O FC Porto atravessa um dos momentos mais delicados dos últimos anos, com os adeptos a contestarem a equipa, mas também a direção do clube como há muito tempo não acontecia. Dentro do campo, acusam os jogadores de falta de raça e querer. Além da questão da ausência de jogadores de referência do clube, as últimas partidas têm mostrado uma equipa com falta daquela «fibra» de que eram feitos os jogadores «à FC Porto».

Um deles, foi, sem dúvida, o brasileiro que ficou conhecido como «Ninja»: Derlei. Ele que foi figura de destaque do FC Porto campeão Europeu, com Mourinho.

Hoje, aos 40 anos, já retirado dos relvados, Derlei continua a acompanhar de perto o futebol nacional, e o seu FC Porto, em particular. Convidado pelo Maisfutebol a comentar a atualidade dos azuis-e-brancos, Derlei admite que o clube vive «um momento complicado.» «É difícil para os adeptos que, ao longo da última década, foram acostumados a ganhar quase todos os títulos importantes», reconhece.

Quanto à falta de jogadores que transmitam a quem chega o que significa jogar no FC Porto, Derlei não hesita: «Sem dúvida que faltam referências na equipa.» Ainda assim, o ex-jogador defende que esse facto deve-se à indústria em que o futebol se tornou.

«Por vezes o clube acaba por ser obrigado, devido a questões financeiras, a deixar sair os atletas. Tem de haver uma renovação e há jogadores que ainda precisam de ganhar raiz dentro do clube, mas acredito que na próxima época as coisas já vão voltar ao normal», defende, notando acreditar que existem valores no plantel para fazer essa renovação. «Tem de se pegar nos jovens jogadores e ajudá-los a criar a raízes no FC Porto, de forma a que eles não queiram sair para um clube qualquer. Porque, neste momento, essas referências fazem falta», reforça.

Apesar do momento mais conturbado, Derlei acredita numa retoma do clube, confiando na capacidade de Pinto da Costa. «O FC Porto e o próprio presidente já passaram por isto, e há experiência suficiente para dar a volta a esta situação. Tem de se confiar no presidente, porque não é à toa que ele está na presidência há 30 anos», sublinha.

Empresário? Gosto de me definir como intermediário

Derlei terminou a carreira de jogador no Brasil, e por lá se mantém, ainda que venha várias vezes a Portugal. Foi numa dessas visitas que o Maisfutebol se cruzou com o atleta quando este assistia a uma partida de... basquetebol.

Não obstante estar «deslocado» do cenário em que foi mais habitual vê-lo, o ex-jogador não passou despercebido, tendo respondido a diversas solicitações de autógrafos e fotografias.

O nosso jornal tentou saber, o que é feito, agora, de Derlei. A resposta veio de imediato. «Eu trabalho em intermediação. Chamam-me de empresário, mas eu gosto de me colocar como intermediário», confidenciou.

«Agora, fora dos relvados, temos esta obrigação de procurar e trazer para o futebol boas referências e atletas que têm qualidade para estar no futebol», continuou o brasileiro.

E Portugal, continua no mapa desta nova atividade? «Claro. Temos alguns jogadores aí, mas eu não gosto de citar nomes porque depois começam a rotular os atletas por quem os representa. E como já disse, não gosto de me definir como empresário: quem tem que aparecer são os atletas», finalizou.

«Joguei no Benfica e no Sporting pelo que fiz no FC Porto»

Derlei é um dos poucos jogadores que se pode gabar de ter representado os três «grandes» do futebol português, com uma passagem de grande sucesso pelo FC Porto, antes de representar o Benfica durante seis meses pouco produtivos, e de chegar ao Sporting para reconstruir a imagem de goleador.

A pergunta torna-se, portanto, obrigatória: qual o clube que passou a contar com o «ninja» como adepto?

A resposta também não é totalmente inesperada. «Eu tenho um grande respeito pelos três clubes... mas só joguei no Benfica e no Sporting devido ao que fiz no FC Porto», resume. «Além disso, o FC Porto foi o primeiro dos 'grandes' onde joguei, foi onde eu passei mais anos, foi o clube em que conquistei todos os títulos, e isso pesa bastante. É natural que tenha uma identificação um pouco maior com o FC Porto», justifica.

Salientando ainda que guarda boas recordações do tempo passado em cada um dos clubes, que teve «o maior orgulho de representar», Derlei recorda o apoio que sempre sentiu da parte de todos os adeptos.

«No Benfica as coisas não correram tão bem, porque não ganhámos nenhum título, enquanto no Sporting ainda conseguimos vencer a Taça e a Supertaça, e demos alguma felicidade aos adeptos», recorda.

«O Sporting fez uma revolução»

Mostrando-se atento à atualidade do futebol nacional, Derlei acredita, ainda assim, que o Benfica está em clara vantagem na luta pelo título.

«Na atual situação, para uma equipa que está dois pontos à frente, é muito mais fácil, porque só tem de manter. Quem vai correr atrás é que depende dos outros», analisa.

«Além disso, o Sporting ainda tem dois jogos difíceis – com todo o respeito às outras equipas –, um clássico no estádio do Dragão e tem também o Sp. Braga. Ou seja, o calendário aparenta ser mais difícil para o Sporting, que está dois pontos atrás. Não é impossível, mas o calendário não favorece o Sporting», antevê.

Apesar desta análise, Derlei deixa rasgados elogios ao trabalho que tem sido feito nos leões. «O Sporting fez uma revolução. O presidente tem trabalhado para que as coisas funcionem, e foi buscar um treinador que tem ganhado títulos e conhece muito bem o futebol português. O clube também conseguiu uma folga financeira para ir buscar jogadores importantes pela sua experiência, e esses jogadores é que têm feito a diferença. É por isso que o Sporting está na briga pelo título», conclui.