Num longo documento tornado público esta quinta-feira, o Sindicato dos Jogadores (SJPF) alerta para a necessidade de se criar um protocolo rígido para que o regresso das equipas à atividade, aos treinos e às competições, seja feito da forma mais segura possível.

O organismo presidido por Joaquim Evangelista apresentou um documento com oito pontos, nos quais aborda diversos temas e elenca um conjunto de questões. «São mais as dúvidas que nos assistem neste momento do que as certezas ou opiniões sobre a melhor solução», pode ler-se num documento no qual são também reiteradas as críticas pelo regresso de alguns clubes aos treinos numa altura em que, alega, existe ainda uma «grande incerteza sobre os melhores procedimentos a seguir em pleno estado de emergência».

O Sindicato manifesta-se preocupado com a capacidade para a realização de testes e a eficácia dos mesmos, frisando que o risco de infeção após um teste positivo de algum jogador ou membro do staff de uma equipa terá impacto na programação da atividade desportiva do organizador da competição.

No mesmo documento, o Sindicato entende que é necessário delinear uma estratégia concertada entre os clubes, de fora a harmonizar soluções, mas também a «garantir a igualdade entre competidores». Ness sentido, diz ser importante ter em atenção aspetos como a carga de treino, readaptando o sistema imunitário após o período de isolamento e de modo a prevenir descompensações, mas também garantir uma permanente monitorização de sintomas e reforçar os departamentos médicos com recursos humanos, instrumentos e equipamentos de proteção necessários. O organismo questiona se o staff médico de cada clube está preparado para responder ao protocolo a implementar e se cada sociedade tem condições para garantir que os requisitos mínimos de segurança e proteção de saúde dos atletas serão aplicados nas suas instalações desportivas.

O Sindicato também manifesta preocupação com a pré-época, sugerindo que não seja inferior a três semanas e que a duração das sessões deve «evoluir gradualmente». Mais uma vez, lembra que o sistema imunitário dos atletas estará afetado pelo período de isolamento. Também devido à longa paragem, recomenda a repetição dos testes habitualmente feitos na pré-época para prevenir lesões. Neste ponto, o terceiro de oito apresentado, é questionado de que forma os atletas terão acesso a assistência médica, a tratamentos de recuperação pós-treino e se haverá jogos de treino e, se sim, em que condições irão realizar-se.

O Sindicato diz que a luz verde para o regresso da competição deve ser decidido após a luz verde das autoridades competentes e não a partir de uma decisão que vincule apenas a indústria do futebol. E, partindo do princípio de que o jogo serão realizados à porta fechada, alerta para o «protocolo rígido» que terá de ser aplicado nos jogos profissionais. «Será facilmente indentificável um grupo de 60 a 80 pessoas que estará nas instalações desportivas no dia de jogo, considerando ainda as viagens que cada um desses grupos fará até ao estádio.»

Para que nada falhe, é vincada a necessidade se ser criado um protocolo de testes/monitorização específico para todas as pessoas que entrem no estádio, mas também um guia sobre o modus operandi para os operadores televisivos e para todas as equipas em viagens, seja até ao estádio, seja até às unidades hoteleiras onde terão de pernoitar e nas quais terá de ser implementado um protocolo «o mais restrito possível».

Igualmente delicado é o tema dos seguros desportivos e cuja cobertura, entende o SJPF, terá de ser revista. «A cobertura adicional dos seguros deve, a nosso ver, prever impactos a médio e longo prazo de infeção por Covid-19, algo que neste momento ainda não é possível determinar do ponto de vista científico, ou seja, caso haja retoma uma infeção provocada pelo retorno do jogador à atividade que tenha impacto na capacidade do mesmo para seguir com a sua atividade profissional, deve passa a estar segurada porque o risco de contágio resultou diretamente do seu retorno ao trabalho.»

Com o regresso das competições apontado para o verão, as elevadas temperaturas que se fazem sentir nesta época do ano também são abordadas. O Sindicato alerta para o aumento do risco de lesões e acidentes provocados pelas condições climatéricas caso não seja delineado um plano adequado. Por isso mesmo, replica as recomendações da FIFPro paragens de 3 a 4 minutos ao fim de 30 minutos em cada uma das duas partes se as temperaturas estiverem entre 28 e 32 graus celsius. Caso as temperaturas forem superiores a 32 graus celsius, a hora ou o dia do jogo pode sofrer alterações, pelo que o Sindicato quer saber se há convergência entre a Liga e os operadores responsáveis pelas transmissões.

Para além das elevadas temperaturas, a maior carga física à qual deverão estar sujeitos os jogadores, que terão menos tempo de descanso entre partidas, também pode potenciar o aparecimento de problemas físicos. Neste ponto, o Sindicato faz novamente eco das recomendações da FIFPro: 72 de intervalo mínimo entre jogos. São ainda levantadas questões a respeito dos programas dos clubes de mitigação do risco de lesões e de recuperação de problemas físicos, sendo também perguntado se está a ser pensado algum protocolo específico de recuperação para atletas infetados por Covid-19.

Em jeito de conclusão, o Sindicato dos Jogadores entende que a Direção-Geral da Saúde e o Governo terão de estar profundamente envolvidos na definição de um protocolo de segurança para o futebol.