O Benfica apresentou lucros recorde no primeiro semestre do ano, muito por causa da transferência de João Félix, e também foi o único dos três chamados «grandes» a ter resultados operacionais positivos mesmo antes de entrarem nas contas as transações de jogadores, ainda que menores do que há um ano. Num período de perdas históricas do FC Porto e de lucro marginal do Sporting, todos aumentaram de resto os gastos operacionais, ainda que globalmente tenham diminuído os custos com pessoal. O FC Porto é de resto dos três aquele que mais perdeu nas receitas operacionais, o que tem maior passivo e maior dívida financeira, tendo sido também o que mais gastou em contratações no semestre em análise.

A última apresentação de contas foi do Benfica, que anunciou 104.2 milhões de euros de lucro, já depois de o FC Porto ter relatado prejuízos de 51.8 milhões e de o Sporting ter contabilizado 2.8 milhões de lucro. O Maisfutebol olhou para vários parâmetros de análise das contas, para uma comparação entre os três.

O olhar para as contas reforça a ideia da dependência dos clubes portugueses de receitas extraordinárias como são as transações de jogadores, mas também das receitas da UEFA, o que é por de mais evidente no caso do FC Porto neste semestre.

Resultados operacionais excluindo transações de passes de jogadores

Benfica: 8.280 (16.672)

FC Porto: -22.887 (32.893)

Sporting: -16.115 (-8.988)

O Benfica é o único que apresenta saldo positivo entre gastos e ganhos correntes, ainda assim metade do que conseguiu há um ano. No FC Porto a queda é enorme, explicada em boa parte pela quebra de receitas europeias, que significou uma diferença de mais de 50 milhões entre o saldo positivo em 32.8 milhões há um ano e os 22.8 negativos atuais. O Sporting também piorou, quase o dobro do resultado negativo de há um ano.

Gastos Operacionais (excluindo transações de jogadores)

Benfica: 93.643 (76.937 no período homólogo)

FC Porto: 75.345 (74.314)

Sporting: 59.682 (53.930)

Nas contas do Benfica há uma alteração substancial em relação a relatórios anteriores, passando as águias a apresentar dados individuais da SAD e não consolidados, como se lê logo no início da apresentação de resultados: «De referir que no presente período se concretizou a alienação das participações financeiras da Benfica Estádio e da Benfica TV à Benfica SGPS, pelo que a Sociedade deixou de apresentar demonstrações financeiras consolidadas.»

As águias são dos três aquele que tem mais gastos correntes, dos quais a maior fatia são tradicionalmente as despesas com pessoal e as verbas pagas por fornecimentos e serviços externos. No caso do Benfica é este último valor que aumenta significativamente em relação ao período homólogo de há um ano, bem como as rubricas «depreciações/amortizações» e «provisões/imparidades».

O FC Porto tem um aumento marginal, atribuível também ao aumento dos serviços externos, tal como no caso do Sporting, onde os gastos crescem mais.

Custos com pessoal

Benfica: 46.040 (47.396)

FC Porto: 43.543 (44.523)

Sporting: 35.090 (35.831)

Ainda que todos revelem diminuição marginal de custos globais com pessoal, há várias nuances. O Benfica, que revela ter tido neste período 107 jogadores e 36 treinadores sob contrato, aumentou as remunerações fixas, tanto em termos gerais como em relação aos órgãos sociais: Domingos Soares de Oliveira e Rui Costa passaram de 282 para 310 mil euros de ganhos. A redução deve-se ao menor valor das remunerações variáveis.

O Sporting foi o único que de facto reduziu nas remunerações, mas tem um enorme aumento das indemnizações por rescisões. Esse valor passou de 1.453 para 6.587 milhões, mas segundo os leões permitirá poupar 35 milhões, refletindo-se já uma parte desse valor no que resta desta época . As remunerações dos órgãos sociais também aumentaram, de 174 para 203 mil euros, explicando a SAD no relatório que isso não implica aumento global nas contas do ano, mas representa «um aumento em termos homólogos resultante da eleição do actual Conselho de Administração no decurso do exercício de 2018/19».

