O FC Porto venceu o Tondela por 4-3 e encurtou a distância para o primeiro classificado da Liga, o Sporting: quatro pontos. Na véspera do encontro, para demonstrar a importância da organização defensiva, Sérgio Conceição recordou que prefere vencer por 1-0 do que por 4-3. Percebe-se porquê. Os portistas venceram, é certo, mas deixaram sinais preocupantes no setor mais recuado.

Sofrer três golos do Tondela no Estádio do Dragão não é um detalhe de menor importância. A equipa beirã ainda não tinha feito algo assim na presente temporada e ficou a centímetros do quarto – seria o 4-4 – já em período de descontos, quando Khacef fez estremecer a trave.

A culpa não se esgota na defesa, esta noite com Sarr com maior réu, mas o comportamento dos jogadores portistas sem bola, para lá da zona de pressão ofensiva, precisa de ser revisto urgentemente. Sofrer 13 golos em nove jornadas é algo pouco habitual no clube azul e branco. Mérito para os visitantes, que nunca deixaram de acreditar, embora apresentem igualmente um registo defensivo modesto. Duas defesas de papel em confronto no Dragão.

11 jogos em 28 dias

O FC Porto ainda nem chegou a meio de um ciclo extremamente intenso de jogos, com várias decisões pelo caminho, como lembrou Sérgio Conceição após a derradeira pausa para os compromissos das seleções. Os dragões iniciaram frente ao Fabril um percurso com 11 jogos em apenas 28 dias, ainda com a possibilidade de disputar mais um ou dois, caso sigam em frente na Taça da Liga.

Até final de 2020, a equipa portista tinha de garantir o apuramento para os oitavos de final da Liga dos Campeões, seguir em frente na Taça de Portugal, disputar a Taça da Liga, a Supertaça de Portugal (a 23 de dezembro, frente ao Benfica) e encurtar distâncias para o primeiro classificado na Liga.

O FILME DO JOGO

Com maior ou menor dificuldades, a formação azul e branca tem superado os desafios. Não facilitou na Taça de Portugal, garantiu a presença na Taça da Liga e ganhou uma almofada de conforto na Liga dos Campeões com o apuramento à quinta jornada. Já neste sábado, mesmo perante um bravo opositor, aproveitou o empate do Sporting para encurtar a desvantagem para o líder do campeonato.

Sem arriscar a utilização de Jesús Corona, a debelar uma contusão, Sérgio Conceição desfez a linha de cinco defesas e reforçou o ataque com Luis Díaz e Taremi. O iraniano jogou na frente, Otávio surgiu a meio-campo e foi esta dupla a construir o primeiro golo do FC Porto, apontando por Zaidu.

Festival de golos no Dragão

Ao quarto minuto de jogo, Taremi arrancou em contra-ataque, cruzou atrasado para Otávio e o médio brasileiro resistiu à pressão no interior da área, servindo Zaidu para o 1-0 do lateral que já tinha marcado em Marselha.

O Tondela, que ajustou o seu 5x2x3 para um 5x3x2, demorou a entrar no jogo mas beneficiou do claro défice de qualidade defensiva do FC Porto para chegar ao empate e, inclusivamente, surpreender com a reviravolta completa. Primeiro, aproveitou uma perda de bola de Sérgio Oliveira, um erro de Sarr (foi atrás da bola e deixou fugir Mario González) e uma hesitação de Marchesín. Rafael Barbosa lançou o avançado espanhol e Mario González assinou o 1-1.

A equipa beirã começou a acreditar, os fantasmas pairaram sobre a cabeça dos jogadores portistas e o segundo do Tondela comprovou a audácia visitante. Um defesa-central (Enzo Martínez) subiu pelo flanco esquerdo, cruzou rasteiro e Rafael Barbosa, de ângulo apertado, rematou para o 1-2, com alguma responsabilidade para Marchesín. Era a confirmação de uma noite sem descanso para os campeões nacionais.

Moussa Marega aproveitou uma assistência involuntária de Luis Díaz para anular a desvantagem ainda na primeira parte e colocou o FC Porto na frente após excelente trabalho de Otávio na direita, ao minuto 49. Quando Mehdi Taremi fez o 4-2, a passe de Uribe (56m), a tranquilidade parecia resposta e Sérgio Conceição começou a mexer no meio-campo e no ataque. Porém, o problema continuava a resistir no processo defensivo.

Khacef ficou a centímetros do 4-4

Pako Ayestarán respondeu com Bebeto e João Mendes. Logo depois, o médio fugiu a Otávio para cruzar na esquerda e Mario González antecipou-se a Sarr para devolver a emoção ao encontro. Bis para o avançado cedido pelo Villarreal e um registo impressionante do Tondela no Dragão: três golos em apenas quatro remates (faria mais dois já ao cair do pano), o primeiro jogo em que fez três golos na época 2020/21.

O FC Porto voltou a sofrer em dose tripla, tal como havia sucedido na derrota frente ao Marítimo (2-3) e termina a 9.ª jornada com um número anormal de golos consentidos na Liga: 13, apenas inferior a três adversários na competição, ainda com a ronda a decorrer. Já ao cair do pano, após a expulsão de Uribe por acumulação de amarelos, Khacef ficou a centímetros da igualdade com um remate violento à trave. Um inqualificável suspiro de alívio para a equipa azul e branca.