«O futebol é uma orquestra. Quanto mais inspirados os jogadores estiverem, mais hipóteses tenham de tocar uma boa canção. Eles sabem tocar Mozart ou Verdi.»

Sim, Arsène Wenger, mas os jogadores também sabem desafinar. É impossível a música soar perfeita durante 90 minutos. O FC Porto interpretou a partitura na perfeição nos oito minutos iniciais e fez um golo delicioso: passe teleguiado de Corona para Taremi que amorteceu para o míssil de Toni Martínez.

O pior chegou depois. Os campeões nacionais perderam Corona, porventura, o maior maestro da orquestra por lesão. O mexicano saiu lesionado aos 19 minutos e no intervalo dirigiu-se para o balneário poiado em dois colegas ao intervalo em vésperas do Clássico.

 

Conceição chamou Francisco ao palco – estreia a titular pela equipa principal dos dragões -, mas este nunca conseguiu mostrar o incrível potencial que se lhe reconhece e acabou preterido por Díaz ao intervalo.

 

A música piorou, o espetáculo tornou-se cinzento, o que permitiu ao Famalicão interromper a melodia e começar a bater o pé. Depois de duas tentativas tímidas de Queirós – titular no regresso ao Dragão – e de Ugarte, acabou por ser Ivo Rodrigues a cometer uma pequena «traição» ao clube onde se formou. O extremo marcou um golaço de livre direto e empatou a partida aos 44 minutos.

 

O resultado era justo no final da primeira parte. O Famalicão teve mais remates que o FC Porto (quatro contra dois) e o mesmo número de cantos, perdendo na posse de bola. Para voltar a manter a distância pontual para o primeiro e terceiro classificados, os azuis e brancos precisavam de outra música, de preferência heavy metal.

 

A verdade é que o FC Porto recuperou a versão tocada na primeira parte e raramente concedeu tempo e espaço para o Famalicão construir. Uribe atirou por cima em excelente posição a passe de Taremi. Quiçá farto de assistir os companheiros, o iraniano usou a inteligência para ganhar a posição a Diogo Queirós na área e ser carregado em falta e depois, teve frieza para fazer o 2-1.  

 

A vantagem no marcador trouxe, naturalmente, um conforto que os dragões não haviam tido até então. Por outro lado, Ivo Vieira lançou Heri, Kraev e Anderson, substituindo os laterais, mas a equipa jamais se voltou a encontrar. O facto de o Famalicão ter sofrido o 3-1, da autoria de Grujic (estreia a marcar na Liga) após a entrada do avançado brasileiro, acabou por prejudicar as intenções do técnico.

 

O Famalicão teve, porém, o mérito de lutar até final agarrado às suas ideias e ainda reduziu nos descontos por Anderson. Não venceu nem pontuou, mas assustou o campeão nacional e mostrou que é uma das boas equipas da Liga e que, dificilmente, não estará presente na edição 2021/22. Por sua vez, o FC Porto já sabe que só poderá terminar o campeonato no pódio, mas precisa de tocar Mozart ou Verdi para assegurar a Champions e continuar na luta pelo título.