As redes sociais de André e Ricardo Horta estão cheias de fotografias dos dois. De agora, mais antigas, com a camisola do Vitória de Setúbal, na América, com os amigos e os primos, com o resto da família, de boné, sem boné, com a camisola da seleção, a cantar o hino, abraçados…

Os dois irmãos mostram uma grande cumplicidade. Fazem-no publicamente sem complexos, como sempre devia ser, apesar de jogarem em clubes diferentes nesta Liga 2016/17. Com milhões a ver, fizeram-no logo após a Supertaça entre Benfica e Sp. Braga, um duelo que se repete nesta segunda-feira e que os coloca em lados opostos de um só jogo. Se Ricardo recuperar, ele que foi convocado no Sp. Braga, mas está em dúvida.

Não é caso único no futebol nacional, mas é «peculiar, estranho e esquisito».

 

 

Várias duplas de irmãos jogaram no campeonato português. Aliás, do lado do Benfica isso nem é novidade nenhuma. No campeonato nacional, houve até irmãos brasileiros que jogaram um contra outro em clássicos de FC Porto e Sporting.

Se do lado de cá do televisor ou da bancada pouco efeito tem, a não ser como curiosidade, dentro do seio familiar é bem diferente.

Nelson e Albertino, gémeos, jogaram várias vezes um contra o outro durante a carreira de ambos. «É uma situação peculiar, fora do comum, mas ao mesmo tempo um motivo de alegria, pois ambos atingimos os objetivos de sermos profissionais e jogarmos em clubes de Liga», conta-nos o antigo lateral de Sporting, FC Porto, Aston Villa e V. Setúbal.

Campeão do mundo de sub-20 em Lisboa, Fernando Nelson explica o que é vivenciar um encontro frente ao irmão e acredita que com os Horta acontecerá igual.

«É estranho, é esquisito. Na vida particular, queremos sempre o bem um do outro, no campo não pode ser assim», referiu ao Maisfutebol, para garantir que «são sentimentos muito antagónicos».

Não será apenas diferente para André Horta e Ricardo Horta, pois «durante a semana, isso é o motivo de conversa dentro da família, que vive a expectativa desses momentos».

Nelson sublinha que «a família fica muito dividida», mas que no caso muito próprio dele e de Albertino havia algo a considerar.

«A maior parte da minha é sportinguista. Eu também sou, o meu irmão sempre foi do FC Porto. Quando eu estava no Sporting e ele no Salgueiros torciam por mim, quando eu fui para o FC Porto e ele estava no Marítimo, e até chegámos a jogar uma final da Taça de Portugal, torciam por ele. Quando fui para o Vitória aí já ficou difícil de perceber», riu o antigo lateral.

Ora, se fosse por aí, seria fácil adivinhar para que lado estariam inclinados Fernando e Anabela Horta, os senhores que deram origem a este texto. É conhecido que o benfiquismo na família.

Conhecer as manhas um do outro

Dentro de campo, André e Ricardo ocupam posições diferentes no terreno. Nem é garantido que se defrontem. Uma das últimas fotos de ambos é do dia de aniversário do mais velho, que falhou o jogo da Liga Europa por uma virose. Ricardo Horta também ficou na bancada na Supertaça.

Já Nelson e Albertino jogaram quase sempre à distância de uma diagonal de lateral direito para lateral direito. «Aconteceu cruzarmo-nos no mesmo flanco uma única vez e lembro-me que, de certa forma, nos anulámos um ao outro. Há muito conhecimento do que é o outro», disse Nelson.

Toda a informação de peladas, jogos na sala de estar, no corredor, na casa dos avós, na casa dos outros avós, com os amigos é processada.

 

 

So porque hoje e o dia dos MANOS !! ❤️👊 @andrehorta10

A photo posted by Ricardo Horta (@ricardohorta21) on

 

«Nas brincadeiras de rua, quando se cresce, há momentos em que se é da mesma equipa, outros em que não, acabamos por nos conhecer de tal forma que um anula o outro», justificou o campeão do mundo de Lisboa 91.

Em Aveiro, correu o país o abraço entre André e Ricardo. Nelson diz que é normal: «A seguir ao jogo vínhamos a conversar pelo caminho fora e a falar das incidências do jogo. Era a primeira pessoa que procurava antes e depois da partida. É sempre especial, inclusive, após alguns jogos tirávamos fotografias juntos para recordar.»

O antigo lateral considera que «as reações dos Horta vão ser muito semelhantes» às de Nelson e Albertino Alves. «Não vão diferenciar das que eu vivi com o meu irmão. Se podem mudar ao longo dos anos? Não, eu defrontei o meu irmão pela primeira vez aos 21 anos. Éramos muito jovens também. A única coisa que muda é a relevância dos clubes. O impacto depende dos clubes ou da importância do jogo, porque pode ser uma descida de divisão ou uma final de uma taça.»

Como é que eles são?

O Vitória de Setúbal é um clube comum aos dois rapazes de Almada. Foi ali que chegaram à Liga, foi pelos sadinos que marcaram os primeiros golos. E o primeiro de André, apontado frente ao Belenenses, levou a uma cascata de lágrimas. «As pessoas não compreendem», declarou ao tentar explicar o que sentia por estar a dedicar o golo a Ricardo.

Foi um pouco o que aconteceu na tal Supertaça de Aveiro, já com André de águia ao peito, o símbolo que sempre seguiu para todo o lado. O extrovertido da equação desatou num choro, numa das imagens fortes daquela noite e que ambos recordaram.

Entre eles, «o André é mais atrevido» do que o mano mais velho, frisa Dani, médio do Vizela que partilhou o balneário do Vitória com os dois. «Atrevido no bom sentido, muito mais falador, é mais brincalhão. O Ricardo é mais reservado, fica sempre no cantinho dele», acrescentou.

Dani dá conta daquilo que o país sabe, mesmo que seja apenas por redes sociais ou por breves declarações em flash-interviews, que se chamam assim por serem curtos e não se poder aprofundar temas como este.

«São mesmo muito próximos, o Ricardo ia ver os jogos do Vitória muitas vezes, sempre que podia estava no estádio. São muito chegados, sempre a ligar um ao outro, são irmãos e os melhores amigos», concluiu Dani.

Agora também são colegas de equipa na seleção sub-21, numa reedição da chamada dos Fontes: José e Rui estiveram juntos na AA.

André vive o que sempre sonhou para ele e para o irmão, diz que as conquistas que alcança são de Ricardo também, ainda que nesta segunda-feira não seja bem assim.