O Conselho de Arbitragem divulgou, no programa 'Juízo Final' da Sport TV, esta sexta-feira, as comunicações de áudio do VAR relativas às primeiras jornadas da Liga nesta temporada. O programa emitiu áudios de lances capitais dos três grandes (e não só). 

Um dos lances em análise pertence ao Moreirense-Benfica da última jornada (1-1), nomeadamente um golo anulado aos homens da casa, nos descontos da primeira parte, devido a um pisão de Alanzinho. João Ferreira, vice-presidente do Conselho de Arbitragem da FPF, suportou a decisão.

«Há um pisão imprudente, sem perigosidade, mas é falta. Tira o defensor do Benfica do lance e o atacante acaba por recuperar a bola e resultar em golo. É a mesma fase do golo, é alvo de revisão e o golo foi anulado. O VAR mostrou o facto, mostrou que aquela falta tem a ver com o golo, por isso não restou outra opção senão assinalar a falta e anular o golo», disse.

Eis a conversa entre árbitro e VAR:

Vasco Santos: Daqui VAR, André. Estás a ouvir-me? Peço que venhas à zona de revisão para veres uma falta na fase de ataque, naquele momento atrás. Não te esqueças, se tomares a decisão de ver a fase de ataque toda.

André Narciso: [Vê a primeira imagem] Ele pisa-o... mete mais para trás, Vasco. É o número 11 [Alan]?

Vasco Santos: Queres outra imagem?

André Narciso: Não, esta chega. Ele pisa-o [pisa Leandro Barreiro] e tira-o da jogada. Deixa andar [a imagem]... Não vou dar cartão. É só falta sem cartão e vou anular o golo.

FPF admite «lance muito complexo» em penálti concedido ao Sporting

Outro dos lances que mereceu escrutínio foi um penálti concedido ao Sporting, diante do Farense (0-5). O Sporting beneficiou de um castigo máximo por mão do defesa Lucas Áfrico, aos 38 minutos. O VAR Fábio Veríssimo chamou a atenção do árbitro Tiago Martins, mas este manteve a sua decisão inicial.

«Aqui, João Ferreira admite maior dificuldade no ajuizamento. «Um lance muito complexo. Vou relembrar o que já disse: posso não concordar com o meu colega em campo, mas tenho aqui um facto, uma prova. Se olharmos para o lance na sua plenitude, não gostaríamos que fosse assinalado penálti. E porquê? Há vários factos: o defensor está parado a fazer contenção, a evitar que o atacante se vire, a proteger a baliza, não faz nenhum gesto com a mão. A bola sofre uma mudança de direção em cima do defensor, inesperada, e a bola vai bater no braço. Não tem nada de penálti», começou por explicar.

«Mas vamos à prova, que é a grande dificuldade. Esta intervenção foge ao standard. Mostra a certeza dos video-árbitros, e aqui o Fábio Verissimo estava convicto. A prova é, a bola bateu no braço? Bateu. O braço estava junto ao corpo? Não. Entramos aqui naquilo que é a amplitude de diferença de opinião e neste caso o Tiago manteve a sua decisão, gostávamos que fosse outra, em campo principalmente», admitiu o responsável. 

Eis a conversa entre árbitro e VAR:

Fábio Veríssimo: Daqui VAR! Recomendo que venhas à zona de revisão porque o jogador [Lucas Áfrico] tem o braço numa posição natural e há um desvio no atacante, imediatamente antes. Vou mostrar-te a posição do braço. Bate na coxa e desvia para cima, para o cotovelo do defesa.

Tiago Martins: Dá-me outro ângulo. [Vê uma segunda imagem].

Fábio Veríssimo: Bate na coxa [de Pote] e desvia para o cotovelo [de Lucas Áfrico].

Tiago Martins: Para mim, o braço está muito aberto.

Fábio Veríssimo: Tu é que sabes, Tiago. Tu é que sabes... Eu já mostrei a imagem de trás que dá para ver a amplitude do braço.

Tiago Martins: O jogador é o número 44 e, para mim, tem o braço em volumetria e vou manter a minha decisão.

Lance de vermelho «ingrato para o árbitro» em jogo do FC Porto

Outro momento escrutinado foi o lance da expulsão de Adriano, médio do Santa Clara, na receção ao FC Porto, na segunda jornada. Os portistas viriam a vencer (0-2). O brasileiro pisa o pé de Alan Varela, com os pitons, e Fábio Veríssimo dá cartão amarelo.

Só que o VAR Rui Oliveira entende que a falta é merecedora de vermelho e chama a atenção do juiz da AF de Leiria, que lhe dá razão posteriormente. 

«São lances ingratos para o árbitro. Está bem colocado, próximo, se calhar demasiado perto. Por isso, ele pode ter um ângulo muito apertado e o lance acontece do lado de lá dos jogadores. Quando um jogador pisa o outro, é negligente e é cartão amarelo. Quando esse pisão sai do pé e vai para a canela e atinge com gravidade o adversário, consideramos falta grosseira e é cartão vermelho. Muito bem o Rui Oliveira, coloca logo as melhores imagens, dá noção da gravidade. A malícia é um indicador para a graduação da atuação disciplinar. Não havia outra decisão, senão o vermelho», garante João Ferreira.

Eis a conversa entre árbitro e VAR:

Árbitro: Antes do contacto deixa ver se ele já tem o pé torcido.

VAR: Ok.

Árbitro: Ok, mete isto em velocidade normal. É o número 6?

VAR: Número 6, sim.

Árbitro: Após revisão, o jogador número 6 comete falta grosseira. Retirar amarelo e mostrar cartão vermelho.