*Por: Francisco Sousa

A tarde estava cinzenta, com ameaça de aguaceiros, todo um ambiente pouco propício a uma ida ao futebol. Quem achasse que não poderia haver algo mais cinzento do que o clima, estava enganado. O jogo entre Académica e Boavista foi a verdadeira intempérie que se abateu na cidade de Coimbra na tarde deste domingo, excetuando os agitados quatro minutos de compensação da segunda parte.
 
Enfrentavam-se dois conjuntos que ocupam posições e estilos de vida diferentes na tabela: uma Académica com a corda à volta do pescoço perante um Boavista mais perto do meio da tabela do que do último lugar, relativamente confortável nesta I Liga. O jogo, apesar da «obrigatoriedade» de vitória dos conimbricenses, foi insosso, muito por culpa da parca capacidade academista de acelerar um jogo que, em abono da verdade, assentou que nem uma luva a um Boavista organizadinho atrás, com bastante disciplina posicional e não arriscando em demasia nas saídas para o ataque.
 
Durante o primeiro tempo, foram poucas as ocasiões, em 45 minutos de futebol lento e mastigado. A Académica dominava, mas sem grande intensidade e incapaz de desmontar de forma clara a boa organização defensiva dos do Bessa. Além de uns assomos através da velocidade de Hugo Seco ou da capacidade de passe de Lucas Mineiro, pouco mais se viu da Briosa, cuja grande oportunidade ocorreu já nos últimos dez minutos do primeiro período, num livre de pé esquerdo de Ricardo Nascimento, que obrigou Mika a defesa aplicada. Do lado boavisteiro, viram-se algumas aceleradelas dos velozes Quincy e Brito e uma ou outra bola parada para a área academista. Muito pouco, portanto.
 
Ao intervalo, ambos os técnicos mexeram no ataque das suas equipas, sendo que Paulo Sérgio trocou o pouco inspirado Rafael Lopes para lançar Marinho e Petit aproveitou para agitar o jogo com o veloz e irreverente Zé Manuel.
 
De facto, os primeiros minutos do segundo tempo foram, muito provavelmente, os melhores de todo o jogo. Ambas as equipas entraram rápidas e agressivas, sendo que o Boavista conseguiu ter inclusivamente um maior controlo sobre a posse de bola do que nos primeiros 45 minutos. Brito e Zé Manuel foram setas lançadas em direção à baliza academista, enquanto do outro lado, Salim Cissé desperdiçou ocasião soberana para desempatar o jogo, após canto do lado direito.
 
Por falar em Cissé, diga-se que foi um dos protagonistas do jogo, pelos piores motivos. A pouco mais de 20 minutos dos 90 min., o avançado da Académica foi expulso por uma entrada dura sobre Idris e deixou a Briosa a jogar com menos um. Curiosamente, a equipa de Paulo Sérgio (que logo após a expulsão decidiu tirar um médio ofensivo para colocar um ponta-de-lança, Diallo) teve o seu melhor período no jogo depois de ter ficado reduzida a dez, pressionando em cima da defesa boavisteira e lançando a ilusão de que lutaria pela vitória até ao final.
 
Foi, no entanto, já nos últimos dez minutos que o caldo sem sal do jogo sem entornou, com uma agitação brutal em ambas as áreas. Primeiro, foi Aderlan a evitar o golo boavisteiro, após combinação entre Uchebo e Zé Manuel.

Já em tempo de compensação, três situações que demonstram bem a loucura deste período final do jogo: Diallo cabeceou para defesa fantástica de Mika; do outro lado, Brito fez golo, alguns jogadores do Boavista foram festejar com os adeptos e nem se chegaram a aperceber que este havia sido (bem) anulado. No contra-ataque, a Briosa quase marcou, mas Esgaio rematou torto. No final, resultado justíssimo, numa partida que teve situações excecionais de agitação ao longo dos 90 minutos e que só se revolucionou para lá do tempo. Sem efeitos práticos, porém.