. Desequilibrou inúmeras vezes a partir do corredor esquerdo e, numa dessas ocasiões, conquistou uma grande penalidade que Rafael Costa converteu (59’). Pouco depois, isolou Falcone que fez a bola bater nos dois ferros da baliza de Marco. Em período de descontos, ainda teve forças para um pique! Decisivo, pois.


Momento: Patrick derruba o tabuleiro, minuto 59

Depois de uma primeira parte em que foi ligeiramente melhor, o Santa Clara cometeu um erro e pagou caro por isso. Patrick derrubou Mateus na área e Soares Dias apontou para a marcar de grande penalidade. Com frieza e classe, Rafael Costa esperou até ao último segundo para ver para que lado Marco se ia lançar e colocou-lhe a bola do lado contrário. Xeque-mate pelo pé esquerdo do brasileiro.

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Outros destaques:

Patrick: decidiu quase todos os lances em que interveio tanto a atacar como a defender. Se no último terço tentava mais um drible antes de cruzar, no sector recuado somou passes errados. A pintura ficou totalmente borratada quando derrubou Mateus dentro da área, desnecessariamente. Pareceu sempre desconcentrado.

Bueno: é um jogador diferenciado. Pensa uma fração antes dos outros, executa com qualidade e facilidade incomuns, enfim, dá ordem às peças do xadrez para se moverem. No entanto, nota-se que os colegas ainda não acompanham a velocidade de pensamento. Por isso, viu-se o espanhol esbracejar várias vezes, descontentes com a sequência que deram às jogadas.

Kaio: o ladrão de bolas que joga fácil. Foi incontável o número de bolas que recuperou no meio-campo e, depois, entregou simples e com qualidade. Enfim, fez o mais difícil durante grande parte do tempo: jogou simples. Das poucas vezes que se libertou para zonas mais próximas da baliza contrária, o «tampão» do Santa Clara obrigou Helton Leite à defesa da tarde com um pontapé fortíssimo de fora da área.

Rafael Costa: esteve longe de fazer uma exibição de encher o olho, mas revelou-se decisivo ao anotar o único golo do jogo. Respirou fundo, olhou para Marco e aguentou até ao último momento antes de escolher o lado para rematar. E o Bessa agradeceu-lhe o discernimento que manteve. O médio chegou ao segundo golo esta época.

Bruno Lamas: talento à solta no tapete do Bessa. É o criativo dos açorianos e que bem lhe assenta a batuta. Para além da facilidade com que «limpou» camisolas axadrezadas, o médio criou bastante no espaço concedido entre a linha defensiva do Boavista e o meio-campo. Tentou inúmeras vezes assistir os colegas, mas o lance que ficou na retina foi um pontapé de meia-distância que assustou Helton. Se melhorar na definição, Lamas tem todas as condições para jogar em patamares superiores