O dérbi acabou por sê-lo em demasia. Mas já lá vamos.
 
Antes de mais nada convém dizer que se o dérbi foi em demasia, a culpa é do Sporting. A formação leonina encheu o jogo de volume e de calor, de desejo e de ilusão.
 
Em dois anos fez o trajeto oposto ao que o conduzira à aflição e voltou a sonhar: voltou a sonhar com grandes noites, grandes jogos e, em última instância, com o título. Voltou enfim a ser grande.
 
Por isso Alvalade cobriu-se até às orelhas de confiança e de fé. Animou o futebol português e entusiasmou o dérbi. O que nos leva ao início deste texto.
 
O dérbi acabou por sê-lo em demasia.

Confira a ficha e as notas dos jogadores
 
O Sporting despertou o velho arrufo de vizinhos e um campo de futebol acabou por ser curto para tanta intensidade. Houve muita animosidade, muita fúria e muita impetuosidade.
 
A animosidade crónica entre dois vizinhos que partilham o mesmo mesmo espaço, que palmilham os mesmos caminhos, que cruzam as mesmas ruas tornou-se superior a tudo. E por isso o futebol foi mais intenso do que criativo. Foi no fundo mais sofrido do que desfrutado.
 
Faltou futebol ao dérbi, portanto.


 
Vale a pena lembrar, por exemplo, que no final da primeira parte havia apenas dois remates na verdadeira aceção da palavra, um para cada lado, e nenhuma autêntica ocasião de golo.
 
Jorge Jesus trocara Talisca por André Almeida no onze inicial e com isso construíra uma equipa de tração à retaguarda. No fundo mudava menos do que se pensava, Samaris continuava a ser o jogador mais recuado, mas tinha o apoio de André Almeida logo ao lado.

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André Almeida que, de resto, foi o responsável por alguns dos melhores lançamentos do jogo: o que também diz tudo sobre a qualidade técnica deste dérbi.
 
Para além desse sobrepovoamento do meio campo defensivo, havia mais pormenores a fazer a diferença. Marco Silva dera instruções aos extremos para fechar por dentro, por exemplo, e com isso bloqueavam o jogo interior do Benfica: aquela que é no fundo a maior força da equipa.


 
Ora com tudo o dérbi transformou-se numa sucessão de balões para o ar, passes perdidos e repelões. Demasiadas perdas de bola e alívios sem nexo, que não deixavam ninguém assentar o futebol.
 
A coisa mudou ligeiramente na segunda parte, naquela altura em que o cansaço atrapalha o pensamento e retira espaço no cérebro para o nervosismo. Mas nunca mudou ao ponto de tornar o dérbi num recital de futebol: isso não, continuou a ser mais sofrido do que desfrutado.
 
O Sporting, como já tinha feito na primeira parte, foi sempre melhor, foi sempre mais equipa. Teve mais posse de bola, mais ataques, mais cruzamentos, mais remates.

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Insistiu mais e ficou mais perto de vencer, também por isso.


 
Ameaçou por exemplo num cabeceamento de Carrillo, na única e verdadeira ocasião de golo. Até que surgiu Samaris: o grego cometeu um erro que permitiu a João Mário isolar-se e rematar para defesa de Artur, na recarga Jefferson abriu o marcador.
 
Contra todas as apostas, o jogo estava desbloqueado. Tão desbloqueado, aliás, que tornou-se louco: na última jogada, Jardel aproveita uma bola perdida na área leonina e atira para o empate.
 
Faz sentido: um jogo sentido com tanta agonia geralmente nunca acaba de outra forma.
 
O Benfica celebrou o empate como se tratasse de um título. Também faz sentido: esteve a segundos de perder e o empate serve-lhe mais a ele do que ao adversário.
 
Mas no fim o que há a retirar deste dérbi é que foi-o em demasia.