Rafa Lopes tem bem presente na memória a última vez que marcou um golo no escalão principal. «Foi contra o Benfica», dispara com a mesma velocidade que rematou à baliza de Rui Patrício, perante a curiosidade do Maisfutebol. Há mais de dois anos, acrescentamos nós.

A 12 de maio de 2012, no Bonfim, quando representava o Vitória, que não resistiu às águias (1-3), conseguiu colocar os sadinos na frente, mas Bruno César, por duas vezes, e Cardozo, haveriam de sentenciar a partida.

Depois de seis meses de novo na ribalta, ao serviço da Académica, sem festejar por uma vez a valer - «até marquei, mas foram anulados!», lembra de pronto... -, o jovem avançado (23 anos) parece talhado para os grandes momentos. Marcou a Eduardo, agora foi a vez do titular da Seleção provar do seu veneno.

Ironia do destino, a última vítima da sua codícia, em termos absolutos, fora também o Sporting, no penúltimo jogo que realizou pelo Penafiel, em Janeiro deste ano. Marcou de grande penalidade em Alvalade, diante dos bês. Coincidências, apenas, que um ponta-de-lança não olha ao guarda-redes quando tem de aplicar-se no ofício.

«Foi um alívio. O que custa é o primeiro. É normal em todos os pontas-de-lança, aquela ansiedade à espera que o primeiro golo aconteça. Com naturalidade e trabalho as coisas acabam por acontecer», desabafa, perfeitamente ciente do que aconteceu para que não tivesse marcado da segunda metade da última época, já em Coimbra:

«A Liga era diferente, assim como a equipa, o treinador e as ideias de jogo. Os jogadores não me conheciam e vice-versa. Os processos de jogo demoram a assimilar. Ficou a expetativa por marcar o primeiro, não acontecia, fica-se sempre um pouco mais retraído, e, quando dei conta, tinha terminado a temporada.»

Nem viu como foi o golo

O golo, está bom de ver, teve um gosto especial. Tão especial que o possante avançado nem conseguiu saboreá-lo no momento. Só mais tarde, pela televisão. A adrenalina tem destas coisas.

«Só vi a bola entrar. Na altura, ela parou-me nos pés, chutei, e só a vi quando ela bateu na rede. Não vi como tinha sido o golo em si, a jogada, a distância do remate, se passou perto do guarda-redes... não tinha essa ideia. Fiquei contente, mas também triste, porque podia ter feito golo de cabeça na jogada anterior.»

A provocação tornou-se inevitável: será que olhou para o árbitro depois de ver a bola passar o risco fatal? Sorri, abre os braços, abana ligeiramente a cabeça, e solta um: «Por amor de Deus, desta vez estava bem atrás!»

O momento teve, ainda, uma dedicatória inédita. «Para a minha esposa... e para o meu filho, que ainda não tinha visto o pai marcar. Só tem seis meses. Está sempre presente nos meus jogos. Mais um goleador? Vai ser o que ele quiser, será sempre um orgulho para mim. O primeiro de muitos? O quê, filhos? Claro. Estou a pensar em três... sempre gostei muito de hat tricks!», exclama, divertido.