Faltavam poucos minutos para as 22h00 quando o caos instalou-se na bancada norte do Estádio António Coimbra da Mota.

O Estoril-FC Porto estava no intervalo quando centenas de adeptos dispensaram dos lugares e ocuparam parte do relvado.

Adeptos, elementos das autoridades e assistentes contactados pelo Maisfutebol foram relatando versões semelhantes: um grupo de adeptos que desceu da bancada casa de banho terá visto a estrutura de uma das casas de banho do topo norte ceder e acorreu até à bancadas para avisar os restantes adeptos que, devidamente autorizados por spotters da PSP e pela GNR de serviço no local, desmobilizaram para o terreno de jogo e para fora do perímetro do estádio.

O Maisfutebol esteve no local e documentou os danos visíveis na referida casa de banho: fendas nas paredes, rachaduras e estuque levantado do chão junto a um pilar de betão que sustenta a bancada inaugurada no verão de 2014.

Durante quase uma hora surgiram várias informações contraditórias a propósito da realização da segunda parte, com os jogadores a esperar no túnel por uma decisão e parte da bancada a ser reocupada por adeptos afetos aos azuis e brancos. Pouco antes das 23h00, o speaker de serviço anunciou a inexistência de condições para reatar o Estoril-FC Porto, que os canarinhos por 1-0 venciam graças a um golo de Eduardo na marcação de um livre.

Maratona de reuniões e fumo branco (até ver) para a 2.ª parte

A 18.ª jornada da Liga ficava, de repente, em suspenso e, igualmente, com muitas questões no ar por responder. A segunda parte do jogo seria realizada no dia seguinte? Se não, até quando poderia ser jogada? Será que ia mesmo realizar-se e com que protagonistas em campo? O Maisfutebol respondeu a tudo isso.

Terça-feira, logo pela manhã, teve início uma reunião conjunta entre Estoril, FC Porto, Liga de Clubes, Câmara de Cascais, autoridades competentes, LNEC e ainda a FARCIMAR, empresa que construiu e montou a estrutura da bancada norte do Estádio António Coimbra da Mota.

Desse encontro surgiu, já ao final da tarde, um entendimento quanto à data para reatar o Estoril-FC Porto: 21 de fevereiro, fora do prazo máximo de quatro semanas que dita o regulamento da Liga. A data possível no meio de um louco mês de fevereiro para os azuis e brancos, que viram oficializada nesta terça-feira a data da 1.ª mão das meias-finais da Taça de Portugal com o Sporting.

Apesar do entendimento entres clubes, Liga e da luz verde da UEFA para a realização do jogo na data (21/02) e hora propostas (18h00), os azuis e brancos emitiram um comunicado no qual prometeram fazer tudo para explorar «todas as medidas que os regulamentos em vigor permitem». O artigo 94 prevê a punição do clube visitado com derrota caso lhe seja imputada responsabilidade pelos problemas de segurança ocorridos no recinto desportivo.

Recorde-se que a bancada norte do António Coimbra da Mota tem menos de três anos e meio. Foi construída aquando do apuramento histórico do Estoril de Marco Silva para a Liga Europa, que cumpriu dessa forma os requisitos impostos pela UEFA para a participação nas competições europeias.

Tiago Ribeiro era nessa altura o presidente da SAD canarinha. O ex-dirigente esteve na Amoreira a assistir ao Estoril-FC Porto e aceitou falar nesta terça-feira com o Maisfutebol. Confirmou, por exemplo, que a bancada norte foi edificada em cima de uma ribeira, mas deixou claro que ficou acordado que tudo seria feito para que a segurança na nova estrutura não fosse comprometida. «O problema já era conhecido pela câmara e pelo clube. Mas aquando da construção desta nova bancada foi considerado que o engenheiro responsável faria o necessário para garantir a segurança e estabilidade da infraestrutura», afirmou.

A Câmara de Cascais garantiu que o alargamento da Amoreira foi devidamente autorizado e licenciado por entidades competentes nacionais e internacionais.

A fechar a noite, o presidente do Estoril veio defender que não houve abatimento da bancada, ao contrário do que tinha sido dito pelo próprio clube na noite do Estoril-FC Porto.

A defesa da FARCIMAR e a busca por responsáveis

Faltava escutar a opinião da FARCIMAR, empresa que montou a estrutura da bancada norte. «Após a vistoria, estamos todos de consciência tranquila, porque sabemos que a estrutura, a obra pela qual fomos responsáveis, está em ótimo estado. A partir daí, estaremos disponíveis para qualquer colaboração. Digo isto hoje, como diria ontem à noite. A estrutura está em bom estado e podia perfeitamente voltar a acomodar lá adeptos», afirmou ao Maisfutebol um responsável da empresa que pediu para não ser identificado.

O mesmo responsável aproveitou o contacto para se demarcar dos danos visíveis nas fotografias captadas pelo nosso jornal no local. Ao contrário do que foi feito noutros estádios portugueses, no António Coimbra da Mota fomos apenas contratados para a instalação da estrutura da bancada. Tudo o que seja sanitas, loiças, canalização, instalação de água, drenagem do terreno, pavimento, etc, não foram da nossa responsabilidade. As imagens? Mostram danos nas outras partes que não a estrutura. Não se pode confundir tudo o resto com a estrutura.»

Até ao final desta semana, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) deverá emitir um parecer com as conclusões da reunião e da vistoria realizada nesta terça-feira. Assim o espera o Estoril, que procura retomar a rotina normal.

O caso da bancada da Amoreira corre também trâmites na esfera do Conselho de Disciplina da Federação, que decidiu abrir um processo de inquérito aos factos registados após o apito para o final da primeira parte.

O reatamento do jogo está marcado para quarta-feira, 21 de fevereiro, mas nem isso parece um dado adquirido nesta altura. E a acontecer, será no António Coimbra da Mota? O comunicado da Liga foi omisso nesse sentido, referindo apenas data e hora da segunda parte. Essa é outra das peças perdidas que falta juntar a um puzzle que ainda não encaixou culpados, mas numa história que pode servir de exemplo para que situações semelhantes não se repitam noutros principais palcos do futebol português.