O caso de racismo que envolveu Moussa Marega, em Guimarães, é um dos maus exemplos do combate à discriminação no futebol destacados pelo Sindicato Internacional de Futebolistas Profissionais (FIFPro). 

No seu relatório de antidiscriminação, de 36 páginas, o organismo recorda o episódio de 16 de fevereiro de 2020 e que levou o ex-FC Porto a abandonar, revoltado, o relvado do D. Afonso Henriques, depois de ter sido alvo de persistentes insultos racistas, sem qualquer ação das autoridades que preservasse a sua dignidade. 

«O Vitória de Guimarães foi multado por incidentes ocorridos durante o jogo: 4.017 euros por introdução de foguetes no estádio, 3.392 euros por lançamento de objetos no banco do Porto e 7.140 euros por desmontagem e lançamento de bancos. Pelos incidentes racistas, foram multados em meros 714 euros», ironizou a FIFPro.

No documento, ilustrado com foto do atleta, é recordada a «multa mesquinha» e a «resposta sarcástica» de Marega nas redes sociais: «Não! É muito! Posso pagar por eles?».

Entretanto, o relatório ainda não contempla a decisão do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) que, em 22 de novembro, anulou o castigo de três jogos à porta fechada aplicado ao Vitória de Guimarães, facto que vai merecer o recurso do Conselho de Disciplina (CD) da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) para o Tribunal Central Administrativo do Sul.

No seu acórdão, o TAD declara que «não ficou demonstrado que o Vitória tenha promovido, ou sequer consentido ou tolerado os cânticos racistas em questão, pela simples razão de que não ficou provado, nestes autos, que o Vitória tenha tido um conhecimento efetivo e/ou atempado da ocorrência dos factos em causa, que lhe permitisse encetar uma reação efetiva aos acontecimentos em tempo útil».

Em causa estava o castigo de três jogos à porta fechada e uma multa de 53.500 euros imposto pelo CD da FPF relativamente aos incidentes ocorridos no minuto 69 do encontro.

Como agravante, a FIFPro lembra que Marega jogou no Vitória na época 2016/17, tendo marcado 15 golos em 25 jogos no «terreno familiar» no qual acabaria por ser vítima de racismo.

«No aquecimento, Marega foi submetido a abusos racistas, sem qualquer repercussão aparente por parte das autoridades», relata a FIFPro, antes de referir os «cânticos de macacos claramente audíveis» e de denunciar o facto de nenhuma ação ter sido tomada, numa «aparente violação do protocolo».

Detalhando todo o episódio de racismo que levou o futebol português a ser falado em todo o Mundo, salienta que «o rosto de Marega era uma imagem de agonia enquanto tentava deixar o campo»: «O FC Porto venceria, por 2-1, com o tento decisivo de Marega, contudo a decisão da comissão disciplinar da Liga portuguesa deixou pouco a comemorar».

Num dos vários outros exemplos de discriminação, que vai da raça ao género, há um testemunho que sintetiza o espírito das vítimas: «Não é uma escolha. É a nossa vida».

A FIFPro promete todo o tipo de apoio, incluindo jurídico, a todas as vítimas, bem como aos que se levantem em sua defesa.

«Ouvimos os jogadores que denunciaram publicamente a discriminação e expressaram a sua dor, raiva e frustração por tão pouco estar a ser feito», lamenta o organismo, que propõe um conjunto de medidas para combater este flagelo que já extravasou os recintos desportivos.