Um erro enorme de Vagner, guarda-redes do Boavista, foi o xanax com água que o FC Porto precisava. O tic tac do relógio apontava os 63 minutos e o dragão suava de olhos esbugalhados, assolado por dúvidas e medos compatíveis com um ataque de pânico.

Herrera aproveitou, fez o 2-0 e a equipa de Conceição partiu para os melhores momentos de um dérbi sofrido e com um Boavista corajoso e de qualidade surpreendente.

Vitória certa dos azuis e brancos, sim senhor, mas numa exibição irregular e conduzida pelo síndrome da vertigem desconhecida, como se o líder do campeonato ganhasse, súbita e inexplicavelmente, receio das alturas do topo da Liga.

FICHA DE JOGO E O DÉRBI VISTO AO MINUTO 

Momentos antes de Herrera tomar a pastilha que a luva de Vagner lhe entregou, Iker Casillas fez uma defesa extraordinária a remate de Mateus e Sérgio Oliveira quase fazia autogolo num corte de cabeça apertadíssimo.

O Boavista justificou, por minutos, o rótulo que se perdeu algures na década passada – Boavistão, claro – e o golo que na altura lhe daria o empate.

Para se perceber melhor a exibição do FC Porto, talvez seja melhor outra imagem. O dragão passou o dérbi a desfazer a barba com uma catana, em risco iminente de perda de sangue e de pontos. Brincou com o perigo, amedrontado e trocista, convencido de que o golo madrugador de Felipe era per se equivalente a um dia completo de trabalho.

A entrada do FC Porto foi forte, fortíssima. Fez o tal golo por Felipe, manteve até aos 10/15 minutos uma pressão sufocante, mas a partir de dada altura expôs-se com erros primários em construção organizada e baixou os níveis de confiança.

DESTAQUES DO JOGO: Herrera, sim, mas antes houve Iker Casillas 

Sérgio Conceição trocou várias vezes as posições de Ricardo e Otávio (extremo direito/segundo avançado), mas o FC Porto só se sentia bem com espaço e em transições rápidas. Foi neste quadro que o Boavista cresceu no jogo, até ameaçar seriamente o empate na defesa supracitada de Iker Casillas.

Depois, lá está, Vagner borrou uma pintura até aí imaculada, o Boavista despiu o traje de Robin dos Bosques e os mais ricos (FC Porto) voltaram a mandar nos destinos dos mais pobres.

O dérbi teve emoção, resultado indefinido e duas intervenções muito importantes do VAR. Ambas acertadas. Vítor Bruno viu o cartão vermelho por entrada dura sobre Sérgio Oliveira, mas alertado por Bruno Esteves, o árbitro Manuel Oliveira consultou as imagens e transformou o vermelho em amarelo; no segundo tempo, Sérgio Oliveira fez golo de penálti – bem assinalado -, festejou com todo o banco de suplentes e depois viu o árbitro a correr para o monitor. Lance anulado, novamente bem, por Sérgio ter dado dois toques na bola na altura do remate.

O dragão segura a liderança, vence com justiça, mas sai do dérbi com a sensação de que esta foi uma das aparições menos autoritárias da época na condição de visitado. O xanax de Vagner foi a cura para grande parte dos males, mas há problemas que só vão ao sítio com terapia especializada.