O FC Porto é dos três aquele que mais paga aos órgãos sociais, um total de 1.202 milhões este ano, valor ainda assim muito abaixo de há um ano, quando era de 2.522. No total os custos com pessoal baixam 980 mil euros, o que fica a dever-se, segundo o relatório, à «redução de gratificações pagas». Mas os gastos com técnicos e plantel aumentaram marginalmente, de 31.213 para 31.820.

Rendimentos operacionais, excluindo transações de jogadores

Benfica: 101.923 (93.699)

FC Porto: 52.458 (107.208)

Sporting: 43.568 (44.942)

É aqui o grande rombo do FC Porto, que perdeu quase metade dos rendimentos em relação ao mesmo período do ano passado. A grande fatia deve-se às receitas da UEFA, mas os dragões perderam dinheiro em quase todos os parâmetros, dos direitos TV à bilheteira ou ao merchandising.

O Benfica cresceu 8.8 por cento nas receitas correntes, comparando com as contas individuais da SAD de há um ano, enquanto o Sporting sofreu um decréscimo ligeiro.

Competições europeias

Benfica: 47.936 (50.1667)

FC Porto: 9.397 (60.822)

Sporting: 8.591 (10.122)

Olhando agora para a discriminação das receitas, vemos como o FC Porto perdeu mais de 50 milhões de euros em receitas da UEFA, por ter falhado o acesso à Liga dos Campeões. No Benfica a verba representa também a maior fatia das receitas e desceu ligeiramente em relação à época passada.

No Sporting é igualmente inferior e é por aqui que os leões explicam a diminuição global de receitas. Há um ano tinham um valor adicional de 1.310 milhões referentes ao «surplus da UEFA Champions League de 2017/18 pago e reconhecido em 2018/19, não existindo na corrente época».

Direitos televisivos

Benfica: 22.222 (21.789)

FC Porto: 18.148 (20.434)

Sporting: 13.010 (12.639)

O FC Porto é o único que perde neste campo, o que o relatório diz «dever-se exclusivamente ao facto de estas receitas serem influenciadas pelo calendário de jogos da equipa». Benfica e Sporting têm aumentos marginais, sendo esta rubrica dos direitos TV, no caso dos leões, a que mais contribuiu para os rendimentos operacionais.

Bilheteira

Benfica: 14.345 (7.222)

FC Porto: 4.287 (4.555)

Sporting: 7.344 (7.020)

O FC Porto também é o único que cai neste parâmetro, sendo igualmente aquele que menos ganha com bilhetes de época e bilheteira. Uma redução de 268 mil euros, que segundo os dragões «está relacionada com o calendário desportivo, tendo em conta o número de jogos e os respetivos adversários». O valor também não inclui os jogos de Taça de Portugal ou Taça da Liga, que entram na rubrica «outras receitas desportivas», num total de 687 mil euros, menos 234 mil que há um ano, rubrica essa que inclui ainda receitas de jogos de pré-época e da escola Dragon Force.

O aumento substancial do Benfica está relacionado com a inclusão nas contas da SAD das receitas «corporate», que são «comercializados pela Benfica Estádio e transferidos para a Benfica SAD» e que dizem respeito a camarotes, «executive seats» e Red Pass premium. Se os ganhos com bilhetes de época aumentam de 2.264 para 4.546, as receitas de jogos europeus e de campeonato têm ligeiro decréscimo, que as águias justificam com o facto de não ter havido jogos de play-off da Champions, por um lado, e por «se ter jogado em casa com apenas um dos denominados grandes», por outro.

O Sporting aumentou os ganhos, o que se explica por um acréscimo de receitas nos bilhetes de época (2.664 para 2.792 milhões) e camarotes (2.639 para 3.002).

