João Félix. O rosto do Benfica 2018/19 em campo, e sublinhe-se em campo, está cheio de borbulhas, usa aparelho e tem o espírito rebelde da juventude. Depois daquela primeira aparição à terceira jornada, Félix tornou-se no ícone maior deste Benfica. Foi, por assim dizer, a imagem do ‘Lage effect’.

Quando se olhar para trás, irá perceber-se as tremendas épocas de Pizzi, Rafa ou André Almeida e até Seferovic. Mas, com muita probabilidade, 2018/19 será vista como aquela que foi a temporada em que Félix despontou de encarnado.

João Félix – o meu nome é João e vivo ao teu lado

Cervi era o titular, Rafa a segunda opção e, depois, lá surgia João Félix. À esquerda, onde Rui Vitória o imaginou. O primeiro impacto foi relevante. Um Benfica em desespero encontrou Félix na área. O miúdo, que se estreava no dérbi eterno, atirou para o empate com o Sporting.

Félix ainda salpicou o campeonato com aparições aqui e ali, com escassos minutos em campo. Depois, tudo mudou. Se o ‘Lage effect’ tem rosto em campo, ele é João Félix. Samaris, Rafa ou até Seferovic podem ser membros desse corpo, mas o 79 é, sem dúvida, a cara de um Benfica rejuvenescido com golos atrás de golos, exibições atrás de exibições, a maior de todas na casa do lado: Alvalade. Félix deslizou no Dragão e foi ele o maior argumento de uma ideia que passou dos gabinetes para o relvado: os miúdos do Seixal.

Pizzi – necessita de assistência, ligue para o 21

Uma temporada memorável. Pizzi foi o jogador mais regular do Benfica. Porque começou a fazer números com Rui Vitória e não parou com Lage. Depois de uma época de 2017/18 de quebra, o transmontano foi logo a primeira figura do campeonato, com um hat-trick ao Vitória de Guimarães (3-2). No resto de 2018/19 marcou golos como sempre e assistiu como nunca.

Cada vez que foi preciso assistência, o Benfica ligou o 21, número de emergência. Pizzi também foi apanhado na revolução Lage, mas manteve o nível de desempenho: saiu do meio, passou para a direita, andou pela esquerda aqui e ali, voltou ao meio quando foi preciso e nunca, mas nunca, baixou do aceitável. 

André Almeida – aos 28 anos deu o salto… para o meio-campo contrário

Tantas vezes olhado de lado, tantas vezes em dúvida assumiu, finalmente, como um pilar do Benfica. As reticências iniciais tornaram-se em exclamações à medida que a época avançou. Coincidentemente, melhorou ao mesmo tempo que a braçadeira de capitão se lhe moldou ao corpo.

Numa equipa com muita juventude, André Almeida revelou-se um autêntico sénior: no sentido da experiência e da liderança. E do jogo. Calou muitos críticos que lhe apontavam a falta de jogo ofensivo e, aos 28 anos, deu o salto…para o meio-campo contrário com mais de uma dezena de assistências no campeonato e o habitual par de golos, como em temporadas anteriores. Almeida foi muito mais do que um lateral-direito, foi uma referência quando o Benfica quase parecia órfão delas.

Seferovic – um canivete no bolso

Jonas quase ia, mas ficava. Ferreyra era a grande contratação e Castillo estava-lhe à frente. Seferovic vinha depois de todos os outros, quase tão depois que esteve para não chegar. As costas de Jonas fartaram-se, porém, e Lage teve de arranjar outro corpo para que o futebol ofensivo do Benfica tivesse onde repousar, com o argentino e o chileno já fora da Luz.

A dupla com João Félix deu frutos desde cedo e, em 12 jogos seguidos de Liga, Seferovic apontou nada mais, nada menos do que 15 golos. Uma sequência incrível que catapultou os encarnados para o topo da Liga e o jogador helvético para o trono dos goleadores. Era o quarto avançado, um canivete suíço estava guardado no bolso, que Lage foi buscar e que se tornou no melhor marcador da Liga. O suíço fez a melhor temporada da carreira.

Rafa – nem a lesão o parou

Finalmente, Rafa cumpriu a promessa. O início foi promissor, ainda que o titular de Rui Vitória fosse Franco Cervi. Aos poucos, Rafa foi marcando pontos na atenção e golos nas redes contrárias. Ainda assim, no final de 2018, uma rotura muscular obrigou-o a ficar ausente de competição.

