Domingos Soares de Oliveira, CEO da SAD do Benfica, fez nesta quinta-feira um ponto de situação sobre o impacto da pandemia de covid-19 nas contas encarnadas. Em declarações à BTV, o administrador começou por garantir que será efetuado o reembolso de cerca de 50 milhões de euros de um empréstimo obrigacionista lançado em 2017.

«Seria possível, tecnicamente falando, fazer uma suspensão ou adiamento do reembolso. Um pouco à imagem do que o Sporting fez há cerca de um ano. Mas no nosso caso, uma das questões críticas do Benfica é garantir que em nenhum momento falhamos e por isso entendemos fazer o reembolso na dia prevista, ou seja, amanhã. Entretanto, face a esta realidade, a esta crise, é natural que venhamos a fazer alguma emissão obrigacionista no futuro», disse.

O grupo Benfica ficará com uma dívida global de 70 milhões de euros, de acordo com Domingos Soares de Oliveira: «Depois desta operação, temos um total de empréstimos obrigacionistas de cerca de 60 milhões mais uma operação de financiamento de cerca de 10 milhões. A dívida financeira é de cerca de 70 milhões de euros, um valor extremamente baixo. Só no início do século é que tivemos uma dívida tão baixa.»

«Em parte é verdade que houve o efeito João Félix mas é uma análise curta, é esquecer o trabalho que temos vindo a fazer nos últimos sete anos, em que apresentámos sempre resultados positivos. O efeito Félix nunca pode ser a única explicação para termos um montante de endividamento baixo, para além de disponibilidade alta de tesouraria que temos, mesmo com os efeitos da covid-19», frisou o administrador encarnado.

Domingos Soares de Oliveira garantiu que o Benfica está preparado para os efeitos da covid-10: «Já antecipámos o que pode ser o impacto nas nossas contas este ano. Do ponto de vista financeiro, conseguimos determinar que mesmo assim teremos resultados positivos. Depois há a questão de tesouraria. O Benfica tinha em caixa cerca de 100 milhões de euros. Mesmo fazendo este reembolso de 50 milhões, temos margem. O que se passará na próxima época desportiva é a grande incógnita. O grande desafio é que temos condições de caixa para enfrentar um exercício em que haverá impacto negativo ao nível de bilhética e de transferências.»

«A receita total de bilheteiras, ao longo de uma época, é normalmente é de 25 milhões de euros. Se pensarmos que o Benfica faz 25 jogos, cada jogo tem um custo de 1 milhão de euros. Se não tivermos jogos, o impacto seria ainda superior acima dos 25 milhões de euros. Mas não é apenas isso, são as receitas de merchandising, de transferências, de receitas da UEFA, seria um cenário dantesco. Aquilo que todos querem, dentro das condições possíveis, é voltar às competições», disse.

Face à previsível desvalorização de ativos, o CEO da SAD do Benfica garantiu que os encarnados não estarão disponíveis para vender por valores baixos no próximo mercado de transferências: «Não vamos entrar num mercado de transferências, não lhe chamo de verão porque não sei quando é que vai ser, em que os nossos jogadores estão a ser desvalorizados. As condições vão mudar na janela de transferências seguintes, que provavelmente só será no verão de 2021. A partir de 2021 e 2022, o mercado voltará a conhecer os valores que conheceu no ano passado, não tenho dúvidas em relação a isso.»

Está afastada, por agora, a possibilidade de um lay-off no Benfica, garante Domingos Soares de Oliveira: «O que posso dizer aos benfiquistas é que só entraremos num processo mais acentuado de redução de custos se tivermos necessidade de o fazer. Tínhamos previsto fazer mudanças muito grandes no estádio e investimentos no Seixal que foram suspensos, para já, por exemplo. Mas há uma garantia para o futuro, porque não sabemos como vai funcionar a época 2020/21.»

«Teremos 12 a 18 meses desafiantes para a indústria do futebol. Há ou não espectadores dentro dos estádios, há ou não transferências, há ou não jogos. Não é apenas uma questão de indústria do futebol, é da indústria do entretenimento, dos espetáculos ao vivo. Acredito que em 2021, se não for possível antes, a normalidade voltará», concluiu o administrador.