Cada transição do FC Porto – ofensiva e defensiva - é um documentário sobre a vida selvagem. Não há muitas equipas no planeta capazes de perseguir e escapar, de matar ou fugir com vida, de mandar nas savanas da bola.

Só esta forma de estar do dragão é capaz de explicar a anulação quase perfeita de um Rio Ave que, até este jogo, fazia da elegância e civismo no trato de bola um seguro contra roubos e atentados mais sérios.

O FC Porto foi extraordinariamente superior até ao intervalo e razoavelmente melhor no segundo tempo. Apanhou um susto de morte – lá está – quando Mehdi Taremi, o assassino persa, fugiu nas costas dos centrais para fazer o 1-1 (o VAR confirmou a indicação de fora-de-jogo do «bandeirinha») e agarrou os três pontos numa das visitas mais exigentes que o calendário indicava.

No final, acabou por ganhar no salto (golo de Marega) e no comprimento (golo anulado a Taremi por centímetros).

FICHA DE JOGO E NOTAS AOS ATLETAS

O Rio Ave tinha dois caminhos e desta vez escolheu o pior. Ao ver-se incapaz de ter bola, circular e encontrar linhas de passe, como tão bem faz, a equipa de Carvalhal encolheu-se, baixou linhas e representou um papel para o qual não está vocacionada.

Até ao tempo de descanso, o FC Porto mandava como queria, fazia uma pressão organizada, recuperava em zonas altas e depois… montava imagens que podiam perfeitamente ser aproveitadas pelo National Geographic.

Marega (belo golo de cabeça aos 12 minutos) e Zé Luís felinos na frente, Otávio e Uribe fantásticos na antecipação/recuperação, Nakajima a procurar sempre os espaços entre linhas e a espalhar o pânico quando se soltava.

A coisa estava tão feia para o Rio Ave que Carlos Carvalhal mexeu em duas peças no descanso. Sacrificou um lateral (Nélson Monte) e um médio (Diego Lopes) para lançar outro médio (Jambor) e um avançado (Taremi).

DESTAQUES DO JOGO: Uribe e Otávio mandaram no meio, Kieszek brilhou

Resultou? Ora bem, o Rio Ave melhorou, é verdade, mas não o suficiente para justificar o empate. Além do golo anulado a Taremi, o Rio Ave teve uma mão cheia de cruzamentos na fase do tudo ou nada, do risco absoluto, mas sem criar um lance de verdadeiro perigo.

Manteve a dúvida sobre o resultado até ao fim, sim, apertou o dragão, mas basta consultar o FILME DO JOGO para se perceber que o Porto continuou a ser mais competente nas aproximações à baliza contrária: um livre de Alex Telles aos ferros, outro defendido por Kieszek e ainda um pontapé de Zé Luís bem parado pelo polaco.

É uma questão de sobrevivência: o instinto animal da equipa de Conceição ganhou o jogo no primeiro tempo e manteve-o a salvo no segundo. Vida animal.