Abel Camará publicou um comunicado para denunciar uma tentativa de agressão à sua companheira, que está grávida, após a derrota frente ao Paços de Ferreira. O capitão do Belenenses foi insultado por adeptos à saída do Estádio do Restelo e saiu do carro face a esse cenário, gerando-se um momento de maior tensão.

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O avançado escreveu um longo texto em que descreve a má relação dos adeptos consigo, tudo por causa de um incidente que remonta a 2011/12, e diz que as acusações de agressões e posse de armas e facas que fazem a si, aos amigos e familiares nunca foram provadas.

O internacional pela Guiné-Bissau diz compreender que os assobios e a crítica fazem parte do futebol, mas que agressões aos seus familiares que esperam todos os jogos por si no mesmo local é que não é tolerável.

O comunicado de Abel Camará na íntegra: 

«Esta é a minha oitava época de ligação ao Os Belenenses. Cheguei em 2008, para o escalão de juniores, para uma equipa que, treinada pelo actual seleccionador de sub-21, ficou em terceiro lugar na zona Sul do campeonato nacional. Desde então, servi a equipa sénior, na primeira e na segunda divisão, e estive cedido a outros clubes, em Portugal o Estrela da Amadora e Beira-Mar, e no estrangeiro o Petrolu, da Roménia, e o Al-Faisaly, da Arábia Saudita. No total, como sénior, já vesti a camisola do clube mais de cem vezes - 122, para ser mais exacto. Sou internacional pela Guiné Bissau.

E a verdade é que aguentei muito. Desde a época em que regressei da cedência ao Petrolul, em 2014/15. Nessa temporada, convém recordar, conseguimos o apuramento para a Liga Europa, mas também não me esqueço de que fui insultado logo no primeiro jogo de preparação, contra o Oriental. O grupo e toda a estrutura, liderada pela Presidente Rui Pedro Soares, não deixaram que um pequeno grupo de gente que se assume como anti-Belenenses SAD me incomodasse ou desestabilizasse a equipa e, pouco a pouco, fomos superando o sucedido.

Este ódio por parte dessa pequena facção vem da época 2011/12. No final de um jogo contra o Sporting da Covilhã, alguns adeptos manifestaram a sua legítima insatisfação, mas houve então um grupo que resolveu rodear e insultar a mãe do nosso capitão da altura, Sérgio Barge. Nesse momento resolvi intervir, separei as pessoas e acalmei a situação, tendo posteriormente sido acusado de ter agredido esses adeptos. Até hoje, contudo, ninguém o provou nem apresentou queixa. Se tivesse havido incorrecto da minha parte, por que não teriam apresentado queixa?

Na semana seguinte, jogámos contra o Trofense e infelizmente perdemos. No final do encontro, e como sempre sucede - como sucedeu, de resto, no último domingo -, alguns dos meus familiares e amigos aguardaram a minha saída do estádio. Mais uma vez, um grupo de adeptos acusou-os de agressão e de terem mostrado facas e armas. Até hoje, mais uma vez, ninguém o provou nem apresentou queixa. E após cada jogo no Restelo os mesmos familiares e amigos continuam a aguardar a minha saída, exactamente no mesmo local.

Infelizmente, por razões que realmente me ultrapassam e que até hoje não consigo entender, a situação tomou outros caminhos e um pequeno grupo de desordeiros espera sempre uma falha minha para me atacar e desestabilizar, como voltou a acontecer no jogo deste domingo, contra o Paços de Ferreira. Não conseguem, desde logo porque serão sempre mais os que me apoiam dos que os que me assobiam. E porque tenho uma personalidade forte e saio sempre de cabeça erguida, seja de um jogo ou de um treino, e com a consciência de tudo ter dado pelo Belenenses.

Este domingo, à saída do estádio, quando esperava a minha companheira, deparo-me com um grupo de desordeiros a insultar-me e a tentar agredir-me. Um deles tentou inclusivamente agredir a minha companheira, que está grávida. E isso eu não admito. Assobiar e insultar faz parte, infelizmente, da vida de jogador, e faz parte sobretudo da cultura desportiva que desde algum tempo se instalou em Portugal. Mas partir para a agressão é algo intolerável e que jamais admitirei. Sendo certo que basta ver as redes sociais para saber que tudo isto e uma campanha organizada, e todos sabem quem são as pessoas que a organizam e incentivam.

Apesar do sucedido, e porque a minha ligação ao Os Belenenses não começou ontem, e sobretudo porque sou um profissional sério e dedicado, continuarei focado em ajudar a equipa, que muito me orgulho de capitanear, a terminar a temporada da melhor forma. O meu percurso no futebol profissional já é longo e felizmente por onde tenho passado todos, sem excepção, têm reconhecido a minha dedicação e o meu carácter. E é isso que me faz ter a consciência tranquila.»