Patrocínios e publicidade

Benfica: 10.476 (10.467)

FC Porto: 11.979 (11.519)

Sporting: 7.344 (7.020)

Todos aumentaram receitas neste capítulo. No caso do Benfica, se o aumento de patrocínios (o valor reproduzido acima) é marginal, há rubricas relativas a «atividades comerciais» que aumentam substancialmente o contributo para as receitas. Como o valor das «rendas de espaço», que passou de 2 mil euros para 1.286 milhões, ou a rubrica outras receitas, de 4.688, contra 3.074 há um ano. O valor de 10.476 milhões diz apenas respeito a patrocinadores. O valor total das «atividades comerciais» do Benfica, que englobam ainda royalties, é de 17.314 milhões, contra 14.296 há um ano.

O FC Porto tem o valor mais alto de «publicidade e sponsorização», o único item que melhora em relação ao período homólogo, a que se pode somar ainda o valor de 4.171 milhões de merchandising, que o relatório diz ter «como principal fornecedor a Warrior, marca New Balance», bem como 3.506 relativos a «outras prestações de serviços», no valor total de 18.153 milhões.

No caso do Sporting, além do aumento na rubrica «patrocínios e publicidade», é ainda contabilizado à parte o valor relativo à Loja Verde e «Distribuição/Retalho», no valor total de 3.336 milhões, bem como mais 1.913 milhões por «outras prestações serviços», num total de 12.593 milhões.

Os gastos e ganhos com transações de jogadores

Rendimentos com transação de passes

Benfica: 137.037 (29.635)

FC Porto: 19.149 (14.742)

Sporting: 47.957 (44.294)

É a grande fatia dos ganhos do Benfica, graças aos valores recorde da transferência de João Félix para o At. Madrid. O FC Porto apresenta valores ligeiramente mais altos que há um ano, num período marcado pelas transferências de Oliver Torres e Galeno. Quando ao Sporting, tem um valor substancialmente mais alto, e ligeiramente superior ao de há um ano, depois das transferências de Raphinha, Thierry Correia, Podence, Bas Dost, Félix Correia, Domingos Duarte e Iuri Medeiros.

Gastos com transações de passes

Olhando para as verbas gastas em contratações, o maior investimento foi do FC Porto, que contratou Zé Luís, Nakajima, Uribe, Luis Diaz, Marchesin e Marcano. Segue-se o Benfica, com as aquisições de Raul de Tomás, Vinicius, Morato e Chiquinho. O Sporting tem apenas a contratação de Eduardo neste período,.

Apresenta-se ainda os valores de custos com jogadores referidos nos relatórios para efeitos contabilísticos que dizem respeito a gastos com transações e amortizações por perdas de imparidade.

Benfica:

51.267 milhões em contratações

Gastos com transações+amortizações e perdas de imparidade: 13.034+15.592

FC Porto:

58.979 milhões em contratações

Gastos com transações+amortizações e perdas de imparidade: 20.631+16.586

Sporting:

4.772 milhões em contratações

Gastos com transações+amortizações e perdas de imparidade: 10.563+10.584

Passivo e dívidas financeiras

Quanto ao cenário macro, vemos como o FC Porto tem o maior passivo dos três, embora o Benfica também tenha aumentado. O Sporting foi o único a diminui-lo. Quanto a ativos, as contas das águias superam largamente os rivais, o que leva a que tenham um capital próprio de 223.4 milhões, o único positivo.

Capital próprio

Benfica: 223,4

FC Porto: 86.931 negativo

Sporting: 20.778 negativo

Passivo:

Benfica: 385.319 (364.619 em junho 19)

FC Porto: 444.526 (408.105 em junho 19)

Sporting: 304.074 (324.805 em junho 19)

Ativo

Benfica: 608.705

FC Porto: 357.595

Sporting: 283.297

Dívida financeira

Benfica: 143.824 (145.341 em junho 19)

FC Porto: 244.937 (222.164 em junho 19)

Sporting: 136.672 (149.758 em junho 19)

O último dado em análise reforça a situação negativa do FC Porto, aquele com maior dívida bancária e financeira - o que inclui empréstimos ou operações de factoring, como a antecipação de direitos TV, o que também acontece com o Sporting. Os dragões também aumentaram o valor da dívida, enquanto os leões diminuíram ainda assim o total, tal como o Benfica, que frisou no relatório ter vindo a diminuir a dívida.