Num dos retratos mais fiéis do futebol português – ironicamente apelidado de «tugão» – dos últimos anos, o Belenenses venceu o Arouca, por 2-1, em jogo da 17.ª jornada da Liga. Uma partida emocionante, sim, mas que não será recordada propriamente pelo bom futebol que se jogou certamente.

Mas primeiro, a explicação para o fiel retrato do «tugão».

Muito apito, pouca bola

Partida num domingo à noite, na véspera de iniciar-se mais uma semana, com uma equipa do Centro/Norte do país a jogar fora e outra, a da casa, a atravessar uma situação delicada de identidade. Uma mistura perfeita para a triste moldura humana que se viu nas bancadas do Jamor.

A juntar isso, dentro de campo, o futebol foi pouco. Basta dizer que aos 18 minutos já havia duas expulsões, uma para cada lado.

André Silva foi expulso logo aos seis minutos com recurso às imagens do VAR, num lance disputado com o guarda-redes Luiz Felipe. Aos 18m, foi a vez de Cafu Phete receber ordem de expulsão por acumulação de amarelos.

A primeira parte ainda não ia a meio, as oportunidades de golo eram nulas em ambas as balizas, mas a partida já estava debaixo de foco pelas piores razões. Muito apito, pouca bola.

Dabagh, a recompensa de Armando Evangelista

O Arouca viu-se então sem o seu avançado e principal goleador logo nos primeiros instantes, e Armando Evangelista foi ao banco buscar uma solução de recurso: Oday Dabagh.

E o avançado palestiniano recompensou o seu técnico com um golo aos 37 minutos que desequilibrou a balança para o Arouca, num primeiro tempo com, repetimos, pouca história para contar sobre a redondinha propriamente dita – Afonso Sousa, médio do Belenenses, foi o único a ameaçar verdadeiramente a baliza adversária.

Dabagh, herói e vilão

Em vantagem, o Arouca não escondeu ao que ia na segunda parte. A equipa de Armando Evangelista juntou-se com segurança lá atrás, e foi sempre explorando com perigo as transições ofensivas, perante um Belenenses que, naturalmente, foi tentando assumir mais as rédeas do jogo.

Foi em duas dessas situações que, inclusive, Arsénio e Dabagh estiveram perto do golo, sempre com Leandro Silva como protagonista no momento do passe.

Na defesa, os arouquenses não tiveram muitos sobressaltos, mesmo perante as tentativas de Afonso Sousa de desequilibrar no meio, até ao minuto 73. Perante uma bola bombeada para área, Safira desviou e Nilton, ao segundo poste, antecipou-se a toda a gente e empurrou em esforço para a baliza.

O cenário para os homens de Armando Evangelista já não era tão bom, mas viria a ficar pior. Dabgh, herói do 1-0, foi ingénuo perante Pedro Nuno, entrou mais duro e viu o segundo amarelo. Terceira expulsão da partida aos 78 minutos, numa altura em que já se registavam dez (!) amarelos.

Azul sorri fora de horas... outra vez

Com mais um pela segunda vez no jogo, o Belenenses apostou as fichas todos no último jogo. Só que o cansaço já era muito e o discernimento ia faltando nos homens orientados por Filipe Cândido. Tanto é assim que até foi o Arouca o último a ameaçar o golo, num remate à barra de Leandro Silva. Isto antes do golpe de teatro de Abel Camará ao minuto 90+3.

Nilton Varela, já decisivo no empate, teve crença até à linha de fundo e cruzou em esforço para a cabeça de Camará, que fez o 2-1 e provocou o delírio na comitiva do Jamor, «matando» um Arouca que pareceu sempre mais equipa, apesar das adversidades causadas pelo critério disciplinar do árbitro da partida.

O experiente avançado de 32 deu um colorido azul a um jogo emocionante, sim, mas nada bem jogado e muito atabalhoado. O tal retrato do estado atual do futebol português.

Prestes a dobrar a primeira metade do campeonato, o Belenenses recebe neste golo fora de horas um importantíssimo balão de oxigénio para o que vem aí. Lanterna-vermelha do campeonato, o conjunto azul consegue a segunda vitória no campeonato. Curiosamente, a primeira, frente ao Santa Clara, também tinha sido nos descontos. De falta de crença, ninguém os pode acusar.