O FC Porto-Boavista, que se joga hoje, no Dragão (19 horas), é um dérbi desigual. Não é consideração, é facto, suportado por números e história.

Desde que os dragões receberam e golearam (4-0) os rivais pela primeira vez, num jogo no velho Campo do Ameal, a 26 de abril de 1936, o Boavista apenas venceu por duas vezes em visitas a casa do rival para o campeonato nacional… Duas vitórias e quatro empates em 53 jogos ao longo de 80 anos…

A longuíssima maldição dos axadrezados fora durou mais de seis décadas e só seria quebrada numa noite fria nas Antas, em outubro de 1998, com Timofte a marcar à antiga equipa aos 41 minutos, antes de Rogério sentenciar o 0-2 nos descontos.

O antigo médio internacional romeno, que na época passada ocupou a função de diretor desportivo do Boavista, escusou-se a entrar em detalhes para recordar esse jogo. Apesar de apressado, lembrou-se ainda assim daquele remate do meio da rua. «Claro que me lembro desse golo. Marquei ao Ivica Kralj…», diz Timofte antes de fazer uma revelação ao Maisfutebol: «Estou na Roménia, mas amanhã (hoje) estarei aí em Portugal. Vou estar no Dragão a ver o dérbi.»

FC Porto-Boavista, 0-2 (1998/99):

Ainda mais fresco na memória de muitos boavisteiros e portistas, ainda que por razões diferentes, estará a segunda vitória do Boavista na Liga fora.

A 20 de novembro de 2004, perante quase 44 mil espetadores, na jornada 11 da Liga, Cafú marcou já nos descontos um golo que valeu o triunfo por 0-1 ao Boavista. Uma vitória histórica, não só por ter sido a segunda e última da formação do Bessa para o campeonato em casa do FC Porto, mas sobretudo por ter sido a primeira derrota de sempre dos azuis e brancos no seu novo estádio.

Campeão europeu em título, o FC Porto de Victor Fernández perdeu de forma surpreendente diante da aguerrida equipa de Jaime Pacheco, que vinha de uma pesada derrota por 6-1 em Alvalade.

Cafú, avançado que agora com 38 anos continua a marcar golos ao serviço de outro histórico portuense, o Salgueiros, recorda-se bem das incidências do jogo, que acabaria por ser determinante para o título do Benfica – que terminou com uma vantagem de três pontos sobre os portistas – e da rivalidade em campo.

FC Porto-Boavista, 0-1 (2004/05):

«Durante uma semana fui famoso… Era só entrevistas, televisões, jornais e rádios atrás de mim. Foi o momento mais mediático da minha carreira. Penso que nessa altura a rivalidade era maior. Durante a semana, os adeptos enchiam os treinos para nos incentivar e diziam ‘temos de ir lá ganhar!’. Lembro-me de na véspera de um desses dérbis nos terem pintado de azul a pantera à porta do Bessa. Mesmo em campo, nós, jogadores, parecíamos inimigos. Não havia sequer comunicação. Todos de cara fechada, sem falarmos com o adversário. E depois do jogo continuava. Nesse jogo em que marquei fui ao controlo antidoping juntamente com o Costinha e não houve troca de palavras; ele estava muito zangado porque tinha acabado de perder», recorda Cafú, considerando que o desequilíbrio hoje é maior, desde logo porque o Boavista «não tem as mesmas armas e está a reestruturar-se»:

«É um dérbi e rivalidade vai haver sempre. O Boavista tem lá referências, como o Sánchez ou o Fary, mas quando as equipas têm muitos jogadores novos e estrangeiros não se vive tão intensamente. Mesmo no FC Porto é diferente, apesar de os jovens portugueses que cresceram com isto e saberem as histórias todas.»

«Pior só no Chipre», diz o avançado cabo-verdiano

Cafú salienta que rivalidade maior só viveu no Chipre (onde jogou até 2013), nos dérbis de Nicósia, entre o Omonia (que representou entre 2007 e 2009) e APOEL, duas equipas que até jogam no mesmo estádio.

«Comparando com o dérbi do Porto, era mais agressivo ainda. Ouviam-se petardos que pareciam bombas e interrompiam o jogo, havia helicópteros a sobrevoar o estádio... Quando saíamos, os adeptos do rival partiam os vidros do autocarro com pedras. Em Portugal, há mais bom senso…», declara o avançado cabo-verdiano.

No entanto, independentemente da intensidade em campo ou do fervor nas bancadas, Cafú resume o dérbi como «o melhor que um jogador pode viver no futebol»: «Apesar da pressão enorme, é aí que nos sentimos jogadores. E quando corre bem é uma maravilha. Quando corre mal… Bem, é mudar as rotinas e na semana seguinte ficar fechado em casa ou andar por outros sítios para não nos cruzarmos com as pessoas que conhecemos.»

Sporting-Estoril, histórias cruzadas e pressão

Esta é uma sexta-feira atípica, com a 6ª jornada da Liga a abrir em alta rotação. Depois do FC Porto-Boavista, às 19 horas de hoje, o Sporting-Estoril, que não tem estatuto de dérbi, mas quase... Pontapé de saída às 21h para um jogo que os leões abordam com um estado de espírito bem diferente daquele que tinham há uma semana, depois da exibição que fizeram em casa do Real Madrid. A derrota de domingo com o Rio Ave pôs fim a uma série de 13 vitórias na Liga que já vinha da época passada e acabou por significar a perda da liderança para a equipa de Jorge Jesus.

Se o histórico é favorável ao Sporting, há uma vitória relativamente recente da equipa da Amoreira em Alvalade. Foi em maio de 2014, quando Marco Silva estava no banco do Estoril, um dos últimos jogos nessa condição antes de se tornar treinador do Sporting. Jefferson, que se tinha destacado precisamente no Estoril, já vestia de verde e branco por essa altura. 

Era uma grande época para a equipa da Amoreira, que chegava a Alvalade já com o quarto lugar assegurado. O Sporting, orientado por Leonardo Jardim, também já tinha o segundo lugar garantido. Duas equipas tranquilas, portanto, num jogo que acabou por ser decidido num golo de penálti batido pelo agora portista Evandro. O resultado não teve impacto nas contas da Liga, mas impediu o Sporting de terminar a época sem derrotas caseiras.

Desde então o Sporting venceu três dos quatro confrontos para a Liga. A exceção foi o empate a um golo na Amoreira em maio de 2015, no jogo que assinalou o regresso de Marco Silva ao Estoril. Nessa altura os leões já tinham o terceiro lugar praticamente fechado e concentravam-se na Taça de Portugal, que viriam a vencer.