Numa noite fria de junho, em Vila do Conde, assistiu-se a um dos melhores jogos da Liga 2019/20. Houve grandes golos, reviravolta e vinte minutos absolutamente loucos e de inspiração pura. No final, o Rio Ave bateu o Sp. Braga por 4-3

Aviso: Segure-se bem para não perder o raciocínio, caro leitor.

O futebol tornou-se em espetáculo, com poucos protagonistas e muitos espetadores, e o espetáculo transformou-se num dos negócios mais lucrativos do mundo, que no fundo, parece feito para que ninguém brinque. Felizmente, ainda há, ainda que a amiúde equipas capazes de cometer o disparate de se soltarem.

Mais soltos que Rio Ave e Sporting Braga era impossível. Os vilacondenses foram mais fortes durante 21 minutos e estiveram perto de marcar por Taremi e Dala. No entanto, numa perda de bola de Al Musrati à saída do meio-campo defensivo, permitiu aos bracarenses desenharem o 1-0: Trincão conduziu e deixou de calcanhar para Horta, que deixou em Galeno. O cruzamento sobrou para Paulinho que bateu Kieszek.

Todos temos um plano até sofrermos o primeiro golpe, não é? Agora imagine sofrer dois golpes de rajada. Seis minutos após o primeiro golo, o Sp. Braga chegou ao segundo através do génio de Ricardo Horta. Que golo de livre direto!

A vantagem de 0-2 era tremendamente injusta, mas um prémio da eficácia minhota.

No entanto, nem a meio estávamos dos vinte minutos frenéticos. O Rio Ave manteve-se com mais posse de bola e com mais soluções para circular. E teve paciência. A jogada do 1-2 é sintomática: vários toques dos jogadores de verde e branco até Dala encontrar Nuno Santos e este servir de bandeja Taremi para um golo simples (34m).

Ainda se escrevia e descrevia o primeiro golo rioavista na bancada de imprensa, quando Nuno Santos fez uma autêntica obra de arte: um vólei sensacional que só parou no ângulo superior esquerdo da baliza contrária (36m). Porém, Nuno Santos ainda não tinha acabado: volvidos quatro minutos, tornou um cruzamento mau de Taremi numa assistência para Dala. O pontapé do angolano rente à relva saiu fortíssima e entrou na baliza de Matheus. 

Impressionante!

Clap. Clap.

As equipas já nem precisavam de voltar para a segunda parte. A primeira metade valeu por tantos outros jogos da Liga. Enfim, já tinham o nosso aplauso e agradecimento.

Naturalmente, a segunda parte foi distinta. O Rio Ave fez uma gestão inteligente da partida, guardou a bola e espreitou aumentar a vantagem no marcador. Dala assustou Matheus logo a abrir e Nuno Santos introduziu a bola na baliza do Sp. Braga, mas o lance foi anulado por falta de Diego Lopes sobre Esgaio.

Sp. Braga, quem te viu e quem te vê. Os bracarenses apenas conseguiram responder em transições e por pouco não chegaram ao 3-3 por Horta – valeu o corte de Monte. Além de um par de cantos, nada fazia prever o que aconteceu ao minuto 81.

O conjunto de Custódio vive mais da inspiração individual dos seus jogadores do que da ideia coletiva. Foi, pelo menos, o que pareceu esta noite. Trincão e Galeno imaginaram o lance e o brasileiro cruzou para o cabeceamento certeiro de Paulinho.

Mas este não foi um jogo normal. Tinha de ter um final louco e teve. Rolando, ainda nem tinha aquecido, travou o remate de Leandro com o braço. O VAR confirmou o penálti e Taremi fez o 4-3. 

Calma. Ainda houve mais. João Novais ficou perto de um regresso feliz a casa, mas Kieszek voou e travou o pontapé. 

Quantas vezes mendigamos na televisão ou nos estádios por jogadas ou jogos que nos prendam o olhar? E quando o bom futebol surge, só temos de agradecer e aplaudir. Portanto, obrigado Rio Ave e Sp. Braga.