Um dérbi que pode dar diretamente o título... ao FC Porto. É inédito na história do campeonato nacional o cenário que está no ar para a penúltima jornada da Liga 2017/18. Mas vai para além disso, é o jogo mais valioso da época, um Sporting-Benfica que vale o segundo lugar no campeonato e o acesso aos milhões da Champions, com valores recorde à vista. O Maisfutebol olha para este Sporting-Benfica com caráter tão particular a partir de cinco ângulos. Com muitos cifrões e muitas curiosidades pelo meio.

O título para o FC Porto num dérbi, inédito

Já houve duelos decisivos entre os rivais, mas nenhum em que o desfecho pudesse no imediato consagrar outro campeão, como acontecerá neste sábado, em caso de empate entre Sporting e Benfica no dérbi de Alvalade. Nesse caso o FC Porto festejaria antes ainda de entrar em campo, no domingo frente ao Feirense. Não é a única via para a festa do dragão neste fim de semana. Caso haja um vencedor no dérbi, o FC Porto precisa apenas de pontuar frente ao Feirense para selar o título.

Já aconteceu um dérbi abrir caminho à festa do FC Porto, mas não no imediato. A última vez foi em 2003, quando o avanço tranquilo dos dragões então orientados por José Mourinho permitiu selar o título à 30ª jornada, a cinco rondas do final, depois de o Sporting ter vencido na Luz por 2-1, atrasando de vez o Benfica. Mas foi o triunfo no dia seguinte sobre o Santa Clara (5-0) que confirmou o título do FC Porto. Antes disso aconteceu por duas vezes, ambas na penúltima jornada, ambas com vitórias do Sporting que comprometeram de vez as aspirações do Benfica e abriram caminho a títulos que o FC Porto selou em campo logo a seguir. Foi assim em 1985/86 e em 1958/59.

As contas em campo no dérbi...

Para lá das contas do título, que já é pouco mais que uma miragem para os rivais de Lisboa, o Sporting-Benfica deste sábado é determinante para o segundo maior objetivo da época via Liga: o segundo lugar, este ano o último de acesso à Liga dos Campeões. E ainda assim apenas à terceira pré-eliminatória. O Benfica chega a Alvalade a saber que, se vencer, tem a segunda posição garantida. Depois do empate a um golo no dérbi da primeira volta, na Luz, um empate com golos dá ainda algum ascendente ao Benfica, que leva por agora 17 golos à melhor no critério seguinte, o da diferença de golos.

Uma vitória do Sporting até pode dar logo o segundo lugar aos leões, se na sexta-feira o Sp. Braga não tiver vencido o Boavista. Sim, que ainda há que incluir os minhotos nestas contas (estão todas aqui). Por fim, focando apenas no dérbi, um nulo sem golos passa a dar vantagem ao Sporting no confronto direto, a lançar a última jornada.

...e as contas aos milhões que fazem toda a diferença

O segundo lugar significa Liga dos Campeões. Ou melhor, a possibilidade de chegar à fase de grupos, passando a terceira pré-eliminatória e um play-off. Aí abre-se caminho para os milhões que fazem a diferença. Mais ainda este ano, num novo formato da Liga dos Campeões que redistribui as receitas, passando a dar mais peso ao coeficiente dos clubes. Isso é definido a partir de um ranking a 10 anos que, além de contabilizar resultados, pondera também títulos conquistados. Nesse ranking da UEFA o FC Porto é nesta altura 8º, o Benfica 10º, o Sporting 34º e o Sp. Braga 39º.  Várias notícias em meios portugueses nos últimos dias apontam para valores acima de 40 milhões de euros para dragões e águias e cerca de metade para os «leões», mas a UEFA ainda não confirmou esses valores. Ao Maisfutebol, o organismo disse que apenas serão oficializados em junho ou julho. Também é seguro que os prémios por participação e resultados na prova irão aumentar, mas uma vez mais os valores avançados nos últimos meses na imprensa internacional não foram oficializados. Essas notícias apontam para aumentos relevantes, como a passagem do prémio de acesso à fase de grupos de 12,7 para 15 milhões, ou o prémio por vitória de 1,5 para 2,7 milhões. O peso desse dinheiro nas contas dos clubes é evidente. Basta olhar para as últimas épocas.

Em 2016/17, quando ficou pela fase de grupos da Champions, o Sporting ganhou 18,941 milhões de euros com as competições europeias, somando prémios de participação, market pool e bilheteira, o que representou quase um quarto dos seus rendimentos operacionais nesse exercício - sem contar com vendas de jogadores, que são receitas extraordinárias. Na época anterior, quando o Sporting caiu no play-off e foi remetido para a Liga Europa, esse valor foi de 11.024 euros.

O Benfica também tem ido buscar à Liga dos Campeões uma parte muito significativa das suas receitas fora venda de jogadores: 34.043 milhões de euros em 2016/17, quando chegou aos oitavos da Champions, representando 26,5 por cento das receitas operacionais; e um peso ainda maior na época anterior, quando chegou aos quartos: 37.951 milhões, 30.1 por cento das receitas. E estamos a falar apenas dos ganhos diretos, não contando por exemplo o potencial de negociação de patrocínios ou a valorização de jogadores que a presença na Liga dos Campeões representa.

O equilíbrio em campo e o empate histórico à vista

Em campo esta tem sido uma história de equilíbrio. Da classificação atual, com os dois rivais empatados em pontos, ao histórico dos dérbis de Alvalade. Aliás, este encontro pode empatar as contas. Até hoje jogaram-se 83 dérbis para a Liga em casa do Sporting, com 32 vitórias dos leões, 31 das águias e 20 empates. Um triunfo do Benfica igualaria o número de triunfos. Muito próximos também nos golos, 122 para o Sporting e 119 para as águias.

O Benfica tem equilibrado as contas recentemente: não perde em Alvalade há mais de seis anos. A última vitória do Sporting foi a 9 de abril de 2012, para a 26ª jornada da Liga, com um golo de Ricky Van Wolfswinkel a decidir um dérbi a cinco jornadas do final que atrasou o Benfica na luta pelo título: ficou a quatro pontos do FC Porto, que seria campeão. Desde então houve três vitórias do Benfica e dois empates.

E 2003/04, o dérbi que mudou o segundo lugar e teve o dragão campeão... no hotel

O Sporting, que esta época veio de trás mas recuperou terreno com quatro vitórias seguidas que coincidiram com um período em que o Benfica sofreu duas derrotas, com FC Porto e Tondela, procura repetir algo que os «encarnados» fizeram em 2003/04: ultrapassar o rival sobre a meta, num dérbi da penúltima jornada. Geovanni marcou o golo que fez o Benfica passar para a frente e terminar o campeonato, lá está, no segundo lugar.

Por essa altura o FC Porto de José Mourinho, que venceria no final de maio a Liga dos Campeões, já era campeão nacional. Tinha festejado na ronda anterior, curiosamente também na véspera de entrar em campo. Ainda segundo à 32ª jornada, o Sporting perdeu na visita à U. Leiria e as contas do campeonato ficaram fechadas logo ali. Os «dragões» festejaram à varanda do hotel e no dia seguinte venceram o Alverca, por 1-0.