O papel do empresário é um dos temas mais debatidos no futebol atual. «Mais-valia ou mal-necessário» é a pergunta que o livro Agente de Futebol (Prime Books), de Pedro Nogueira, procura responder.

A obra, apresentada nesta quinta-feira, tem depoimentos de várias personalidades ligadas ao fenómeno desportivo, relativas ao assunto. Há a visão de dirigentes, empresários, jogadores e jornalistas.

O Maisfutebol teve acesso ao livro e faz-lhe uma pré-publicação do mesmo, com duas histórias relatadas na obra.

José Luis, director-geral da SAD do Belenenses, é igualmente taxativo em relação a este tema: “A minha experiência com jogadores da Primeira Divisão que não têm agente e que falam com vários agentes diz-me que aqueles normalmente acabam no desemprego, porque isso demonstra que são chicos espertos e que não são sérios com as pessoas que trabalham consigo, uma vez que dizem a essas pessoas que não têm empresário mas, entretanto, já falaram com vários”. Relatando no seguimento um caso por si vivenciado, José Luis afirma:

“Quando o David Dias estava no Estrela da Amadora[1], ele dizia que não tinha empresário e, certo dia, o presidente do Futebol Clube do Porto revelou ao presidente do Estrela que estava interessado no David. Entretanto, quatro ou cinco agentes começaram a falar com o Pinto da Costa[2] sobre o jogador – e logo com o Pinto da Costa! Um dia, o Pinto da Costa convidou o presidente do Estrela a ir ter consigo à cidade do Porto e eu acompanhei-o. Às tantas, o presidente do Porto[3] chama os agentes todos, que pensavam que estavam lá como agentes únicos do jogador, e pergunta ao David – que ficou atrapalhado quando viu aquilo: «Destes senhores aqui, quem é o teu empresário?»; ao que ele respondeu: «É o senhor Jorge Mendes[4]». Nesse momento, começaram todos a insultá-lo à nossa frente e, passado um bocado, depois de já todos se terem ido embora, o Pinto da Costa disse ao David: «Isto demonstra que não tens capacidade para estar nesta casa». Por causa desse episódio, o David nunca chegou a ir para o Porto e, ainda hoje, diz que cometeu um erro. É realmente verdade, cometeu um erro porque não tinha de ter falado com ninguém, só tinha de ter deixado o presidente do Estrela da Amadora tratar do assunto e, depois então, logo poderia ter posto alguém no meio a intermediar o negócio, se quisesse…Mas não foi isso que ele fez, foi alimentando a situação, a ver se resultava: falou com o agente A, com o B e com o C e, depois, todos eles foram falar com o Porto…”

Para além do depoimento de Zé Luís, há ainda o de Catió Baldé, por exemplo.

Neste domínio, diz Catió Baldé, a idade dos atletas acaba por adquirir uma relevância significativa, já que esta exerce uma grande influência na forma como estes encaram uma possível troca de agente:

 

“Um jogador jovem cujo empresário não tenha um bom carro e não vista bem, ao ver que o empresário do colega tem um grande carro e está todo bem vestidinho, muitas vezes deixa-se influenciar e pensa: «O empresário dele é melhor do que o meu». No dia seguinte, o empresário desse jovem corre o risco de perder o atleta, porque estamos a lidar com miúdos de uma faixa etária perigosa. Há, por exemplo, empresários que vão buscar miúdos a clubes como o Carcavelos  e os metem em grandes clubes como o Sporting e, depois, quando esses miúdos crescem e começam a ser chamados à Selecção, têm de ir com eles ao centro comercial para lhes comprar grandes roupas e grandes chuteiras, pois caso não tenham poder financeiro para acompanhar a pedalada vão acabar por perder o jogador”.

 

Partilhando um dilema característico da vida de um agente que trabalha com jovens jogadores, vivido na primeira pessoa, Baldé afirma: “Um miúdo da academia do Benfica ligou-me no outro dia e disse-me: «O empresário do meu colega comprou-lhe um iPad e um telemóvel». O que é que farias na minha situação? Neste caso, ou ajudas o jogador – porque os pais não têm essa possibilidade e ele não ganha para isso – ou, se não lhe compras o que ele quer, vais acabar por perder o jogador para outro empresário”. “Sabes quantos telemóveis é que eu já comprei? Muitos!”, assevera o agente guineense, antes de lamentar em seguida esta situação: “Por força das circunstâncias sou obrigado a fazê-lo mas, muitas vezes, faço-o contra a minha vontade”.