Um saboroso nulo para Vitória e Benfica. Nunca um zero valeu tanto. Valeu um bicampeonato, neste caso, face ao empate do FC Porto no Estádio do Restelo. Neste domingo provou-se que a Liga portuguesa não é bicéfala. Vitória de Guimarães e Belenenses tiveram um papel decisivo no desfecho da história.

O Benfica volta a ser bicampeão, algo que não acontecia há mais de trinta anos. E tal acontece a uma jornada do final, com grande mérito de Jorge Jesus. Sem beliscar a integridade dos jogadores, a constatação é óbvia: este não era o plantel mais forte das últimas seis épocas, pelo contário.

O empate em Guimarães, aliás, demonstra que este não é um vencedor exemplar. Tem falhas, como tiveram outros, mas segurou a liderança ao longo da competição.

Uma nota para o Vitória: boa resposta num clima de tensão e o Sp. Braga, quatro classificado, a três pontos para a derradeira ronda.

Vida difícil em Guimarães

Não foi fácil para o Benfica, em abono da verdade. Minuto 62 no Estádio D. Afonso Henriques e o tempo a passar. Pizzi faz um passe diretamente para fora e Jorge Jesus olha para o relógio, denotando uma preocupação que não se vira até então. Ato contínuo, diz a Talisca para acelerar o aquecimento.

Os encarnados tinham entrado com menor fulgor numa etapa complementar que começou com inexplicável atraso. Uma cópia pouco fiel de uma equipa que chegou a Guimarães com um fulgor incrível, criando várias oportunidades de golo nos minutos iniciais.

A bola embateu na trave após boa defesa de Douglas, logo a abrir, e Lima atirou para as nuvens uma oportunidade soberana. Sem tempo para respirar, os adeptos do Benfica viam Salvio empurrar para a baliza após fora-de-jogo mal assinalado a Maxi Pereira. Momento polémico na Cidade-Berço.

Quente, quente, quente

O jogo estava como o ambiente à volta: quente. No dia em que os encarnados podiam festejar a conquista do bicampeonato, o Vitória celebrava o quinto lugar e consequente apuramento para a Liga Europa.

Ambiente de festa e tensão em Guimarães. A comitiva vitoriana passou pelo Toural antes do encontro e chegou tranquilamente ao recinto. Maior tensão quando o autocarro do Benfica entrou no recinto e um cenário lamentável a poucos minutos do início do encontro, com dezenas de adeptos a provocar desacatos numa via de acesso ao estádio, resposta com carga policial e tiros de shotgun.

Parecia uma final e as equipas justificaram as expetativas. O Vitória sentiu dificuldades na primeira meia-hora, não disfarçando a ausência de unidades influentes como Bruno Gaspar (lesionado), Bernard e Cafú (castigados). Rui Vitória reorganizou o onze com Josué à frente da defesa, atento às movimentações de Jonas.

Do lado encarnado, Jorge Jesus colocou Fejsa no lugar do castigado Samaris – o sérvio denotou ainda alguma falta de ritmo – e recuperou Nicolas Gaitán.

Tiros ao lado e polémicas

O Benfica entrou com pressa, muita pressa, queimando cartuchos atrás de cartuchos. Ao minuto 14, já depois de ter batido na trave, a bola foi ao poste da baliza do Vitória, após remate de Lima e desvio providencial de Douglas.
Foi o melhor período da formação orientada por Jorge Jesus.

Já perto da meia-hora, os jogadores locais pediram cartão vermelho para Maxi Pereira após lance com Otávio e, mais à frente, foram as águias a reclamar uma eventual grande penalidade por desvio de Moreno com o braço, quando tentou jogar a bola com a cabeça.

O intervalo aproximou-se sem registo de golos, não obstante às várias oportunidades, e traria uma Vitória com outra face na etapa complementar. O Benfica, por seu turno, caiu de produção.

Enquanto Maxi e Jonas procuravam resolver a questão, de cabeça, a equipa de Guimarães ia conquistando espaços no meio-campo contrário e ameaçando o golo.

O sorriso veio do Restelo

A segunda parte foi andando assim, em passada larga, até que um evento a mais de trezentos quilómetros de distância deu início à festa encarnada.

O Belenenses marcava frente ao FC Porto, garantia o empate e libertava o Benfica da pressão. A mensagem chegou rapidamente ao banco e o mesmo aconteceu com o final do jogo no Restelo, enquanto a bola ainda rolava em Guimarães.

Por essa altura, no D. Afonso Henriques, já não havia grande espaço para o futebol. Era um momento de celebração, de cânticos, bandeiras e tochas. O nulo bastou ao bicampeão.