Um pesadelo ou sonho cor-de-rosa, depende da perspetiva. Um pesadelo para o Belenenses que, ainda antes do intervalo, já estava completamente à deriva, a perder por 0-4, com uma exibição desastrosa do estreante André Moreira entre os postes. A equipa de Silas ainda procurou reagir, mas saiu-lhe tudo mal e não conseguiu evitar o 15º jogo (12º na Liga) sem vitórias. Um sonho, por outro lado, para a equipa da Vila das Aves que somou, pela primeira vez esta época, dois triunfos consecutivos, com oito golos marcados nos dois triunfos, e deixou a lanterna vermelha entregue ao Estoril. Chicotadas psicológicas com efeitos claramente distintos. Silas somou apenas dois pontos em quatro jogos, enquanto José Mota já soma seis em apenas três.

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Um jogo que veio comprovar, de forma clara, a Lei de Murphhy: qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível. E assim foi. Silas decidiu mudar quase tudo depois do desaire no Bonfim, a começar pela baliza, com a estreia de André Moreira em detrimento de Filipe Mendes, passando pelo meio-campo, com os regressos de Yebda e Filipe Chaby, mas também no ataque, com uma oportunidade para o experiente Tiago Caeiro tentar fazer melhor do que Maurides [apenas um golo na Liga]. Mas a verdade é que nada saiu bem ao novo treinador que aos dois minutos já estava a perder. Investida de Nildo Petrolina sobre a esquerda e abertura a rasgar a defesa azul para a entrada de Baldé que, vindo da ala contrária, surgiu no coração da área para desviar a bola de André Moreira. Começava aqui o pesadelo do Belenenses que viria a ganhar contornos de catástrofe.

Com três jogadores castigados - Nélson Lenho, Vítor Gomes e Amilton – José Mota procurou apenas reorganizar a equipa, sem grandes revoluções, mas apresentando um onze competitivo que entrou muito bem no jogo, com uma pressão alta a colocar enormes dificuldades ao Belenenses que acusou o golo madrugador. Guedes ainda ameaçou um segundo golo que chegou logo a seguir de forma inesperada e inconcebível a este nível. Atraso inofensivo de Nuno Tomás, com André Moreira a meter o pé à bola e a desviá-la para as próprias redes. Um pesadelo para o Belenenses e, particularmente, para André Moreira que ficou de cabeça perdida. Logo a seguir saiu de entre os postes e quase permitiu a Alexandre Guedes fazer o terceiro.

O Belenenses procurava reagir ao mau início de jogo e subiu no terreno, criando oportunidades por Filipe Chaby, Benny e Tiago Caeiro, mas foi o Aves, com muito espaço, que voltou a marcar, numa transição rápida com Paulo Machado a ganhar uma bola e a lançar Elhouni para um golo fácil, apenas com André Moreira pela frente. Meia-hora e três golos sem resposta, mas ainda haveria de piorar o quadro da equipa da casa. Dez minutos volvidos, ataque de Derley e entrada de Nuno Tomás na área do Belenenses. Tiago Martins ainda consultou o VAR, mas acabou por assinalar grande penalidade que Paulo Machado converteu no 4-0. O pesadelo do Belenenses ganhava agora contornos de goleada e ainda estávamos na primeira parte.

Ao cair do pano, ainda antes do intervalo, na sequência de um pontapé de canto, uma réstia de esperança para o Belenenses, com um golo de Nuno Tomás a cruzamento de Bakic da esquerda. Um golo que não deixava o resultado propriamente em aberto, mas que mostrava à equipa de Silas que também podia chegar ao golo.

Esperava-se, por isso, uma entrada forte do Belenenses na segunda parte, mas a verdade é que foi o Aves que voltou a entrar com uma pressão alta e a encostar os «azuis» à sua área.  Nesta altura, estávamos claramente mais perto de um 5-1 do que um 4-2, com destaque para um remate forte de Baldé que André Moreira afastou com os punhos e para um incrível slalom de Elhouni na área. O jovem avançado líbio passou por toda a gente em drible, incluindo André Moreira, mas depois viu o remate final ser desviado por um mergulho de Yebda. Incrível.

Silas não esperou mais e, já depois de ter lançado Bakic no final da primeira parte, lançou ainda Yazalde e Maurides, passando a contar com uma frente alargada de quatro jogadores. O Belenenses conseguia, finalmente, jogar no meio-campo do Aves que, apesar da pressão, mantinha a postura, com José Mota a mandar a equipa subir para defender longe da sua área. Apesar dos intensos esforços, o Belenenses não conseguiu melhor do que reduzir o prejuízo, a quatro minutos dos noventa, numa grande penalidade convertida por Maurides, a punir uma falta sobre Licá. Mas a última palavra foi mesmo do Aves, com Fariña a roubar uma bola a Bakic no meio-campo e a arrancar para o folgado 5-2.

Crise profunda em Belém, além da perpétua guerra entre clube e a SAD, agora com a equipa a somar quinze jogos consecutivos sem vencer, naquela que já é a segunda pior série de sempre do histórico emblema lisboeta. Na perspetiva do Aves, injeção de moral para a equipa de José Mota que soma, pela primeira vez esta época, dois triunfos consecutivos e deixa o último lugar da classificação da Liga.