Um dos momentos icónicos no cinema dos últimos, vá lá, 25 anos é a última cena de Fight Club. Os protagonistas [Edward Norton e Helena Bonham Carter] de mãos dadas a contemplar o mundo a ruir. Prédios colapsam, explosões sucedem-se, a cidade treme. Ao mesmo tempo, ecoam os geniais acordes de Where Is My Mind?, dos Pixies.
 

Onde estaria a cabeça daquela gente? Onde anda a cabeça deste FC Porto?

Vale a pena começar assim, porque a imagem retrata os dias dos homens de Sérgio Conceição. Os dois pontos perdidos em Vila do Conde, a doença súbita de Iker Casillas, o Benfica a perder e depois a golear o Portimonense por 5-1. Demasiada informação para um grupo emocionalmente exausto.

Sim, o FC Porto venceu com autoridade e critério o Desportivo das Aves, mas falar deste jogo é falar, sobretudo, da cabeça dos ainda campeões nacionais. Estar em campo e pensar em vários «ses»: se não tivesse desperdiçado uma vantagem de sete pontos na Liga; se não tivesse perdido os dois jogos contra o Benfica na Liga; se não tivesse bloqueado a cinco minutos do fim em Vila do Conde.   

Apetece entoar o eterno hino de Frank Black e companhia. Where Is My Mind?


DESTAQUES DO JOGO; Corona, sim, mas só depois de «San Iker»

O FC Porto procurou esquecer tudo e colocar alma e coração no jogo. Em momentos, valha a verdade, conseguiu-o. Fez dois golos relativamente cedo – o primeiro num cruzamento de Alex Telles para um improvável golo de Corona com a cabeça e o segundo após mão de Jorge Fellipe, devidamente identificada pelo VAR – e depois geriu até ao fim, quase sempre num ritmo médio/baixo, mas suficiente para chegar aos 4-0.

Vaná, em estreia na Liga, só teve uma defesa verdadeiramente difícil, e o resto foi o que se previa: o FC Porto a ser mais paciente do que é habitual com bola, a variar o flanco e a procurar depois o espaço interior por Soares e Marega (que jogo sofrível, mais um, do maliano!), e o Aves organizado, quase sempre bem organizado, e a sair em transições em busca da velocidade de Rúben Oliveira e Luquinhas.

Se a primeira parte ainda teve episódios de algum interesse, a segunda foi um marasmo. Foi, permitam-nos a expressão, apenas mais um dia no escritório. Picar o ponto, emitir faturas, ver a caixa de email, bocejar com um espreguiçar prolongado e voltar a picar o ponto.


FICHA DE JOGO E AO MINUTO DO PORTO-AVES: 4-0

Isto, insistimos, com a cabeça não se sabem bem onde. Longe, por certo, do relvado deste Dragão. Não foi neste jogo e não foi contra o Desportivo das Aves que o FC Porto a perdeu, mas a equipa deu sempre a sensação de estar dividida: o corpo aqui, a alma… algures.

Digno de realce? O primeiro golo de Wilson Manafá de dragão ao peito, o bis de Soares, no seguimento do enésimo lapso concretizador de Marega e o regresso de Vincent Aboubakar à competição, após sete meses de ausência por grave lesão.   

Os campeões nacionais voltam a estar a dois pontos do líder Benfica, o Desportivo das Aves tem cinco pontos de vantagem sobre a zona de descida. As conclusões objetivas e racionais numa noite em que as cabeças flutuaram para outras latitudes. Frank Black lá sabia o que cantava.