Antes que os leitores mais amargos encham a caixa de comentários com insultos ao jornalista, apontando o dedo e tentando adivinhar clubes, convém explicar que o subtítulo desta crónica não tem nenhum desejo subjacente: é apenas a constatação de um facto.

O Benfica segue realmente imparável, embrulhado num xaile de entusiasmo, vitórias e golos.

Quando se fala aqui de Benfica, não se fala da equipa apenas: fala-se de clube na sua enorme comunhão. Fala-se enfim de equipa, sim, mas fala-se também de jogadores individualmente e fala-se sobretudo de adeptos.

Esta noite estiveram milhares no Estádio do Restelo, numa enorme curva vermelha. Não pararam de cantar, de aplaudir, de puxar pela equipa e de celebrar, claro.

É uma onda de benfiquismo e euforia, no fundo.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Faz sentido, a equipa somou a 11º vitória consecutiva. Mas fez mais do que isso: foi por exemplo a terceira goleada seguida e foi o sétimo jogo nessas onze vitórias a marcar mais de três golos. Para já leva 59 golos em 21 jornadas do campeonato, o que dá uma média de 2,8 golos por jogo.

Lapidar, não é?

Ora perante estes dados, que não são apenas números, é difícil não haver um clima de excitação. O Benfica anda alegre, anda solto e anda feliz. O resto são vítimas que ficam pelo caminho.

Ora por falar em vítimas, convém fazer um parêntesis para falar do Belenenses.

A formação do Restelo foi goleada sem apelo nem agravo, mas deve-se sublinhar que não podemos desejar um futebol português mais elegante e depois criticar a atitude aventureira desta equipa.

Este Belenenses é realmente arrojado, nunca recuou as linhas, jogou subido no terreno, tentou ter posse de bola e construir futebol com critério. Entrou até em campo com um médio adaptado a central (Ruben Pinto), para dar melhor toque de bola à primeira zona de construção. Acabou goleado, é verdade, mas pelo que se disse antes merece o nosso aplauso: é bem-vindo ao campeonato nacional.

             Renato Sanches voltou a encher o campo, como tantas vezes esta época: fundamental

O problema deste Belenenses é que defende mal. Ruben Pinto, a tal adaptação para dar toque de bola à defesa, falhou completamente o tempo de salto no golo inaugural do Benfica, por exemplo. Mas houve mais: houve muitas bolas arriscadas jogadas para o guarda-redes, houve espaços mal preenchidos, houve vários defeitos que foram permitindo aos encarnados criar ocasiões de golo.

Ora cometer erros perante um adversário moralizado como o Benfica pode ser fatal: e está noite foi.

A equipa já tinha ameaçado na primeira parte, só marcou em cima do intervalo, é certo, mas despejou golos no segundo tempo. Como o fez? Como sempre, aproveitando os espaços no último terço para criar desequilíbrios. Podia ser em saídas rápidas ou podia ser através das entradas de Renato Sanches no espaço vazio: um movimento simples e que funciona sempre bem.

Basicamente o extremo recua e arrasta o lateral, Renato Sanches entra vindo de trás e recebe a bola em zona de decisão. Fácil, não é? Quem diz que o futebol tem de ser complicado.

Mitrogolos em mais uma noite à Benfica: os destaques do jogo

O resto, lá está, é o estímulo natural de jogadores que se sentem soltos e criativos.

É basicamente o talento individual.

Mitroglou, por exemplo, somou o quinto jogo a marcar, ele que voltou a fazer um hat-trick dois anos e meio depois (o último tinha sido em outubro de 2012). Jonas, por outro lado, chegou aos 23 golos e igualou Higuaín no topo da corrida à Bota de Ouro.

Já Pizzi e Gaitán fizeram duas assistências cada um, eles que são o motor deste Benfica.

Enfim, é fácil começar a elogiar os jogadores do Benfica e não parar: afinal de contas estão todos bem, todos levados na onda de entusiasmo de um rolo compressor, de uma máquina de fazer golos que pela primeira vez esta temporada vai dormir na liderança: sentes a tensão, Sporting?