João Félix é a cara e o corpo da épica reviravolta imposta pelo Benfica este domingo, na estreia de Bruno Lage no banco, depois do Rio Ave ter gelado o Estádio da Luz com dois golos em apenas três minutos.

A equipa da casa reagiu com o coração e chegou ao empate antes do intervalo, para consumar o volte-face na segunda parte com mais dois golos. Seferovic bisou, tal como João Félix que deixou o relvado sob tremenda ovação das bancadas da Luz. Depois do golo ao Sporting, este será outro jogo que o jovem médio não vai esquecer tão depressa.

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Ainda é cedo para se falar num Benfica de Bruno Lage, mas já se notaram algumas diferenças acentuadas em relação ao de Rui Vitória. A começar pelo sistema tático, com o regresso ao 4x4x2, com João Félix, a grande novidade no onze do novo treinador, bem adiantado no apoio direto a Seferovic que, esta tarde, rendeu o castigado Jonas. Este novo Benfica entrou em campo a derramar tranquilidade, sem pressa, procurando impor-se no relvado com posse de bola e obrigando o Rio Ave a abrir o seu jogo.

A ideia era clara, com a equipa bem aberta sobre o terreno, obrigava o Rio Ave também a abrir as suas linhas, a esticar a defesa e, desta forma, o Benfica teria espaço para jogar entrelinhas e furar o bloco vila-condense. Mas a verdade é que o Rio Ave, que entrou em campo com um bloco bem adiantado, adaptou-se rapidamente ao cenário que o Benfica procurou impor, pressionou bem alto e, num abrir e fechar de olhos, marcou dois golos que deixaram a Luz atónita.

Primeiro num lance desenhado por Gabrielzinho que proporcionou um remate cruzado a Vinicius. A bola não ia com a direção certa, ia sair pela linha de fundo, a defesa do Benfica desinteressou-se, mas Galeno, em esforço, recuperou-a e cruzou para a finalização do mesmo Gabrielzinho. Bola ao centro e, logo a seguir, novo golo do Rio Ave. Cruzamento largo de Mattheus Reis, com Bruno Moreira a elevar-se bem nas alturas e a antecipar-se à saída de Vlachodimos. Em dois tempos, o Rio Ave marcou dois golos. A Luz reagiu com assobios, numa primeira fase, mas logo a seguir redobrou o apoio à equipa.

O Benfica também reagiu de imediato, largando de vez o jogo paciente com que tinha entrado em campo, para impor muito mais intensidade no jogo. Estava-se agora a jogar com o coração. O burburinho nas bancadas alastrou-se ao relvado, a equipa soltou-se de amarras táticas e partiu com tudo para o ataque. Se o Rio Ave marcou dois golos em apenas três minutos, o Benfica precisou apenas de cinco para chegar ao empate. O primeiro golo resultou de uma abertura de Cervi que permitiu a Grimaldo descer pelo flanco e cruzar tenso. João Félix, com uma simulação determinante, deixou a bola passar por entre as pernas e Seferovic recebeu para finalizar à vontade.

O avançado foi buscar a bola ao fundo das redes, com o estádio em festa, levando toda a gente a acreditar que estava lançado o mote para a recuperação. O jogo estava agora mais intenso do que nunca. Seferovic estava endiabrado e, motivado pelo primeiro golo, desceu pelo flanco direito, levando tudo e todos à frente. Entrou na área e, pressionado por dois adversários, encontrou uma nesga para cruzar. Salvio não chegou, mas João Félix apareceu soltou para encher o pé para o empate. Nova explosão de alegria na Luz.

Ainda faltavam mais de dez minutos para o intervalo e o Benfica continuava a carregar com uma intensidade que o Rio Ave tinha extremas dificuldades em contrariar. Mesmo com Salvio a meio-gás, a equipa comandada por Bruno Lage conseguia agora surpreender em velocidade, com Cervi e Grimaldo em plano de destaque. A reviravolta esteve mesmo à vista em mais um remate de João Félix que passou a rasar o poste, mas o árbitro já tinha assinalado uma suposta falta de Seferovic.

Félix bisa e sai sob tremenda ovação

O Benfica voltou a entrar forte na segunda parte e esteve muito perto de marcar logo a abrir, num lance individual de Grimaldo que, feito Maradona, entrou na área em drible, passou por um, dois, três, quatro e cinco jogadores e, apenas com Léo Jardim pela frente, atirou em cheio ao poste. Pelo meio, o Rio Ave ia procurando explorar o adiantamento do adversário para tentar voltar a surpreender com transições rápidas e também podia ter marcado num lance individual de Galeno que morreu nas luvas de Vlachodimos. Bruno Lage trocou, então, Cervi, tal como Salvio muito apagado, por Zivkovic e, dois minutos depois, o sérvio cruzou da esquerda para Félix bisar no jogo com um desvio subtil junto ao primeiro poste. Estava consumada a reviravolta. Estava confirmado o herói da noite.

O jogo estava agora mais aberto do que nunca. O Rio Ave voltou a ameaçar o empate, mais uma vez com Galeno no lance, mas a defesa do Benfica resolveu e, na resposta, Seferovic também bisou na conclusão de um rápido contra-ataque conduzido por Pizzi. 

Seis golos e ainda faltavam vinte minutos para o final. Seguiu-se uma tremenda ovação para a saída de João Félix, rendido por Ferreyra, com a Luz rendida ao talento do jovem jogador. Com o estádio de pé, o médio saiu entre aplausos, visivelmente emocionado. Nesta altura o ritmo já estava em acentuada queda livre. Depois da saída de João Félix, o Benfica não voltou a rematar à baliza de Léo. O Rio Ave ainda provocou um ou outro sobressalto na área de Vlachodimos, mas a verdade é que o Benfica tinha o jogo sob total controlo.

Até ao final do jogo, além de Zivkovic, que ainda participou na reviravolta, Bruno Lage lançou ainda Ferreyra e, já nos últimos instantes, Krovinovic. Com este triunfo o Benfica regressa, à condição, ao segundo lugar da Liga.