Em janeiro de 2012, o guarda-redes Beto chega ao Sevilha FC e conhece José Campaña. Por esses dias, a jóia da cantera andaluz começava a perder brilho e equilíbrio.

A um processo de renovação mal resolvido - e a acusações de uma vida incompatível com a profissão - juntaram-se as opções do treinador Unai Emery que, entretanto, substituíra Michel. «O Campaña deixou de jogar porque o estilo da equipa mudou totalmente», recorda Beto ao Maisfutebol.

«O Michel procurava o futebol apoiado, de toque curto. O Emery queria (e quer) velocidade e jogo direto. Ele acabou por sair no final da época para Inglaterra».

Beto tem apenas seis meses José Campaña como colega de equipa. Fala de «um rapaz tranquilo e com vontade de aprender», mas traído pela mudança de rumo no clube andaluz. «O Campãna faz todo o sentido neste novo FC Porto. É excelente no passe e sabe impor ritmo ao jogo. Preenche alguns requisitos importantes para ser o dono da posição-seis. Em minha opinião pode também jogar mais à frente, na posição-oito.»

«Campaña era um herói, tem visão e bom passe»

Bicampeão europeu de sub19 em 2011 e 2012 (este com Julen Lopetegui e Óliver Torres), José Campaña cedo conquista o Nervión pela forma madura como está em campo. Usa a braçadeira de capitão, comanda o jogo da equipa e transporta para dentro de campo a admiração que tem por Xavi.

«É o meu ídolo, sempre o disse. Identifico-me com a sua forma de jogar», afirma o próprio Campaña numa entrevista em outubro de 2011, ao jornal «Vavel».

Juan Antonio Solis, jornalista do Diario de Sevilla, acompanha toda a progressão de Campaña dentro do clube. Até, não é exagero, cair na desgraça da afición pelos motivos enunciados no início do texto.

«O Campaña era o valor mais firme da cantera e titularíssimo nas seleções jovens de Espanha. Estava destinado a ser um herói do clube pela sua personalidade em campo e qualidade técnica: boa visão e bom passe.»A «pressão desmedida» começa, porém, a pesar-lhe nos ombros. «Houve precipitações no clube. Deram-lhe demasiada responsabilidade. Depois foi acusado de gostar muito de sair à noite. A dada altura passou a não corresponder dentro de campo.»

As acusações de noctívago nunca são provadas e José Campaña clama inocência. No verão de 2012 é transferido para o Crystal Palace por dois milhões de euros. Em Londres aguarda-o um treinador apaixonado pelo futebol de filigrana de Campaña: Ian Holloway.

Estilo e língua arruínam sonho na Premier League

«O Campaña é fantástico. A maturidade dele é inacreditável. Ele joga o jogo da forma que eu considero correta. Será uma estrela no futuro.»As palavras de Holloway colocam os holofotes sobre José Campaña e até à oitava jornada o menino espanhol corresponde ao chamamento: seis jogos na Premier League e boas impressões, pese os maus resultados.

Ian Holloway é demitido, entra Tony Pulis e Campaña desaparece. Pulis é um amante assumido do kick and rush, uma forma de estilo incompatível com o comportamento de José Campaña em campo.

Sem hipóteses nos londrinos, sai em janeiro para o Nuremberga. Julian Speroni, argentino e guarda-redes do Palace, tem na altura declarações curiosas sobre José Campaña. «Ele não fala inglês. Tentei ajudá-lo, mas é muito complicado. Tudo à volta da vida de um futebolista em Inglaterra obriga-o a falar o idioma.»

Outra barreira, portanto. Em Nuremberga consegue três meses bons e até marca um golo ao Eintracht Frankfurt.

Veja o golo de José Campaña (20 segundos):



Em julho de 2014, o Crystal Palace anuncia a venda de José Campaña à Sampdoria. Mas também não é em Génova que recupera todo o crédito acumulado nos anos de 2011 e 2012 na seleção sub-19 de Espanha e no Sevilha.

Será no FC Porto que isso sucederá? A qualidade, garantem em Espanha, está toda lá. «Não sei se há muitos jovens de 21 anos que já tenham jogado nas principais ligas de Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália. O Campaña é muito bom, precisa de estar na equipa certa», completa Juan Antonio Solis.

No futebol sénior falta, de facto, a José Campaña estar no lugar certo, à hora certa. Mas talvez isto nem surpreenda. Afinal, estamos a falar do rapaz que é filho de um antigo futebolista do Bétis (Ricardo Gómez Carreras) e que optou por fazer todo o percurso da sua formação no Sevilha.