À partida para esta noite, o Sporting lia-se assim:

Ainda não perdera nesta edição da Liga e, no campeonato, só perdera um dos últimos 47 jogos.

Em casa, o Sporting não perdia há 33 jogos na Liga.

Somava oito vitórias consecutivas.

Só sofrera um golo nos cinco últimos jogos realizados na Liga.

Em Alvalade, somava seis vitórias nos sete jogos realizados neste campeonato.

Só sofrera um golo em casa [vs FC Porto].

Marcou em todos os jogos realizados nesta Liga.

Junte isto agora: o Boavista não ganhava há oito jogos e na Liga há dez.

Agora que sabe o resultado final, acrescente os pontos e chega a uma conclusão fácil. O futebol é, na maioria das vezes, um jogo de lógica. A vitória do Sporting e o primeiro lugar no final do dia eram de uma grande probabilidade que nem a ressaca de Amesterdão, mais do que o Boavista, conseguiram impedir.

A Pantera ainda quis surpreender a casa do leão, mas é certo e sabido quem nesta coisa da selva é o rei. Os números anteriores demonstravam-no, o jogo confirmou-o e o 2-0 de Alvalade pode não ter tido brilhantismo, mas teve a eficácia de sempre. Defensiva, primeiro, e a outra, de seguida.

Adán diz presente

O Boavista encaixou no Sporting, no fundo. Amorim tinha dito na véspera que Petit jogava no mesmo sistema e, para além disso, era a segunda vez que o treinador aqui tentava roubar pontos nesta liga. Ou seja, tinha uma experiência passada a servir-lhe de referência.

Os axadrezados alternaram a pressão. Houve momentos em que a subiram, apesar de, na maioria do tempo, terem ficado um pouco mais expectantes, mas sem recuar totalmente para o próprio meio-campo. O objetivo era importunar a construção de jogo leonina e apanhar o leão desprevenido.

A verdade é que os minutos iniciais mostraram um Boavista algo perigoso, ora em bola corrida, ora em bola parada. Não com muita cadência, como é óbvio, afinal estamos a falar de duas realidades futebolísticas diferentes. Mas o lance de Gorré na cara de Adan e a bola de Porozo, num livre, à qual Yusupha não chegou foram motivo para apreensão. Valeu, sobretudo, a presença do guarda-redes espanhol.

Talvez esse incómodo tenha despertado os leões. O público percebeu-o também e foi até importante. Já se viu Alvalade em maior ebulição, mas foi o suficiente para dar um ‘boost’ à equipa, que começou a parecer-se mais com o campeão em título.

Sem espaço para grandes combinações no corredor central quando em posse prolongada, o Sporting usou duas armas para chegar à baliza de Beiranvand. Os flancos e a transição rápida. Neste particular, Pote andou sempre em busca dos espaços, ora entre linhas, ora deixando a direita para ir ao meio, ora em busca da profundidade. Aos poucos, o leão chegava à área, ganhava alguns cantos e também aí causava perigo: Inácio atirou uma ocasião por cima.

Quando o VAR descobriu Matheus Nunes 33 centímetros adiantado à defesa boavisteira para adiar o 1-0, já o Sporting controlava o jogo em todos os aspetos e o Boavista, aquele Boavista inicial, era só mesmo uma lembrança longínqua do início do encontro.

Ainda assim, notava-se algum peso de Amesterdão. A ida à Holanda interrompeu o momento pós-dérbi e a receção de Alvalade certamente seria outra se não tivesse havido o Ajax pelo meio de tamanha vitória e regresso a casa.

Em suma, foi preciso recomeçar. No campeonato e no segundo tempo, já agora. Sem grandes diferenças notórias a não ser a troca de Porro por Esgaio, o Sporting chegou cedo ao golo e, logo de seguida, à resolução da partida.

Pedro Gonçalves foi constante no encontro e quando encarou a linha defensiva da Pantera, a probabilidade de «o Sporting marcar em todos jogos» aumentou. Nuno Santos e Sarabia construíram depois o 1-0, com os três personagens a serem também responsáveis pelo 2-0 apenas sete minutos depois.

O Boavista quis subir a pressão, foi incomodar Adán e acabou com a bola no meio do relvado. Pote não perdoou a ambição axadrezada e lançou Sarabia que lançou Nuno Santos que lançou a certeza: o Sporting ia mesmo vencer este jogo e ser líder isolado. Porquê? Porque o futebol nesta noite de Alvalade só não teve toda a lógica do mundo porque Pedro Gonçalves falhou um golo escandaloso.

Um momento incrível e contra tudo o que foi o encontro, com Amorim, logicamente lá está, a gerir peças com entradas e saídas: as de Bragança e Tomás por Ugarte e Nuno Santos, a de Neto por Nazinho e a de Tabata por Pedro Gonçalves. Há mais para jogar em dezembro.