Empate no dérbi, e todos os raios caem em cima de Artur. Sempre no mesmo lugar. É azar, sim – porque a bola poderia cair em tantos outros sítios que não em cima da linha de golo –, mas quando não respeitamos os conselhos dos velhos, quando insistimos em sair à rua numa tarde de trovoada, a sorte passa a ser um bode expiatório. Houve um momento em que Artur poderia ter evitado deixar a sua zona de conforto. É verdade que o passe de Eliseu deu-lhe pouco espaço. Que a pressão de Carrillo (e também de Slimani) deixaram-lhe pouco tempo, mas Artur podia ter abanado a cabeça e fechado a porta. Naquele primeiro toque, não tinha de dominar. Só tinha de ter medo dos trovões. Jogar feio. E deixar que passasse.

Esse momento – numa altura em que o Sporting tentava reagir, ainda mais com o coração do que com a cabeça, à boa jogada coletiva que criara o golo de Gaitán    acalmou os leões depois de um início complicado. Os adeptos leoninos, colocados atrás de Artur, não paravam de ajudar a sua equipa. Não só com o apoio do costume, mas também com o gritar do nome do guarda-redes rival a cada hesitação, a cada sinal de fraqueza. O Benfica, entretanto, também perdera a intensidade dos primeiros minutos, que lhes dera um primeiro ascendente, e surgia mais frágil agora na luta do meio-campo, com um Adrien a subir de rendimento.

Um golo de equipa

Mas voltemos ao início. O primeiro sinal de perigo saiu da cabeça de Slimani, aos três minutos, antecedendo duas boas oportunidades para os da casa. Talisca – talvez no melhor jogo pelos encarnados, a mostrar alguma evolução e Luisão obrigavam Patrício a mostrar-se atento. Veio depois o golo, aos 12 minutos. Uma jogada de envolvimento, que praticamente começa em Maxi, passa por Enzo, por Salvio, depois de novo pelo uruguaio até chegar ao pé direito de Gaitán. Rui Patrício, apanhado em contra-pé, ainda tocou, mas não evitou os festejos dos encarnados. 

O Sporting reagiu. Carrillo era o mais ativo, nem sempre correspondendo bem a tudo o que se lhe pedia. E o erro de Artur caiu do céu. Os leões passaram a controlar melhor a bola, gerindo-a com mais eficácia, não procurando a vertigem em que o Benfica assenta a maior parte do seu jogo. Começaram a sair melhor dos momentos de pressão que o rival colocava, e que agora parecia chegar sempre tarde, e tiveram jogadas em que obrigaram Luisão, Jardel e companhia a sobressaltos. Artur ouviu mais uns «Artur, Artur» numa saída a um cruzamento e em mais algumas jogadas, e os restantes companheiros ter-se-ão desconcentrado e hesitado também eles. Seria que o mais aconselhável era ajudar a segurar as pontas na sua área ou ir em busca do empate? Artur não dava sinais de mostrar o polegar para cima e o Sporting aproveitou. Slimani teve a melhor oportunidade, mas rematou fraco para Artur.

Nos últimos minutos do primeiro tempo, a equipa de Jorge Jesus voltaria a dar alguns sinais de recuperação, um sinal de que o intervalo podia ajudar a recuperar o que perdeu depois do golo do Sporting. 

Mais intensidade outra vez   

Gaitán e Salvio, logo depois do regresso, incendiaram o ambiente, com Adrien a rematar por cima na resposta. Jardel assustou Patrício, Talisca obrigou o guarda-redes a desviar para canto. Enzo chegou com vontade, mas atirou ao lado. Salvio falhou o que não costuma falhar, em zona frontal, a passe de Lima, e só com o número1 da Seleção Nacional pela frente. O estádio sentia o golo. André Almeida obrigava a mais uma defesa, esta difícil. Toto, outra vez, encontrava as malhas. O Benfica tinha recuperado a intensidade que o faz muito forte, e o Sporting abanava.

Mas quando pareciam quase a claudicar, os homens de Marco Silva voltaram a ter bola. O ritmo voltou a abrandar. Capel foi a primeira opção para o lugar de Carrillo, depois Carlos Mané rendeu Adrien. Rosell também iria a jogo, substituindo André Martins. Durante dez minutos, o Benfica voltou a perder-se, a deixar o rival respirar. Jesus iria mexer aos 85  apenas. Derley renderia Talisca, já depois de Salvio ter voltado a assustar Jefferson e Patrício. E não entraria mais ninguém.

Segredo do Sporting foi ter a bola  

Slimani teria mais uma  – e grande!  oportunidade, aos 88 minutos, mas desta vez Artur negaria o golo do triunfo aos leões. Nani fizera o cruzamento, delicioso.

O dérbi acabaria pouco depois, com a igualdade a um golo. Justificando-se. O Benfica foi melhor enquanto conseguiu jogar com batimentos acelerados, o Sporting superiorizou-se quando recuperou o fôlego, quase sempre depois de grandes acelerações do rival.

Ao longo da semana, falou-se muito da titularidade ou não de Artur, com Júlio César à espreita. O risco de colocar o internacional brasileiro e dar errado era, para muitos, aparentemente maior do que manter a confiança num Artur que não se tinha voltado a expor depois dos penáltis da Supertaça. Mas pensar que o guarda-redes estava diferente depois de tantas provas dadas em contrário não terá sido também sair à rua numa tarde de trovoada?