Sim, é verdade: este não foi um FC Porto-Benfica tão apetecível como os outros.

Os dragões terminam a época em nítido clima depressivo, na ressaca de meses e meses conturbados e frustrações acumuladas; as águias passam estado de graça, nestes dias de festejos de título nacional e Taça da Liga.

Outros dois fatores mostraram ter grande influência no tom que dominou este duelo de eternos rivais: do lado azul e branco, o facto de Lopetegui, futuro treinador, estar na bancada a assistir ao desempenho dos seus novos pupilos; no campo encarnado, a final da Liga Europa, com o Sevilha, em Turim, esta quarta-feira, era o jogo que, verdadeiramente, povoava as cabeças dos benfiquistas.

No último onze de Luís Castro como treinador principal, Mikel, Ricardo e Reyes mereciam a titularidade. No último onze de Jorge Jesus para o campeonato ganho de forma clara, João Cancelo e Steven Vitória estreavam-se na prova para serem campeões.

Poupar para Turim

O tal jogo que dominava as preocupações do Benfica (o de Turim, não este no Dragão) só deverá ter dois titulares repetidos do clássico deste sábado: André Gomes e André Almeida. Paulo Lopes, Djuricic, Jardel e Cavaleiro não devem entrar no onze; Salvio e Enzo estão impedidos para a partida que pode dar conquista da Liga Europa aos encarnados.

Perante tantas condicionantes dos dois lados, não terá sido de admirar que estivessem apena 25 mil pessoas a assistir a um FC Porto-Benfica na última jornada.

Mas, que diabo: um FC Porto-Benfica é sempre um FC Porto-Benfica.

Houve um jogo com alguns pontos de interesse a explicar.

Muito mais FC Porto a abrir

O FC Porto entrou muito melhor que o Benfica.

Balanceado para o ataque, os dragões aproveitaram a falta de entrosamento do onze do Benfica. Logo a abrir, Danilo, empurrado ainda fora da área por André Gomes, cai já dentro (devia ter sido marcada falta).

Ricardo, cheio de vontade de mostrar serviço, teve o golo nos pés ao segundo minuto, mas atirou ao lado. Compensou logo a seguir, ao assinar o 1-0, com remate forte e colocado do jovem extremo portista.

Pouco depois, Jackson, em toque acrobático, quase avolumou para 2-0, mas a bola passou ligeiramente ao lado.

O Benfica não dava mostras de conseguir reagir. Com um onze claramente de recurso, e boa parte da artilharia de fora por opção, o novo campeão nacional surgia no Dragão claramente com uma atitude de gestão e esforços mínimos.

No primeiro quarto de hora, só houve FC Porto. O marcador podia ter ficado mais dilatado, mas o 1-0 persistia. Com o correr dos minutos, porém, os encarnados começavam a dar os primeiros sinais de vida no aspeto ofensivo.

Mas continuava a ser curto: o bom jogo de circulação do meio-campo do Benfica (André Gomes, Enzo e Salvio, sobretudo) levava a equipa de Jesus a começar a acreditar no empate, mas a falta de soluções de concretização impunha barreiras.

Uma primeira tentativa de Cavaleiro, de cabeça, nem deu para assustar Fabiano. Funes Mori bem que tentava, mas somava sinais de estar claramente desfasado do jogo, dos tempos de passe, do momento de rematar.

O quadro não indicava o Benfica a chegar ao 1-1: mas foi mesmo isso que veio a acontecer.

Reyes «oferece» o empate


Sem ter assinado qualquer lance de registo para chegar ao empate… o Benfica chegou mesmo ao empate.

Cavaleiro, pela direita, inicia o ataque, há um corte da defesa portista, o lance parece inofensivo, mas Reyes faz falta desnecessária sobre Salvio. Penálti indiscutível, cobrado por Enzo: 1-1!

O jogo estava relançado. Animado com o empate, o Benfica tem período de algum domínio, encostando o FC Porto a um bloco mais recuado do que nos primeiros minutos.

Jackson chega aos 20

Mas o FC Porto retomou a iniciativa, fruto das ações ofensivas de Defour, Herrera (talvez o único portista em sinal mais neste final da época) e, a espaços, Quaresma.

Jackson, que minutos antes ameaçara, mas em fora-de-jogo, é impedido de cabecear à boca da baliza, por André Almeida: penálti, uma vez mais bem assinalado por Rui Costa.

O avançado colombiano assina o 20.º golo na Liga (o que lhe dá, confortavelmente, o título de melhor marcador da prova).

O Benfica não se deu por vencido com o 2-1, mas a agulha voltava a pender para o lado portista.

Benfica à procura do 2-2

A segunda parte mostrou as primeiras alterações. Jesus lançou Markovic (poupado do onze por última esperança no recurso para Turim?) e tirou Cavaleiro. A equipa ganhou alguma consistência na construção ofensiva.

O Benfica foi à procura do 2-2, ainda que sem ter atingido um ponto de carburação. Até deu para Lindelof entrar e ser campeão. Djuricic atirou à trave e o 2-2, nesse momento, parecia mesmo possível.

A vantagem tangencial não sossegava os dragões. Quaresma foi tentando aproximações ao 3-1, mas abusando do aspeto individual.

Quintero e Josué, lançados no decorrer do segundo tempo, pouco acrescentavam. Nas bancadas ouvia-se o pedido: «Kelvin, Kelvin, Kelvin…»

Entra Kelvin

Faz amanhã um ano (11 de maio de 2013), o jovem extremo brasileiro ofereceu o título ao FC Porto ao minuto 92, no mesmo palco e perante o mesmo adversário: com o mesmo resultado, 2-1. 

Mas valeu mesmo só pelo ato simbólico. Desta vez, Kelvin nada mostrou, a exemplo do que (não) foi fazendo ao longo de 13/14. 

Quintero ainda teve nos pés o 3-1, mas não teve arte nem sangue frio para dilatar a diferença.

Foi 2-1 para o FC Porto, como há um ano, mas tirando o resultado, quase tudo foi diferente.