O Benfica conseguiu em 2016/17 um lucro recorde (44,5 milhões), tendo a SAD encaixado 253,5 milhões de euros.

Em abril, Domingos Soares de Oliveira tinha dito que o Benfica não precisava de vender e acabou por vender vários jogadores. Eis a explicação: «O clube é vendedor. Quando referi isso, não tínhamos necessidade porque com as vendas do início da época 2016/17 tínhamos condições para não necessitar de novos financiamentos. Mas isto não tem um modelo, as receitas do ponto de vista operacional não são suficientes para cobrir as ambições que temos. Portanto, queremos reduzir o peso da dívida e com isso haverá uma diminuição dos encargos financeiros e assim maior capacidade para pagar aos melhores jogadores. Temos uma frase «o talento paga-se» e por isso se queremos sucesso desportivo temos de estar preparados para pagar bons salários. Isso não põe em causa que sejamos um clube vendedor.»

E explicou que às vezes tem de se vender não por necessidade: «Há situações que temos de vender, continuaremos a ser um clube vendedor e aquilo que tentamos de fazer é precaver as necessidades tesouraria no início da época, fazendo vendas que permitam encarar o resto da época com a tesouraria controlada. Pode-se discutir o timing, se a venda é feita no momento certo, ou esperar um ano, mas o nosso objetivo é manter os melhores jogadores durante cada vez mais tempo. Mas é preciso conhecer outra realidade: os jogadores também pensam, também estão atentos. Preocupa-me o crescimento dos salários fora de Portugal, situações como as deste verão, quer em aquisição quer salário, são situações que não podem ser encaradas de forma moderada para os países do mercado periférico como o português. Quando a um jogador é oferecido 3, 4 e 5 milhões de euros sem impostos não é difícil, é impossível retê-lo. Há aqui um equilíbrio na nossa vontade de reter o jogador, a necessidade de vender e a vontade do jogador.»

O exemplo dado foi o de Mitroglou: «Nem é a situação mais volumosa, mas o Mitroglou quando lhe perguntaram porque tinha saído disse «Perguntem ao Benfica», mas de imediato disse «Mas eu também não queria ficar» porque o que lhe foi oferecido é completamente diferente. Não temos controlo esclavagista sobre o plantel, eles pensam, têm empresários. Preocupa-me como isto está a crescer, será mais difícil segurar o talento.»

Quanto à falta de investimento, defendeu-se com estratégia: «Há muito tempo que nesta casa definimos uma estratégia a cinco e depois a 10 anos. Nesse trabalho havia uma aposta feita no Seixal de acreditar que os nossos jovens têm condições para estarem no futuro no plantel principal. Essa aposta tem vindo a ser implementada e à medida que o tempo for avançado os investimentos que fizermos serão mais controlados, tentando aproveitar a matéria-prima do Seixal. Isso não significa que não haja investimento, fizemo-lo e vamos fazê-lo sempre que acharmos que é necessário, sem prejudicar o equilíbrio das contas.»

O administrador da SAD refere que se o Benfica quiser ir ao mercado pode ir como bem entender: «Futebol não é ciência exata, mas do ponto de vista do negócio não pode ser visto à semana. Definimos estratégia plurianual e vamos mantê-la de forma firme. Nenhum clube como o Benfica tem a capacidade que tem para fazer investimentos, no dia em que o Benfica entender que deve ir ao mercado fazer as operações que tem de fazer, faz. Nós não estamos intervencionados pela UEFA, nunca o fomos, nunca prestamos esclarecimentos, temos uma situação patrimonial invejável. No dia em que quisermos fazer investimentos consideráveis temos condições para o fazer.»

E fez uma revelação: «No Benfica as pessoas trabalham para ter resultados no relvado e fora dele. Ainda ontem [segunda-feira] tivemos uma reunião de quadros, em que o Rui Vitória esteve presente, e as 90 pessoas presentes assumiram o compromisso de tudo fazerem para o Benfica ser campeão, essa é a nossa obsessão e paixão. Mas o futebol não é ciência exata o que tentamos fazer é entregar condições para que os jogadores e a equipa técnica consigam aquilo que nós queremos no relvado, mas o campeonato português, as competições europeias não são ganhos sempre pelos mesmos, temos de enfrentar os momentos de vitória e de derrota com serenidade.»