O que se antevia como uma boa época ficou em dúvida, mas desta vez, Rafa cumpriu a promessa e mostrou o futebol que se lhe vira em Braga, que o levou à seleção nacional e ao Benfica. E a isso, Rafa juntou-lhe golo. Não só golo pelo golo, mas alguns dos golos que decidiram o campeonato, como aquele que fez no Dragão e, tão importantes como este, os dois ao Portimonense, num dia em que a águia passava muito mal na própria casa.

Samaris – se não o queriam, agora amam-no

Não contava, mudaram-lhe o número, deixou-se ficar e agora, todos o querem.  Andreas Samaris nunca foi um titular absoluto na Luz, mas 2019 mudou por completo esse cenário. A ausência de Fejsa abriu-lhe uma porta há muito tempo fechada e, se João Félix é o rosto do efeito Lage, Samaris é o coração.

O grego fez troianos de todos os adversários, atirou-se a jogo com atitude, mas, como isso só não basta, trouxe o seu melhor desempenho futebolístico para o relvado. Melhorou na capacidade de recuperação e ainda elevou o jogo ofensivo.

Grimaldo – nunca surpreendeu e isso foi ótimo

A ligação direta entre o pé esquerdo de Grimaldo e a cabeça do espanhol é uma das melhores armas ofensivas da Liga. O camisola 3 do Benfica nunca surpreendeu e isso foi a melhor notícia para as águias.

Com uma qualidade reconhecida de épocas anteriores, acrescentou-lhe a consistência que tinha faltado antes. Fisicamente disponível como nunca, Grimaldo assistiu, fez golos e mesmo nos períodos de maior escuridão do futebol do Benfica foi um raio de sol. Tantas e tantas vezes as águias o procuraram para sair de problemas.

Gabriel – parecia um filme e afinal é uma novela

A temporada 2017/18 tinha deixado uma indicação clara ao Benfica: a equipa precisava de alguém para a posição 8. Gabriel não tinha currículo de craque, mas trazia credenciais que mereciam olhar atento.

A contratação parecia um filme: começou a ser negociada em julho, Gabriel ficou em treinar no Leganés e chegou já perto do final de agosto, com o Benfica em campo a disputar um dérbi com o Sporting. Rui Vitória apostou nele, as exibições e os resultados não surgiram e Gabriel ficou sem margem. Mas o filme virou novela e, nessas, pode existir contrariedade que o final é sempre igual. Gabriel terminou a época mais cedo, causou um susto aos benfiquistas com a lesão, mas, mesmo não sendo o maior dos protagonistas, contribuiu e muito para este final feliz.

Rúben Dias – sempre em campo

Contam-se pelos dedos de uma das mãos as vezes que o Benfica entrou em campo sem Rúben Dias nesta época. Em 60 jogos realizados pelos encarnados, o central participou em 55.

Um número recorde e quase sem paralelo nas principais ligas da Europa. E se a isso juntarmos os oito encontros realizados pela seleção em 2018/19 dir-se-á que quase ninguém jogou como ele. Quem passa tanto tempo em campo está, obviamente, a ficar com a folha menos limpa do que outros e foi isso que sucedeu a Rúben Dias.

A época não foi isenta de erros, mas aos 22 anos e na segunda época na equipa principal, Rúben Dias tornou-se imprescindível tanto para Rui Vitória como para Bruno Lage. Em 2018/19, onde esteve o Benfica, esteve a camisola 6.

Jonas – porque há coisas que só ele consegue

Haveria sempre um espaço para Jonas. Porquê? Porque há coisas que só o 10 consegue fazer. O golo em Setúbal, por exemplo. O 1-0 ao Belenenses antes do 2-2 final e também os minutos em campo no bem recente jogo com o Portimonense.

O universo encarnado inquietou-se com a possibilidade de Jonas, o melhor jogador no plantel, sair no verão. Jonas decidiu ficar, mas as costas, malditas, retiraram-no de campo. Ainda assim, resgatou a equipa em vários momentos, ora com golos, ora com experiência. O jogo com o Portimonense foi um desses casos. Entrou, deu ordens, organizou, acalmou os miúdos dizendo-lhes para onde ir e terminou a celebrar como um menino pelo golo 300 na carreira. Não foi a figura maior, mas teve momentos determinantes.