DESTINO: 90s é uma nova rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis.  DESTINO: 90s. 

JORGE SOARES: FARENSE, BENFICA, MARÍTIMO, DE 1989 A 2002

Jorge Soares reconhece, sem rodeios, que nunca teve muita paciência para a escola. Quando estava no auge, trocou os livros pelas chuteiras, mas, à medida que o final da carreira se aproximava, fez uma inversão de marcha. Na Madeira, quase sentiu a questão como um problema de consciência: morava em frente a uma escola. Até parecia mal, dizia.

«10 anos depois, voltei a estudar. Foi por módulos. Enquanto lá estive, fiz o sétimo, oitavo e nono num ano, por equivalências, e, nos últimos três, fiz 10º, 11º e 12º. Lá, concorri e entrei na Universidade, e, quando voltei ao continente, tirei o curso de educação física. Incentivado pela minha mulher. Foi custoso. Uma pessoa vinha cansada dos treinos, à noite, comia qualquer coisa rapidamente, e depois ainda tinha de ir estudar», recorda.

Não foi apanhado de surpresa pelo adeus. À boa moda alentejana, foi preparando o terreno. «Compensou. Além dos conhecimentos que se adquirem, fiz a formação que, hoje em dia, me permite dar aulas e serviu para alguma coisa. A malta quando está no futebol desliga-se completamente dos estudos», reconhece.

«Vim da Madeira com 32 anos, para o Louletano, deixei de jogar tinha 36 anos. Podia ainda ter ido para o Norte, tinha convites, mas chega um momento em que nos sentimos cansados. Podia ter arriscado, até ao nível da I Liga ou II, mas já tinham sido muitas mudanças, tinha as miúdas a estudar. Depois de seis anos na Madeira, disse à minha mulher: vamos para casa. Tinha casa aqui. Fui para o Louletano, um projeto engraçado. Em quatro anos estivemos quase a subir para II Liga, sempre a tentar, mas não conseguimos», remata.

O último golo de Jorge Soares (e que golo!):


 
Com o ponto final, passou para o outro lado. Ensinar o que aprendeu era agora o objetivo. Tudo corre sobre rodas. Os miúdos despontam e, com a chancela do Benfica, o antigo jogador ambiciona fornecer, dentro de poucos anos, alguns craques à alta roda do futebol português.

«Já temos alguns inseridos nos sub-14 do Algarve. Para os escalões nacionais, ainda não têm idade. Os mais velhos são de 2000. Se forem bons, podem sonhar em chegar à casa-mãe», acredita.

«A nossa escola [fundou-a com Jorge Portela, antigo colega no Farense] abriu em 2007 em Faro, e, no ano seguinte, em Loulé. Fizemos um acordo com o Benfica. É um franchising. Quando a criámos, ainda não era. Formámos um clube, que é a Geração de Génios, para participar nos campeonato do Algarve. No ano passado, tínhamos 13 equipas, dos benjamins, infantis aos juvenis. Temos 14 treinadores e miúdos a partir dos quatro anos. São 300 e muitos ao todo. Tenho muito com que me ocupar», ri-se.

«Dá um prazer especial vê-los chegar, trabalhar connosco durante quatro ou cinco anos, e observar como evoluíram. Quem sabe, daqui a meia-dúzia de anos, se não os veremos chegar a equipas seniores da I Liga?»
 
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